Mitt Romney em campanha: o Tea Party tem também divergências com o próprio Mitt Romney, que será nomeado candidato à Presidência pelos republicanos (Bryce Vickmark/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2012 às 17h20.
Washington - O movimento ultraconservador Tea Party chega à convenção republicana da próxima semana na Flórida com mais peso no partido e mais aliados-chave na cúpula da formação, como o candidato à Vice-Presidência, Paul Ryan.
Pela primeira vez desde sua aparição em 2009, em plena crise financeira nos Estados Unidos, o Tea Party, movimento civil que luta por uma menor intervenção do governo na economia, poderá medir sua força em uma convenção do partido.
Figuras da velha guarda republicana, como o candidato presidencial de 2008 e senador John McCain, são inimigos declarados do Tea Party, que já impôs parte de sua agenda em temas como o aborto, a educação, a sexualidade ou a economia.
O Tea Party tem também divergências com o próprio Mitt Romney, que será nomeado candidato à Presidência pelos republicanos no fechamento da convenção, e que o grupo considera progressista demais. Mesmo assim, o movimento conta cada vez mais com aliados na cúpula da formação.
No domingo, véspera do início da convenção em Tampa (Flórida), membros do Tea Party, como a deputada Michele Bachmann, convocaram uma concentração para tentar aparecer como um grupo único e independente.
Algumas figuras do Tea Party serão oradores principais na convenção, como Ted Cruz, o cubano-americano que este mês ganhou a candidatura republicana ao Senado pelo Texas e o senador Rand Paul, filho de Ron Paul, um "libertário" contrário à intervenção do Estado.
Esses políticos demonstram a força do movimento e seu sigiloso avanço na hierarquia republicana, alimentado pelo descontentamento de um grande número de eleitores decepcionados com as duas grandes formações políticas no país: republicanos e democratas.
Ao mesmo tempo que Romney não tem as melhores relações com o Tea Party, seu candidato a vice-presidente, Paul Ryan, não esconde sua simpatia com o grupo e compartilha com eles a visão econômica de reduzir a despesa social para diminuir o déficit.
Também quer acabar com políticas que considera do modelo "socialista à europeia", como a reforma da saúde aprovada pela Casa Branca, que na sua opinião vai quebrar o país.
No entanto, o Tea Party não parece querer escândalos nem pôr em risco as possibilidades de Romney chegar à Casa Branca. A prova desse cuidado é a pressa com que o Tea Party Express, o maior comitê de ação política vinculado ao grupo, pediu ao congressista Todd Akin que abandonasse sua campanha de senador, apesar do polêmico político conservador ser uma de suas apostas.
Akin levantou uma tempestade política no domingo ao afirmar que uma mulher que sofreu estupro tem mecanismos naturais para não engravidar, por isso o aborto não seria justificado.
Amy Kremer, a presidente do Tea Party Express, não se concentrou demais na "infeliz" declaração, mas na necessidade de ganhar essa candidatura ao Senado, algo que "será muito difícil com Todd Akin como alternativa conservadora".
"Akin deve renunciar e dar aos conservadores uma oportunidade de recuperar o Senado em novembro", disse Amy.
Embora se descreva como um movimento popular do americano médio, sem interesses ocultos como os políticos de Washington, o Tea Party conta com o apoio de fortunas como as dos irmãos Koch, umas das maiores fontes de financiamento dos republicanos.
David e Charles Koch, através de seu super PAC "Americans for Prosperity", encheram o Tea Party de dólares, que com financiamento suficiente e o apoio político que pode conseguir nesta convenção poderia ter poder decisório no Partido Republicano.
O Tea Party emergiu em 2009 por iniciativa de núcleos de eleitores jovens "idealistas" preocupados com a economia, defensores de um ferrenho controle de gastos públicos, pouca presença do Estado e baixos impostos.
Retratado inicialmente como um grupo marginal, atraiu um variado leque de radicais mas, sobretudo, muitos cidadãos comuns, membros de uma classe média menos furiosa com o exagerado gasto público e a burocracia, gente que, segundo a jornalista Kate Zernike, autora de um livro sobre o movimento, poderia ser "seu vizinho ao lado".