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Talibã usa vídeos com ataques para mostrar profissionalismo

No dia do ataque, três câmeras diferentes acompanharam a ação contra a base americana

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2012 às 16h43.

Cabul - Uma maquete e uma imagem aérea do alvo, soldados treinados e instruções claras; o Talibã divulgou o vídeo de um ataque feito em 1º de junho no Afeganistão, em uma tentativa de passar uma imagem de profissionalismo e modernidade.

O vídeo, que dura mais de uma hora, foi postado em um dos sites do grupo. Nele é possível ver uma dúzia de homens barbados em treinamento nas montanhas afegãs, correndo e atirando, vestidos com roupas militares.

O mesmo grupo ouve atentamente um instrutor que analisa um modelo preciso da base da Otan em Salerno, na província de Khost, e que é o alvo escolhido. O instrutor também discute a operação na frente de uma foto aérea da base, projetada em uma parede.

"Faremos de tudo para evitar vítimas civis (...). Faremos esta operação para Deus", afirma o instrutor.

No dia do ataque, três câmeras diferentes acompanharam a ação contra a base americana. Um caminhão carregado com várias toneladas de explosivos vai em direção ao alvo antes de explodir em uma bola de fogo monumental. Os soldados entram em ação, todos acabam mortos.

"Vou atacar estes invasores tão forte que eles nunca vão esquecer. Seus pais vão chorar por eles em Washington", diz, sorrindo, o motorista suicida do caminhão.

Para Waheed Wafa, diretor do Centro de Estudos sobre o Afeganistão da Universidade de Cabul, "a guerra midiática do Talibã avança desde 2006. Eles apresentaram dezenas de produtos com conteúdo altamente profissional. Eles dramatizam suas operações".


No vídeo do ataque à base de Salerno, os rebeldes "aparecem muito organizados e com alta tecnologia. Querem mostrar que não são mais os agricultores de antes. Eles agora estão organizados e são capazes", analisa.

Enquanto isso, Mudja Waheed, um ex-combatente talibã, que se tornou escritor, acredita que os novos rebeldes "usam GPS, Google Maps, câmeras digitais e quase todas as tecnologias disponíveis. Isto pode causar maiores baixas entre os inimigos, já que os ataques são mais bem preparados".

De acordo com a Otan, os rebeldes enfrentam uma queda do número de efetivos. Por isso, o uso de novas tecnologias torna-se essencial.

"Há cinco anos, o Talibã atacava aldeias isoladas com grupos de centenas de homens. Agora, apenas 10 combatentes fazem um trabalho melhor em ataques sofisticados nas grandes cidades", explicou Wafa.

A estratégia tem dado frutos. Embora o governo afegão e a coalizão da Otan, com 130.000 homens, digam que estão no caminho para a vitória, as explosões de minas artesanais e os ataques lembram diariamente que o Talibã, embora com poucos homens, está longe de ser derrotado.

O fator preocupante é que a maioria das tropas estrangeiras deixará o Afeganistão no final de 2014, e em seguida o governo de Cabul irá assumir o controle de seu próprio destino.


No entanto, a guerra na mídia ocorre nos dois campos, inclusive em redes sociais como o Twitter. Os comentários se multiplicam, e os êxitos de ambos os lados são exacerbados ou minimizados.

No ataque do dia 1º de junho, a Isaf, força da Otan no Afeganistão, explicou apenas que não houve registro de vítimas entre os soldados da Aliança, enquanto 14 talibãs foram mortos.

Na verdade, dois soldados e um funcionário civil morreram, e cerca de 100 soldados ficaram feridos, 30 com gravidade, como foi revelado mais tarde pelo jornal Washington Post.

Procurado pela AFP, o general Gunter Katz, porta-voz da Isaf, denunciou uma "videopropaganda" dos talibãs para imprimir sensacionalismo a um ataque "que teve inicialmente um êxito limitado", e para recrutar jovens para morrer "por sua causa perdida".

Por sua vez, o porta-voz do Ministério do Interior, Sediq Sediqi, também relatou um ato de "propaganda", incapaz de "desmoralizar os afegãos".

Uma fonte ocidental consultada pela AFP e que pediu anonimato, destacou um "domínio real" dos atores do vídeo.

O problema "é que às vezes são ataques armados, e outros que parecem de verdade. Por isso é difícil saber a real capacidade deles", acrescentou a fonte.

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