Mundo

Tarifas de Trump contra China causaram bilhões em perdas, diz Fed

Exportadores não reportaram valor correto de vendas para China de modo a garantir benefícios tributários. Perda para o governo americano foi de US$ 10 bilhões em receita, segundo análise do Fed

Bolsa de Xangai: americanos ainda estão abaixo da meta de importações chinesas (Aly Song/Reuters)

Bolsa de Xangai: americanos ainda estão abaixo da meta de importações chinesas (Aly Song/Reuters)

B

Bloomberg

Publicado em 24 de junho de 2021 às 06h00.

No início de 2020, uma discrepância muito improvável começou a aparecer nos dados do comércio global: a China disse que estava vendendo mais produtos aos Estados Unidos do que o governo americano informava comprar da China.

Foi uma reversão de padrão e produto da guerra comercial entre os dois países, mas não uma consequência intencional. Provavelmente, foi resultado de relatórios incorretos de exportadores da China e importadores dos EUA, segundo nova pesquisa de economistas do Federal Reserve.

  • O mundo está mais complexo, mas dá para começar com o básico. Veja como, no Manual do Investidor 

Empresas nos Estados Unidos poderiam pagar menos tarifas se registrassem um valor mais baixo para mercadorias importadas da China, enquanto companhias chinesas poderiam obter maiores descontos no imposto de valor agregado se divulgassem um valor mais alto das exportações, argumentam os economistas.

Normalmente, o valor de importação quando uma mercadoria entra em um país deve ser maior do que o preço quando o mesmo produto sai de outro país. Isso porque os preços de importação geralmente incluem o custo de frete e seguro, enquanto as exportações, não.

Até fevereiro de 2020, esse era o caso do comércio bilateral EUA-China: mercadorias chinesas importadas pelos Estados Unidos sempre eram avaliadas com preço superior às exportações da China para o mercado americano. No entanto, desde março, o oposto ocorreu em quase todos os meses.

O relatório destaca a dificuldade de vencer guerras comerciais com barreiras econômicas como tarifas, ao contrário da afirmação do ex-presidente Donald Trump, de que a vitória seria fácil. As distorções também reforçam os argumentos contra autoridades do governo Trump, segundo as quais as tarifas americanas estavam fundamentalmente reequilibrando a relação comercial entre as duas maiores economias do mundo, na qual os EUA há muito tempo registram amplo déficit.

Comércio China-EUA: balança se inverteu em favor dos chineses em 2020 (Arte/Bloomberg)

Os relatórios incorretos de empresas americanas e chinesas explicam a maior parte da redução do déficit comercial EUA-China desde que os dois lados começaram a impor tarifas em 2018, argumentam os economistas do Fed, Hunter Clark e Anna Wong. A balança comercial encolheu US$ 88 bilhões em 2020 em relação a 2017, de acordo com os cálculos, com US$ 55 bilhões desse déficit resultante da evasão de tarifas dos EUA, US$ 12 bilhões devido a relatórios incorretos para obter maiores descontos de IVA chineses e os US$ 20 bilhões restantes sem explicação.

“O conflito comercial teve um impacto muito menor na balança comercial bilateral dos EUA com a China do que pode ser visto quando analisamos os dados americanos”, escreveram. Com a subnotificação das importações dos EUA, cerca de US$ 10 bilhões em receita tarifária podem ter sido perdidos, estimam.

Os números mais recentes do comércio da China também mostram um lento progresso no cumprimento das metas de compra fixadas com os EUA no acordo comercial. Desde janeiro de 2020, as importações da China de produtos manufaturados, agrícolas e de energia somaram quase US$ 157 bilhões, ou cerca de 41% das metas acordadas pelos dois países.

--Com a colaboração de Ye Xie.

Fique por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo. Assine a EXAME

Acompanhe tudo sobre:ChinaComércioDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Xi Jinping

Mais de Mundo

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia

Irã manterá diálogos sobre seu programa nuclear com França, Alemanha e Reino Unido

Eleições na Romênia agitam país-chave para a Otan e a Ucrânia

Irã e Hezbollah: mísseis clonados alteram a dinâmica de poder regional