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Tarifas de Trump contra Canadá, China e México começam sábado, confirma porta-voz da Casa Branca

Medidas, no entanto, ainda não foram oficializadas pelo governo americano

Donald Trump, presidente dos EUA, durante entrevista coletiva na quinta, 30 (Chip Somodevilla/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA, durante entrevista coletiva na quinta, 30 (Chip Somodevilla/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 16h17.

Última atualização em 31 de janeiro de 2025 às 16h32.

As tarifas comerciais extras dos Estados Unidos contra México, Canadá e China entrarão em vigor neste sábado, 1º, disse Karoline Leavitt, secretária de imprensa do goverro de Donald Trump, na tarde desta sexta, 31.

O Canadá e o México passarão a ter tarifas de 25% sobre as mercadorias. A China terá tarifas extras de 10%, disse ela. Atualmente, o Canadá e o México fazem parte de um acordo de livre-comércio com os EUA, chamado USMCA, que isenta de tarifas de importação os produtos que circulam entre eles, com algumas regras, como cotas para alguns itens.

Os três países afetados pelas tarifas de Trump representam mais de um terço do total das importações americanas. Os governos dos três prometeram retaliações, o que deverá dar início a uma guerra comercial de grandes proporções.

Apesar de faltarem poucas horas para que as medidas entrem em vigor, a elevação das tarifas ainda não foram oficializadas. A agenda de Trump diz que ele assinará ordens executivas às 17h, na hora de Brasília, sem detalhar qual será o tema delas.

Trump prometeu aumentar tarifas durante a campanha, como forma de estimular a fabricação de produtos dentro dos Estados Unidos e de pressionar outros países a mudarem comportamentos.

O presidente americano acusa Canadá e México de serem lenientes com a imigração ilegal nas fronteiras, e diz que a China não toma medidas para impedir o envio de fentanil para os Estados Unidos.

Tarifas como tática

Trump faz da imposição de tarifas a outros países um dos cernes de sua política. É uma arma que ele pode usar livremente, embora não sem consequências. "O presidente pode ditar alíquotas, quais países e produtos serão afetados e como e quando impô-las, sem precisar de aprovação do Congresso, apoio público ou revisão judicial", afirma Adam Looney, pesquisador da Brookings, em um artigo recente.

Para Trump, as barreiras podem favorecer empresas americanas, ao tornar produtos do exterior mais caros. E são uma moeda de troca: se o outro país adotar tal medida, as taxas podem ser retiradas ou nem mesmo implantadas.

A realidade, como sempre, é mais complexa. Empresas americanas se acostumaram a fabricar seus produtos no exterior, justamente em países como México e China — os alvos favoritos de Trump — para baixar custos. O gasto com as tarifas extras será repassado ao valor dos produtos, que ficarão mais caros para os consumidores americanos, apontam analistas.

Além disso, a menor competição com produtos estrangeiros pode fazer com que os fabricantes locais possam cobrar mais caro e gerar mais pressão sobre os preços. A esperada inflação em alta faria uma roda girar: para conter a subida de preços o Fed teria de elevar, ou reduzir o ritmo de cortes da taxa de juros americana.

Juros mais altos nos Estados Unidos atraem mais dinheiro ao país, o que valoriza o dólar e enfraquece moedas estrangeiras, como o real. O dólar superou 6 reais semanas após a vitória de Trump.

Estudos apontam ainda que o aumento das tarifas deve gerar mais impostos, mas podem cortar empregos e encolher o PIB. Um levantamento da Tax Foundation aponta que tarifas de 25% sobre todas as importações do Canadá e do México, além de 10% de tarifas adicionais sobre a China devem gerar 1,2 trilhão de dólares em taxas de 2025 a 2034. No entanto, elas reduziriam o PIB em 0,4% e cortariam 344.000 empregos americanos.

Isso sem contar os efeitos de retaliações que os países poderão tomar. Canadá, México e China compraram mais de 800 bilhões de dólares em produtos americanos em 2022, e poderão subir tarifas sobre eles ou apenas decidir comprar de outros países.

Um exemplo: a Seção 301, norma tributária que dita regras sobre tarifas, foi turbinada a partir do primeiro mandato de Trump e mantida por Joe Biden, e afetou um fluxo de comércio de 79 bilhões de dólares em mercadorias desde 2018. A China respondeu, e sobretaxou um fluxo comercial de produtos americanos de 106 bilhões de dólares no período.

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