Monges caminham em um templo de Pequim; o governo confirmou nesta quarta a morte de um manifestante no Tibete (AFP, Mark Ralston)
Da Redação
Publicado em 25 de janeiro de 2012 às 10h58.
São Paulo - As autoridades chinesas reconheceram nesta quarta-feira a morte de um manifestante nas áreas tibetanas da província de Sichuan (sudoeste), que tiveram suas comunicações cortadas, em um ambiente de tensão crescente.
Os mais graves confrontos desde 2008 na região levaram o governo tibetano exilado na Índia a pedir à comunidade internacional que intervenha para "impedir um novo banho de sangue".
Sichuan, localizada próximo à Região Autônoma do Tibete, conta com uma grande população de etnia tibetana, que desde segunda-feira realiza manifestações reprimidas com violência, com um número de vítimas que varia de acordo com as fontes.
Essa província também tem sido cenário da maior parte das 16 imolações ou tentativas de imolação com fogo por parte de monges budistas tibetanos desde março de 2011 em protesto contra a repressão à liberdade religiosa.
Já no início da semana, folhetos que circulavam pela região indicavam que mais tibetanos de Sichuan estavam prontos para se imolar. Na segunda-feira, as forças de segurança atiraram em manifestantes "desarmados" e deixaram pelo menos seis mortos nas imediações do monastério de Drakgo, no município de Ganzi, segundo exilados tibetanos e organizações não-governamentais.
Posteriormente, Pequim confirmou um manifestante morto pela polícia, e mencionou que um grupo atacou os agentes policiais com pedras. Na terça-feira os problemas continuaram: a polícia chinesa matou entre dois e cinco tibetanos no mesmo município, segundo informaram a organização não-governamental Free Tibet e a rádio americana Free Asia.
A agência Nova China (Xinhua) confirmou nesta quarta-feira que a polícia tinha matado um "provocador" na véspera, quando manifestantes tibetanos tentavam invadir uma delegacia.
"A polícia foi obrigada a abrir fogo, matando um provocador e ferindo outro", informou a agência.
A Xinhua mencionou declarações de um oficial da polícia, que contou que os manifestantes tinham atacado a delegacia de Changguan, na cidade de Seda, com "garrafas de gasolina, facas e pedras".
"Também atiraram em nós e, por isso, temos 14 policiais feridos", disse a mesma fonte. A polícia alega que atirou depois de tentar apaziguar a situação.
Nesta quarta, era extremamente difícil entrar em contato com moradores de Ganzi. Em Seda, era difícil entrar em contato até com as autoridades locais e com a polícia.
Na segunda e na terça-feira, a AFP tinha conseguido entrar em contato com os monges do monastério de Drakgo, mas nesta quarta a comunicação com esse local era impossível.
Os telefones da polícia e da Prefeitura em Luhuo estavam constantemente ocupados, assim como os de todos os hotéis e restaurantes do distrito vizinho de Dafu, sugerindo que todas as comunicações telefônicas foram cortadas.
O governo de Pequim afirma garantir aos tibetanos a liberdade de religião e suas práticas culturais. A China indica que "libertou pacificamente" o Tibete em 1951 e melhorou a vida dos tibetanos com fundos para o desenvolvimento econômico desta região pobre e isolada.
O regime comunista também denuncia o Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos, como um líder "separatista".
O primeiro-ministro do governo tibetano no exílio, Lobsang Sangay, pediu que a comunidade internacional leve a questão a sério.
A comunidade internacional não pode "permanecer passiva" e é "hora de intervir para impedir um novo banho de sangue", declarou o dirigente em um comunicado.