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Tarifaço de Trump derruba confiança de exportadores brasileiros, diz estudo da CNI

Presidente americano impôs tarifa de 50% sobre produtos brasileiros em agosto

Donald Trump, presidente dos EUA, fala com a imprensa no Salão Oval, em 14 de agosto (Mandel Ngan/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA, fala com a imprensa no Salão Oval, em 14 de agosto (Mandel Ngan/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 1 de setembro de 2025 às 00h01.

Nos últimos dois meses, um índice da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que mede a confiança dos exportadores da indústria brasileira caiu 4,6 pontos em dois meses, em meio ao tarifaço do presidente americano Donald Trump. Isso indica que os empresários deixaram de estar otimistas e agora veem um cenário ruim à frente.

Os dados do Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgados nesta segunda-feira, 1º e antecipados pela EXAME, mostram que, entre junho e agosto, o indicador entre exportadores caiu de 50,2 pontos para 45,6 pontos.

O ICEI varia de 0 a 100 pontos. Valores acima de 50 pontos indicam confiança; abaixo, falta de confiança. Quanto mais distante da linha divisória, mais intensa é a sensação.

De acordo com a CNI, a onda de pessimismo se intensificou após o aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos sobre parte dos produtos brasileiros entrar em vigor.

Em julho, o ICEI dos exportadores havia caído 1,7 ponto. Com a oficialização da taxação americana, o indicador caiu 2,9 pontos em agosto, totalizando 4,6 pontos de recuo no período.

“As taxas de juros elevadas penalizam o consumo dentro do país. Mas as empresas exportadoras, com a opção de vender para o exterior, contornavam a queda da demanda no mercado doméstico e, por isso, mostravam confiança superior à média da indústria”, diz Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.

O resultado tem influência direta do Índice de Expectativas, que mede o grau de confiança dos empresários quanto ao futuro da economia e dos próprios negócios nos próximos seis meses. O indicador caiu 5 pontos no período: de 52,2 pontos para 47,2 pontos.

A incerteza causada pelo tarifaço americano fez o ICEI dos exportadores ficar abaixo do ICEI geral, que inclui as empresas que vendem apenas para o mercado interno. O ICEI geral registra 46,1 pontos em agosto e está há oito meses em patamar negativo, indicando falta de confiança da indústria.

Entenda as tarifas de Trump

A nova tarifa de importação dos Estados Unidos contra produtos brasileiros, de 50% passou a valer em 6 de agosto. A medida foi oficializada por uma ordem executiva. No documento, Trump relaciona as tarifas aos processos na Justiça brasileira contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra empresas de tecnologia americanas, e pede que elas sejam extintas.

A medida, no entanto, isentou uma série de produtos que o Brasil exporta aos EUA, incluindo suco de laranja, minérios, aeronaves e petróleo. A lista completa soma cerca de 700 itens.

Ao mesmo tempo, a taxa incide sobre outros itens importantes da pauta de exportações brasileiras, como a carne e o café, o que deve inviabilizar exportações brasileiras desses itens.

Segundo a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), as isenções contemplam 42,3% do total das exportações que o país fez aos EUA em 2024.

Ao todo, os EUA compram cerca de 12% das exportações brasileiras. Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), aponta que as tarifas poderão levar ao corte de 146 mil postos de trabalho no Brasil. 

O Brasil ainda tenta negociar a retirada da taxa extra, ou ao menos a isenção de mais itens. Nesta semana, uma comitiva de empresários da CNI irá aos Estados Unidos para uma nova rodada de conversas.

Ao mesmo tempo, o início da reta final do julgamento de Bolsonaro, na terça-feira, 2, poderá levar Trump a adotar novas medidas contra o Brasil.

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