Exército de Kadafi enfrentou os rebeldes que ainda controlam algumas áreas de Zawiyah, cidade que mudou de mãos várias vezes (John Moore/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 13h39.
Ras Lanuf - Tanques líbios abriram fogo nesta quinta-feira contra posições rebeldes nos arredores do porto de Ras Lanuf, e aviões atacaram outro terminal petrolífero mais a leste, ampliando a contraofensiva realizada pelo regime de Muammar Kadafi contra as zonas insurgentes.
No oeste, o Exército de Kadafi procurou sufocar os rebeldes que ainda controlam algumas áreas de Zawiyah, cidade que mudou de mãos várias vezes durante violentas batalhas nesta semana.
No campo político, no entanto, os rebeldes obtiveram uma vitória, com o reconhecimento pela França do Conselho Nacional Líbio estabelecido em Benghazi. A Otan e a União Europeia continuam avaliando a possibilidade de impor uma zona de exclusão aérea na Líbia, para impedir a aviação de Kadafi de atacar as posições rebeldes no leste e oeste do país.
Em Ras Lanuf, mais de 500 quilômetros a leste da capital Trípoli, as forças de Kadafi voltaram a lançar mísseis nos arredores de um prédio pertencente à refinaria Lybian Emirates Oil.
Houve uma série de ataques aéreos, e os insurgentes lançaram foguetes na direção do mar, tentando atingir embarcações que bombardeavam as posições dos rebeldes.
Mais tarde, pelo menos dois tanques foram vistos avançando sobre posições dos rebeldes e abrindo fogo, nos arredores de Ras Lanuf.
Os rebeldes também disseram ter sofrido um ataque aéreo em Brega, outro porto petrolífero, 90 quilômetros a leste de Ras Lanuf. Isso indica que as forças governistas não só contiveram o avanço dos rebeldes para o oeste, como também estão fazendo incursões a focos da oposição no leste. Fazia vários dias que não havia ataques do governo contra os rebeldes em Brega.
Durante os combates de quarta-feira no leste do país, um engenheiro disse à TV Al Jazeera que havia visto ataques aéreos contra instalações petrolíferas -- aparentemente, foi a primeira vez que um complexo desse tipo foi atingido no leste da Líbia.
Por causa dos combates, os embarques de petróleo líbio foram praticamente paralisados, gerando tensões no mercado global.
Zawiyah
Em Zawiyah, que fica apenas 50 quilômetros a oeste de Trípoli, um combatente disse que os rebeldes haviam retomado o centro da cidade durante a noite. "Lutamos até depois das 3h da manhã. Está tudo tranquilo hoje de manhã", disse o insurgente Ibrahim por telefone.
Um exilado chamado Mohamed, que contatou um parente arredores de Zawiyah na manhã de quinta-feira, disse que não ficou claro quem está ganhando a batalha pela cidade, mas que o Exército impunha um cerco para minar o moral dos seus inimigos.
"Ontem (simpatizantes dos rebeldes) tentaram levar alimentos e remédios a partir de Subratha, mas não conseguiram. Tropas do governo cercam Zawiyah por todos os lados. Não está claro quem controla o centro, muda o tempo todo. É uma luta rua a rua."
As autoridades impedem o acesso de jornalistas a Zawiyah.
Analistas militares acreditam que Kadafi deve se concentrar em sufocar a revolta no oeste antes de se voltar para o leste. Ali, a cidade de Misurata, tranquila nos últimos dias, seria o primeiro alvo no caminho das forças governistas.
"As forças de Kadafi estão do lado de fora da cidade. Eles sofreram uma grande derrota em Misurata, mas têm armas pesadas", disse um insurgente. "Estamos prontos para nos defender de qualquer ataque eles lancem, mesmo sabendo que haverá um preço alto."
A França se tornou nesta quinta-feira o primeiro país importante a reconhecer o Conselho Nacional formado pelos rebeldes como representante legítimo do povo líbio.
Uma fonte oficial disse que o governo enviará um embaixador a Benghazi, a "capital" dos rebeldes, e receberá um enviado permanente da oposição líbia em Paris. O anúncio foi feito após uma reunião do presidente Nicolas Sarkozy com representantes do Conselho Nacional Líbio.
Já os EUA disseram estar preparando "toda uma gama" de opções militares para a Líbia, incluindo uma zona de exclusão aérea. Os planos devem ser discutidos na quinta-feira em Bruxelas por ministro da Otan. Oficiais militares disseram que a zona de exclusão poderia ser implementada rapidamente.
As forças rebeldes têm feito reiterados apelos para que os EUA e seus aliados imponham a zona de exclusão aérea. A medida poderia também proteger os civis apanhados na zona de conflito, e a crescente crise humanitária na Líbia pode apressar a comunidade internacional a tomar tal decisão.
Em Genebra, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que há um crescente número de feridos dando entrada nos hospitais do leste do país, e que a situação já pode ser classificada como uma guerra civil.
Jakob Kellenberger, presidente da entidade, pediu às autoridades que permitam o acesso de agências humanitárias às áreas do oeste líbio, incluindo Trípoli, e lembrou que, pelo direito internacional, civis, hospitais e ambulâncias não podem ser atacados.
A contraofensiva de Kadafi sugere que o excêntrico dirigente, no poder desde 1969, não irá sair de cena tão rápida e silenciosamente como ocorreu com os presidentes dos vizinhos Egito e Tunísia depois das rebeliões populares dos últimos meses.
O recrudescimento dos combates parece ter consolidado uma separação "de facto" no quarto maior país da África, entre uma área controlada pelo governo, no oeste, e outra dominada pelos rebeldes, a leste.
Em outra iniciativa para isolar o líder líbio, a Rússia vai proibir todas as vendas de armas para a país, disse o Kremlin em um comunicado na quinta-feira. Na prática, isso significa suspender contratos previamente assinados para a venda de armas ao regime de Kadafi.
(Reportagem adicional de Tom Pfeiffer e Piotr Pilat em Benghazi; Mariam Karouny em Ras Jdir; Mohammed Abbas em Ras Lanuf; Alexander Dziadosz em Ajdabiya; Hamid Ould Ahmed em Argel; Luke Baker em Bruxelas; Ross Colvin e Andrew Quinn em Washington; Stefano Ambrogi e William Maclean em Londres; John Irish em Paris; Stephanie Nebehay em Genebra)