Mundo

Tarifas de Trump 'sempre foram instrumento para dialogar', diz porta-voz do Departamento de Estado

Amanda Roberson diz, em entrevista à EXAME, que líder americano demonstrou otimismo com Brasil e que cabe à Lula definir quais temas levará para a próxima conversa

Donald Trump, presidente dos EUA, durante discurso na ONU (Timothy Clary/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA, durante discurso na ONU (Timothy Clary/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 24 de setembro de 2025 às 13h09.

Última atualização em 24 de setembro de 2025 às 20h05.

A imposição de tarifas de importação por parte do presidente americano Donald Trump é um instrumento para abrir negociações, e as palavras ditas ontem pelo líder americano demonstram otimismo na relação com o Brasil, disse Amanda Roberson, porta-voz do Departamento de Estado para a América Latina.

"O presidente Trump sempre falou que as tarifas, com o Brasil e com qualquer país do mundo, são uma ferramenta para dialogar, negociar os novos acordos que refletem a modernidade dos mercados hoje e que beneficiam os dois lados", disse Roberson, em conversa exclusiva com a EXAME.

"Agora, o presidente Trump está bastante aberto às negociações, então vamos ver se as tarifas poderiam ser um dos temas que eles vão tocar na sua futura reunião", afirmou.

Na terça-feira, 23, Trump teve um encontro breve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Assembleia Geral da ONU, no qual eles conversaram por menos de um minuto.

"O presidente Trump e o presidente Lula tiveram um encontro espontâneo aqui nos bastidores da ONU, ontem. Eles tiveram uma conversa breve, boa, positiva, e concordaram em ter uma reunião nos próximos dias", disse Roberson.

A porta-voz disse que os temas a serem tratados no próximo encontro estão sendo definidos.

"Para uma reunião desta escala, entre dois líderes mundiais, há um processo diplomático para as duas equipes concordarem nos detalhes, de onde vai ser e quais vão ser os temas. Esperamos ver mais detalhes sobre a reunião nos próximos dias. Essa informação estará saindo da Casa Branca", afirmou.

Veja a seguir outros trechos da conversa:

O governo americano vem pressionando muito o Brasil nos últimos meses, em relação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e às tarifas comerciais. Houve de fato uma mudança de postura nos Estados Unidos a partir dessa conversa? O que muda após esse primeiro contato entre os dois presidentes?

O presidente Trump sempre falou que as tarifas, com o Brasil e com qualquer país do mundo, são uma ferramenta para dialogar, negociar os novos acordos que refletem a modernidade dos mercados hoje e que beneficiam os dois lados. Agora o presidente Trump está bastante aberto às negociações, então vamos ver se as tarifas poderiam ser um dos temas que eles vão tocar na sua futura reunião.

Que pontos o Brasil poderia levar aos EUA para avançar as negociações?

Depende do presidente Lula [definir] quais temas ele vai querer colocar na agenda. Geralmente, quando tem um encontro diplomático desta escala, os dois lados falam antes para concordar sobre quais temas vão estar na reunião. Então, imagino que este processo está acontecendo agora e vamos ver quando acontecer a reunião, quais temas eles vão tocar.

Há também uma investigação que os Estados Unidos abriram, pela Seção 301, sobre possíveis práticas desleais do Brasil. Quais são as expectativas para essa investigação? Há alguma previsão de quando ela vai ser concluída?

O secretário Marco Rubio já deixou muito claro, através das suas mensagens nas suas redes sociais, as nossas posições sobre o Brasil, sobre as medidas, sanções e investigações. Mas, outra vez, quero voltar ao espírito de diálogo e de abertura que a gente pode ver aqui nas Nações Unidas. O presidente Trump deixou muito claro que os Estados Unidos estão disponíveis, estão abertos a dialogar com os diferentes países no mundo. E, de fato, convidamos todos os países a trabalharem conosco para abordar os maiores problemas hoje.

Haveria espaço para rever as sanções aplicadas contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, no meio dessa negociação?

Isso seria decisão das autoridades dos Estados Unidos. Como falei, ainda não sabemos quais vão ser os temas nesta reunião. Depende dos dois lados. Depende do presidente Trump, da sua equipe, que se encarrega da diplomacia, de quais temas querem colocar na mesa para esta reunião. Mas o lado brasileiro também tem o mesmo trabalho de decidir como vai entrar nessa reunião, quais temas quer colocar na mesa. Assim funcionam as discussões diplomáticas.

Como vê o futuro da relação entre os dois países, neste contexto tão desafiador?

O Brasil e os Estados Unidos têm uma amizade longa, uma relação bilateral muito ampla que existe há mais de 200 anos. Agora estamos no momento em que vamos ver qual vai ser o futuro da relação. Mas as palavras do presidente Trump ontem refletem um sentido de otimismo. Ele mesmo falou que gostou muito do presidente Lula e acredita que eles podem ter uma conversa produtiva. Agora, vamos ver nestes dias como essa reunião vai se desenvolver.

O presidente Trump tem pressionado muito a Venezuela nas últimas semanas, inclusive com ataques a embarcações na costa do país. Quais são as próximas ações que se podem esperar em relação ao governo da Venezuela, por parte do governo americano?

O presidente Trump tem sido muito claro na sua posição sobre a Venezuela. Nicolás Maduro não é o líder legítimo da Venezuela. Ele é o chefe de uma das organizações terroristas da região. Isso nos dá a oportunidade e a responsabilidade de utilizar todas as medidas à nossa disposição para acabar com a violência na nossa região. Essas organizações estão causando problemas para os nossos povos nos Estados Unidos, no Brasil e em todos os países da região. Estamos sofrendo por causa dessas organizações criminosas. E agora os Estados Unidos vão usar nossas ferramentas para acabar com esses grupos criminosos.

Haveria alguma ação prevista contra grupos criminosos no Brasil?

Obviamente, os grupos criminosos no Brasil são um problema enorme para o Brasil e para a região também. O secretário Rubio foi muito claro de que qualquer tipo de organização criminosa, de drogas, de pessoas, de armas, é bem preocupante para os Estados Unidos, para a região, e é por isso que aqui, nesta semana, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a segurança é uma prioridade muito alta para os Estados Unidos, especialmente falando sobre nossa região da América Latina. Precisamos de parceiros como o Brasil para abordar essas crises e vamos continuar trabalhando assim.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)Luiz Inácio Lula da Silva

Mais de Mundo

Coreia do Norte mantém produção nuclear ativa, afirma Seul

Autoridade palestina discursa na Assembleia Geral da ONU nesta quinta-feira, 25

Chumbo, arsênio e cianeto: nuvem tóxica contaminou casas que resistiram a incêndios em Los Angeles

Lula diz que abordará guerra da Ucrânia com Trump: ‘Quem sabe nossa química seja levada ao Putin’