Editor de Macroeconomia
Publicado em 6 de abril de 2025 às 08h01.
A escalada nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China aumentou as chances de uma ruptura nas relações bilaterais, segundo a consultoria Eurasia Group. Após o anúncio de novas tarifas pelo ex-presidente Donald Trump, o governo chinês respondeu com medidas agressivas de retaliação, incluindo tarifas de 34% sobre todos os produtos americanos e restrições comerciais direcionadas.
A resposta chinesa surpreendeu analistas por sua antecipação — antes da efetivação das tarifas americanas — e pelo escopo: sete minerais de terras raras foram adicionados à lista de controle de exportações, 27 empresas dos EUA foram alvos de proibições e investigações antitruste, e foi aberta uma disputa na Organização Mundial do Comércio.
Com essas medidas, a Eurasia aumentou de 45% para 55% a probabilidade de um cenário de unmanaged decoupling, o desacoplamento não gerenciado, isto é, uma ruptura abrupta nas relações comerciais e diplomáticas. Esse cenário se tornou a base do prognóstico da Eurasia para 2025.
A margem para negociações ainda existe, mas permanece limitada. A chance de um acordo, classificado como bargain no relatório, foi ligeiramente elevada, de 10% para 15%, após sinalizações públicas de Trump e da liderança chinesa sobre disposição para conversar. No entanto, o estilo de negociação dos dois lados, considerado incompatível, e a baixa popularidade de um acordo em Washington fora do círculo de Trump, dificultam qualquer entendimento.
A Eurasia descreve quatro possíveis cenários para as relações sino-americanas:
Acordo negociado: um acordo motivado pela disposição de Trump em negociar e concessões chinesas evitaria a escalada tarifária em larga escala, segundo a consultoria. A probabilidade deste cenário é de apenas 15% em 2025, caindo para 5% em 2028.
Desacoplamento gerenciado: desacoplamento administrado com liderança de vozes menos agressivas em comércio. Caiu de 30% para 15% em 2025, mas se recupera nos anos seguintes, e chega a 40% em 2028, segundo a Eurasia.
Desacoplamento não gerenciado: nesse cenário, vozes de linha-dura dominam e levam à paralisia nas negociações. Esse cenário da consultoria subiu para 55% em 2025 e se mantém como o mais provável.
Crise: uma escalada militar provocada por mudanças no status de Taiwan é o cenário mais extremo. Estável em 15% nos próximos anos, mas com aumento para 20% em 2028, na avaliação da Eurasia.
Cenário | 2025 (anterior) | 2025 (atual) | 2026 | 2027 | 2028 |
---|---|---|---|---|---|
Acordo negociado Canais diplomáticos discretos, o desejo de Trump por um acordo e concessões chinesas evitam uma escalada tarifária em larga escala. | 10% | 15% | 10% | 10% | 5% |
Desacoplamento gerenciado Vozes menos agressivas lideram a política comercial, aumentando a chance de um acordo após uma escalada tarifária de médio prazo. | 30% | 15% | 40% | 50% | 40% |
Desacoplamento não gerenciado Ala linha-dura pressiona por desacoplamento comercial e levam a um congelamento das relações. | 45% | 55% | 35% | 25% | 35% |
Crise Mudança no status de Taiwan por Washington ou Taipei provoca reação militar chinesa, como bloqueio ou ocupação de ilhas. | 15% | 15% | 15% | 15% | 20% |
Fonte: Eurasia Group
Segundo a Eurasia, a retaliação chinesa às tarifas de Trump superou expectativas por incluir ações simbólicas e práticas. A inclusão dos minerais samário, térbio e disprósio — essenciais para sistemas de defesa — sugere que a China prepara etapas mais agressivas. Por outro lado, medidas como investigações e listas de entidades visam manter espaço para negociações futuras.
Na avaliação da consultoria, para os chineses manter força simbólica na resposta é pré-requisito para voltar à mesa de negociações em posição de paridade. A dúvida, segundo o relatório, é o que acontece quando essas medidas se esgotarem.