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Tanzânia ainda acredita em bruxas, e agora decidiu matá-las

Apesar de ter uma população majoritariamente cristã, a crença e a prática da bruxaria continuam enraizadas e ultrapassam as fronteiras religiosas no país


	Tanzânia: assassinato de "bruxas" causa anualmente uma média de 500 mortes violentas no país
 (Wegmann/Wikimedia Commons)

Tanzânia: assassinato de "bruxas" causa anualmente uma média de 500 mortes violentas no país (Wegmann/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2014 às 13h21.

Nairóbi - Apesar de ter uma população majoritariamente cristã, a Tanzânia é um país onde a crença e a prática da bruxaria continuam enraizadas e ultrapassam as fronteiras da religião, mas onde a perseguição e o assassinato de bruxas causa anualmente uma média de 500 mortes violentas, segundo dados do Legal and Humans Rights Center (LHRC).

Em outubro pelo menos sete mulheres foram queimadas vivas em uma cidade do oeste de país após serem acusadas de participar de atos de bruxaria.

As vítimas, todas idosas, foram assassinadas por homens armados que foram casa por casa para golpeá-las antes de as incendiarem.

Os assassinatos de suspeitos de bruxaria não são um fato novo nem isolado neste país. São mortes com uma alta carga de violência, que incluem decapitações e esquartejamentos, segundo o relatório Human Rights Report (HRR) do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

A novidade, desde 2013, é queimá-las vivas, explicou à Agência Efe Simeon Mesaki, da Universidade de Dar As Salam e especialista em bruxaria.

A Tanzânia é um país que se orgulha de ser uma democracia estável entre os convulsos sistemas do governo da região.

Sua sociedade, considerada como uma das mais "harmoniosas" da África oriental, possui uma forte identidade nacional, sendo um dos poucos países subsaarianos que emprega o swahili como primeira língua oficial.

No entanto, no ano passado, as Nações Unidas denunciaram o preocupante aumento de assassinatos relacionados à prática da bruxaria.

Em 2012, 630 pessoas foram assassinadas na Tanzânia por motivos relacionados à bruxaria, número que subiu para 765 em 2013, segundo dados da polícia reunidos no HRR.

A maioria das vítimas são mulheres (505, contra 260 homens em 2013), idosos e crianças, e a região mais afetada são as áreas rurais ao sul do Lago Vitória.

Maia Green, antropóloga e especialista em bruxaria da Universidade de Massachusetts, que escreveu sua tese de doutorado neste país africano, comentou que tanto o cristianismo como o islã são religiões com "fortes crenças no mal e nos espíritos, que coexistem e se misturam com estas crenças ancestrais".

A bruxaria é praticada tanto em zonas rurais como nas cidades, um meio para "encontrar bodes expiatórios para as desgraças, que explica e racionaliza acusações por inveja, ciúmes, cobiça, incompreensão ou desinformação", acrescentou Mesaki.

A exclusão social ou a expulsão da cidade é a resposta mais habitual diante da suspeita de bruxaria dentro de uma comunidade, assim como os assassinatos.

Em 1982 o governo tanzaniano aprovou uma Lei de Bruxaria que, além de criminalizar a prática, pretendia evitar que os cidadãos fizessem justiça pelas próprias mãos.

Mas, como denunciam o LHRC e o professor Mesaki, a legislação se mostrou incapaz de resolver os problemas derivados da prática da bruxaria.

Segundo ele, no artigo intitulado "Bruxaria e Lei na Tanzânia", a crença foi "reforçada e legitimada" pela existência da legislação.

Mesaki reforçou que a lei é um reflexo da percepção social de que a bruxaria é "indesejável", e que é necessário então "castigar aqueles que a praticam".

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