Yakuza: comunidade de tatuadores e os amantes desta arte começaram a se mobilizar contra as proibições do uso de tatuagem (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
EFE
Publicado em 8 de agosto de 2017 às 10h52.
Tóquio - No Japão, as tatuagens ainda são consideradas como um símbolo da máfia Yakuza, apesar de cada vez mais japoneses e estrangeiros se tatuarem por motivos meramente estéticos e atraídos por esta arte milenar.
Muitos turistas que visitam o país asiático se surpreendem ao ver cartazes de "proibido tatuagens" em ginásios, piscinas, balneários e praias, onde é impedido o acesso de pessoas tatuadas ou é exigido que os desenhos sejam cobertos com roupas ou bandagens.
A comunidade de tatuadores e os amantes desta arte começaram a se mobilizar contra essas proibições, cujas origens remontam ao período Edo (1603-1868), e tentam mudar a percepção ainda generalizada no Japão das pessoas tatuadas como criminosos ou marginais.
"Quem não tem tatuagens ou não sabe apreciá-las costuma vinculá-las à 'Yakuza', mas ambas as coisas não têm nada a ver", disse à Agência Efe Horimitsu, um dos tatuadores mais respeitados de Tóquio, que usa a técnica "tebori" (à mão e sem máquinas).
Desde que abriu seu estúdio no bairro de Ikebukuro, há 15 anos, este "horishi" (tatuador) recebe um número crescente de estrangeiros - entre eles celebridades como os músicos Katy Perry e John Mayer -, que já representam metade da sua clientela.
"Acredito que a tatuagem à mão é mais valorizada no exterior do que no Japão (...) Aqui ainda é considerada uma prática 'underground' (clandestina)", explica Horimitsu, que destaca a nitidez e a duração das cores como vantagens da sua técnica tradicional frente à mecânica.
Entre seus clientes estrangeiros estão Alessandro Mannucci e Caterina Lillo, um casal de italianos que viajou ao Japão especificamente para tatuar em seu estúdio um "tanuki" (mamífero autóctone similar ao guaxinim) e um "kitsune" (raposa), dois animais do folclore japonês.
"Adoramos o Japão e gostamos de tatuagens. Acredito que (Horimitsu) é o melhor tatuador que existe, gostamos muito do seu estilo, então decidimos vir aqui e tatuar lado a lado", contou Mannucci à Efe com a tinta recém-inserida em sua pele.
A prática do "irezumi", como é conhecida a tatuagem no Japão, é restringida pela obrigatoriedade de contar com uma licença de um médico para um "tattoo studio" funcionar, uma norma que Horimitsu classifica como "ilógica".
A plataforma Save Tattoing (Salve a Tatuagem, em tradução livre) está coletando assinaturas para pedir ao governo uma mudança legislativa em linha com outros países desenvolvidos, onde os tatuadores devem ter uma licença que garante o cumprimento de padrões de segurança e higiene.
Um dos promotores da plataforma, o tatuador de Osaka Taiki Matsuda, levou a norma aos tribunais por considerar que ela criminaliza a profissão e ameaça jogá-la na clandestinidade, após seu estúdio em Osaka (oeste) ter sido alvo de uma operação policial.
Esta situação chama ainda mais a atenção se for levado em conta o declínio da máfia japonesa, cujos membros, que costumavam exibir suas tatuagens como motivo de orgulho e identidade, mantêm um perfil cada vez mais discreto perante a pressão crescente das autoridades.
As origens do "irezumi" são muito anteriores ao seu uso por parte da Yakuza, que se apropriou destes desenhos corporais por suas conotações de rebeldia e pelos poderes mágicos supostamente possuíam.
Acredita-se que as tatuagens são usadas no Japão por motivos rituais e decorativos desde o paleolítico, e posteriormente começaram a ser usadas em alguma parte do país para marcar os criminosos, prática que se estenderia até a época Edo.
O florescimento artístico desta prática aconteceu exatamente nessa era através das conhecidas gravuras "ukiyo-e", já que muitos tatuadores também faziam os desenhos "do mundo flutuante", reflexos de uma época marcada pelo hedonismo e pelo prazer estético.
As tatuagens então eram comuns entre prostitutas, bombeiros, estivadores e outras profissões consideradas de baixo nível social, e eram escondidas por baixo das roupas porque eram proibidas por suas conotações criminosas e por razões de decência pública.