Ali Khamenei, líder supremo do Irã, em imagem de arquivo (AFP)
Redação Exame
Publicado em 21 de junho de 2025 às 13h15.
Temendo um possível assassinato, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, está se comunicando com seus comandantes apenas por meio de um assessor de confiança e suspendeu o uso de meios eletrônicos para dificultar sua localização. A informação foi revelada por três autoridades iranianas com conhecimento dos planos de emergência em curso e divulgada neste sábado, 21, pelo The New York Times.
Segundo o jornal norte-americano, refugiado em um bunker, Khamenei já nomeou substitutos em diferentes níveis da cadeia de comando militar, em caso de novas baixas entre seus principais auxiliares.
Além disso, e, de forma inédita, indicou três clérigos como possíveis sucessores ao cargo de líder supremo, caso seja morto. A autoridade máxima do Irã não é seu presidente, Masoud Pezeshkian, mas sim Khamenei, que ocupa o cargo desde 1989.
Khamenei, um veterano da guerra contra o Iraque (1980-1988), não viaja ao exterior desde que assumiu o cargo há 36 anos e, em 1981, sobreviveu a uma tentativa de assassinato que deixou seu braço direito paralisado.
Ali Khamenei enfrentou uma infinidade de momentos críticos à frente da República Islâmica, mas o conflito aberto com Israel representa sua prova mais difícil, pois ameaça tanto o sistema político que ele dirige quanto sua integridade física.
As medidas emergenciais foram adotadas após Israel lançar uma série de ataques-surpresa contra o Irã na última sexta-feira. Segundo fontes iranianas, essa ofensiva é a mais intensa desde a guerra entre Irã e Iraque, nos anos 1980.
Teerã tem sido o principal alvo, sofrendo em poucos dias mais danos do que durante todo o conflito contra Saddam Hussein. Em resposta, o Irã reorganizou rapidamente suas forças e passou a lançar ataques diários contra alvos israelenses, incluindo um hospital, uma refinaria em Haifa, prédios religiosos e residências.
Informações obtidas pelo jornal apontam que diante da escalada, autoridades iranianas relatam que Khamenei ordenou que a Assembleia de Peritos — órgão responsável por escolher o líder supremo — esteja preparada para nomear seu sucessor com agilidade, a partir dos três nomes que ele indicou.
Em tempos normais, esse processo pode levar meses, mas a guerra exige uma transição rápida.
Entre os nomes cogitados, não está Mojtaba Khamenei, filho do aiatolá e figura próxima à Guarda Revolucionária, tampouco o ex-presidente Ebrahim Raisi, que morreu em um acidente de helicóptero em 2024.
Além dos bombardeios aéreos israelenses contra bases militares, instalações nucleares e infraestrutura energética, autoridades iranianas também apontam para um segundo fronte: o de operações secretas com drones e sabotagens promovidas por agentes infiltrados dentro do país. A possibilidade de infiltração nos altos escalões da segurança nacional abalou até mesmo Khamenei.
As consequências são severas: centenas de mortos, milhares de feridos e parte significativa da liderança militar do país eliminada em questão de horas. Um conselheiro do presidente do Parlamento, Mahdi Mohammadi, chegou a admitir em gravação que “nossos principais comandantes foram assassinados em menos de uma hora”.
O Ministério da Inteligência impôs novos protocolos de segurança: proibição de uso de celulares e qualquer dispositivo eletrônico por autoridades, ordens para que todos os altos funcionários permaneçam em áreas subterrâneas e campanhas públicas pedindo que cidadãos reportem qualquer comportamento suspeito.
O país também vive um apagão virtual: a internet foi praticamente desligada, chamadas internacionais estão bloqueadas e conteúdos sensíveis são censurados. “Estamos preservando a segurança nacional ao cortar o acesso à internet”, justificou o diretor de comunicação da presidência, Ali Ahmadinia.
Na sexta-feira, 20, o Conselho Supremo de Segurança Nacional foi além e anunciou que qualquer cidadão colaborando com o inimigo deve se entregar até o final do domingo, 22, entregando equipamentos militares. Caso contrário, enfrentarão pena de execução.
Após ordens israelenses para evacuação de áreas densamente povoadas, Teerã apresenta ruas vazias e controle rígido nas saídas da cidade. Postos de controle foram instalados em todas as rodovias.
Apesar do medo, os ataques israelenses provocaram um sentimento de união entre os iranianos.
“As divisões internas foram suavizadas”, disse Mohammad Ali Abtahi, ex-vice-presidente do Irã. A população tem demonstrado solidariedade: hotéis e salões de festa abrigam refugiados gratuitamente, supermercados oferecem descontos, e padarias limitam a venda de pães para atender a todos nas filas.
Em meio à crise, até opositores do regime têm defendido o país. Narges Mohammadi, vencedora do Nobel da Paz e uma das principais ativistas iranianas, declarou à BBC: “A democracia não virá por meio da violência e da guerra.”