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Tarifas de Trump podem gerar inflação nos alimentos nos EUA e desestabilizar mercados

México, Canadá e China representam cerca de metade de todas as exportações agrícolas americanas

Carolina Ingizza
Carolina Ingizza

Redatora na Exame

Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 10h32.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2025 às 11h14.

As tarifas alfandegárias anunciadas pelo presidente americano Donald Trump para alguns dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos devem resultar em inflação no preço dos alimentos e em desestabilização dos mercados. 

Trump estabeleceu tarifas de 25% para produtos importados do Canadá e do México, bem como tarifas de 10% sobre produtos chineses. Como resposta, os governos desses países já anunciaram as primeiras medidas de retaliação aos Estados Unidos.

O problema é que quase metade das exportações agrícolas dos Estados Unidos são destinadas ao México, Canadá e China. O país também está cada dia mais dependente dos seus vizinhos da América do Norte para frutas e vegetais.

As novas tarifas americanas e as medidas de retaliação dos parceiros comerciais devem reduzir as vendas externas americanas e aumentar os custos de produção dos agricultores do país. Como resultado, os consumidores americanos deverão encontrar preços mais altos nos supermercados.

Impacto das tarifas

Levantamento da Bloomberg indica que frutas e vegetais devem ser uma das categorias mais afetadas pelas tarifas impostas por Trump. Em 2023, quase 90% das importações de vegetais frescos dos EUA vieram do México e do Canadá.

Os países também foram responsáveis por mais da metade das remessas de frutas frescas enviadas aos Estados Unidos, de acordo com o Departamento de Agricultura do país.

Na agricultura, os Estados Unidos são altamente dependentes do potássio canadense: cerca de 85% do total necessário para fabricação de fertilizantes é importado do país vizinho.

Segundo análise da Bloomberg Intelligence, os agricultores americanos provavelmente pagarão entre US$ 60 a US$ 80 a mais por tonelada de fertilizantes de potássio e amônia neste ano.

As tarifas também devem afetar as indústrias que dependem de oleaginosas, que vão desde fabricantes de molho para salada até produtoras de diesel renovável. Os EUA representaram mais de 90% das exportações de óleo de canola do Canadá em 2023, de acordo com o Departamento de Agricultura americano. 

Os custos de construção também devem subir. Mais de 70% das importações americanas de madeira macia e gesso, materiais usados nas paredes de drywall, vêm do Canadá e do México. 

Com as medidas de retaliação, as exportações americanas também estão em xeque. O México, por exemplo, é o maior comprador de milho e carne suína dos EUA. Só em 2024, o país latino-americano importou quase 19 milhões de toneladas de milho americano. 

Já a China é a principal compradora mundial de soja. Na última guerra comercial com os americanos, os chineses reduziram suas compras de soja dos EUA em 79% nos dois primeiros anos do mandato de Trump. Uma repetição da estratégia agora prejudicaria os agricultores americanos.

Qual é o volume de comércio entre EUA e China?

O comércio entre a China e os Estados Unidos totalizou mais de 530 bilhões de dólares (cerca de R$ 3,2 trilhões na cotação da época) durante os primeiros 11 meses de 2024, de acordo com Washington.

No mesmo período, as exportações chinesas para os Estados Unidos somaram mais de US$ 400 bilhões (R$ 2,4 trilhões), segundo dados americanos, o que torna a China o segundo maior parceiro comercial do país americano, atrás do México.

A China também é um importante fornecedor de produtos eletrônicos, roupas e têxteis para os Estados Unidos, de acordo com o Peterson Institute of International Economics (PIIE).

Porém, há um enorme desequilíbrio e o déficit comercial com o país asiático chegou a 270 bilhões de dólares (R$ 1,6 trilhão) durante os primeiros 11 meses de 2024, segundo dados dos EUA.

A alfândega chinesa calcula o valor em US$ 361 bilhões (R$ 2,1 trilhões) para todo o ano.

A China foi acusada de dumping (venda de produtos a preços artificialmente baixos fora do mercado interno) devido ao apoio do Partido-Estado chinês à sua indústria e seu tratamento desproporcional às empresas americanas presentes no país.

No entanto, a economia chinesa continua altamente dependente das exportações.

O que aconteceu durante o primeiro mandato de Trump?

Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses.

Os Estados Unidos exigiam um melhor acesso ao mercado chinês, sob drástico controle estatal e onde as empresas nacionais têm preferência.

Pequim respondeu com impostos sobre as importações dos EUA, que afetaram principalmente os agricultores americanos.

Após longas e difíceis negociações, os dois países concluíram uma trégua em 2019 com um acordo comercial denominado "Fase 1".

A China se comprometeu a importar US$ 200 bilhões (R$ 806 bilhões, na cotação da época) em produtos dos EUA, incluindo US$ 32 bilhões (R$ 128 bilhões) em produtos agrícolas e frutos do mar.

No entanto, especialistas dizem que as metas não foram cumpridas, em parte por causa das consequências da pandemia de covid-19.

Com informações de AFP

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