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Tensão racial marca campanha para eleições legislativas nos EUA

Na Geórgia, a corrida é marcada por acusações dos democratas de que seus adversários buscam reprimir o voto da comunidade negra

EUA: tensão racial constitui um dos principais temas de campanha das eleições de metade de mandato da próxima terça-feira (Lawrence Bryant/Reuters)

EUA: tensão racial constitui um dos principais temas de campanha das eleições de metade de mandato da próxima terça-feira (Lawrence Bryant/Reuters)

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AFP

Publicado em 5 de novembro de 2018 às 10h46.

Última atualização em 5 de novembro de 2018 às 10h47.

Em meio ao mar de rostos brancos que aplaudiram com entusiasmo o presidente Donald Trump em um comício na Flórida na semana passada, June e seus dois amigos chamavam a atenção: eram os únicos negros visíveis na multidão.

A tensão racial nos Estados Unidos constitui um dos principais temas de campanha das eleições de metade de mandato da próxima terça-feira.

Neste contexto, a popularidade de candidatos da comunidade negra, como Andrew Gillum e Stacey Abrams, cresceu entre as minorias e ganhou o apoio de personalidades como Barack Obama e Oprah Winfrey.

June, uma secretária de 42 anos que não quis informar o sobrenome, insistiu em que Trump não é racista, descartando as críticas que o acusam do contrário: "O que eu sei é que ele defende os Estados Unidos, ele torna a América grande de novo, e é o que eu apoio."

Os demais negros presentes ao ato republicano eram, principalmente, vendedores ambulantes de mercadorias pró-Trump.

O restante dos cerca de 8 mil apoiadores presentes na última quarta-feira na Arena Hertz de Fort Myers, Flórida, que gritavam frases contra a rede de TV CNN e a favor da construção de um muro na fronteira, eram quase todos brancos. Alguns vestiam camisetas com a frase "Negros por Trump".

Uma pesquisa feita em julho pela Universidade Quinnipiac mostrou que 79% dos negros acreditam que Trump seja racista. Mas Stacy Pignatti, uma mulher branca de 46 anos, culpou Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos, pelo atual estado de tensão racial no país.

"Foi Obama que começou a fazer com que a tensão racial chegasse ao nível atual", afirmou à AFP. "Nunca foi assim."

Diante deste panorama, Gillum, na Flórida; Abrams, na Geórgia; e Ben Jealous, em Maryland - os três com agendas à esquerda do espectro democrata -, apostam em que se tornarão os primeiros governadores negros de seus respectivos estados.

"Os candidatos negros progressistas estão apostando em que os altos índices de reprovação de Trump entre os eleitores negros, somados à possibilidade de eles fazerem história, serão motivações suficientes para aumentar a participação eleitoral", escreveu Theodore Johnson, do Brennan Center for Justice.

Em um ato pró-Gillum na última sexta-feira, Obama encorajou a multidão, claramente diversa: "Não se desesperem. Votem!"

"A questão racial tem sido um tema desde o começo da campanha, não porque eu o introduzi", assinalou Gillum em entrevista na semana passada ao astro dos talk shows Trevor Noah.

Gillum lembrou que foi seu oponente, o republicano Ron DeSantis, que usou uma expressão que continha a palavra macaco, após vencer as primárias. O comentário foi tachado de racista, o que DeSantis negou, lembrando uma investigação de corrupção do FBI envolvendo Tallahassee, cidade da qual Gillum é prefeito.

"Isto é uma tentativa da campanha de Gillum de continuar distraindo a imprensa de seu envolvimento na investigação do FBI", publicou a campanha de DeSantis. Em resposta, Gillum disse que seu adversário "provavelmente oferece muita proteção a racistas, xenófobos e antissemitas". Este ping-pong marcou o tom da campanha.

As pesquisas apontam os dois candidatos como quase empatados, com uma leve vantagem para o democrata. DeSantis tem o apoio da majoritária população branca, dos cubanos conservadores e dos idosos. Se Gillum ativar o voto dos negros, hispânicos progressistas e jovens, poderá dar a volta por cima.

Segundo a analista política Susan MacManus, isto não é impossível. "O apoio aos temas sociais, raciais e de justiça econômica é maior entre os mais jovens, que, por sua vez, são racialmente mais diversos e mais inclinados a interagir com grupos de amigos diversos", disse à AFP.

Gillum e Stacey Abrams atraíram dois astros da TV e nomes emblemáticos da comunidade negra: Trevor Noah e Oprah Winfrey.

Esta semana, Noah apresenta seu programa em Miami, para mobilizar o voto das minorias, enquanto na semana passada Oprah convocou os negros a votar, ou, caso contrário, estariam "desonrando suas famílias, desrespeitando e ignorando o seu legado".

Na Geórgia, a corrida é marcada por acusações dos democratas de que seus adversários buscam reprimir o voto da comunidade negra.

"O ambiente atual é um ato entre Trump e Obama; a maneira como derivou o discurso, a forma como as pessoas falam sobre raça agora", comentou o senador Perry Thurston, membro do "caucus" negro da Legislatura da Flórida. "É um tema delicado, e é doloroso. Mas é bom trazê-lo à tona e falar sobre estes assuntos", disse à organização Politico.

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