O Talibã controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001, quando seguiu uma versão radical do islamismo nos costumes, vetando o consumo de álcool e a livre circulação de mulheres. (AFP via Getty Images/Getty Images)
Após um final de semana de tensão generalizada pelo Afeganistão, o movimento fundamentalista islâmico nacionalista Talibã conseguiu retomar o controle da capital do país, Cabul.
Enquanto avança rapidamente seu controle pelo país, o Talibã já coloca em prática sua agenda fundamentalista, que vigorou no país entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000. De acordo com o portal local de notícias Shamshad News, a vacinação já foi interrompida na província de Paktia, no leste do país. Desde a tomada da província pelo grupo, as vacinas contra a covid-19 pararam de ser distribuídas pela região.
Walayat Khan Ahmadzai, diretor provincial de saúde pública da região, disse em entrevista ao Shamshad News que o Talibã ordenou os funcionários do hospital regional para pararem de distribuir o imunizante, o que resultou no fechamento imediato dos postos de vacinação da região, enquanto médicos e críticos buscam acatar as ordens impostas temendo represálias violentas do grupo.
De acordo com Ahmadzai, a enfermaria responsável pela aplicação das doses está fechada há três dias e os cidadãos são informados de que a vacinação foi proibida. O Talibã alertou a equipe de distribuição de vacinas para evitar distribuí-las, acrescentou Ahmadzai. Até o momento, não há informações concretas sobre como está a campanha de vacinação no resto do país.
Segundo dados do portal Our World in Data, o Afeganistão aplicou, até o momento, cerca de 770 mil doses da vacina contra a covid-19, o que representa cerca de 2% da população e apenas 0,5% da população do país completou a vacinação.
No final de janeiro de 2021, enquanto o grupo ainda estava longe de controlar as principais províncias e cidades do país, o Talibã se mostrava "a favor" da vacinação.
Zabihullah Mujahid, porta-voz do grupo extremista, disse à agência Reuters no fim daquele mês que o grupo iria apoiar e facilitar a campanha de vacinação conduzida por meio dos centros de saúde no país.
O país fechou um acordo de cerca de 110 milhões de dólares para conseguir as doses por meio do consórcio Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Afeganistão também havia fechado um acordo de 500 mil doses da vacina da AstraZeneca produzida na Índia, disse à Reuters o dr. Ghulam Dastagir Nazari, chefe do Programa Expandido de Imunização do Ministério da Saúde do Afeganistão.
“A marca AstraZeneca que é fabricada na Índia chegará em breve ao Afeganistão”, disse Nazari.
Com a queda do governo central e, consequentemente, do seu grupo de ministros de estado, não é possível afirmar se as promessas anteriores sobre as vacinas ainda serão mantidas.
Entretanto, com a recente atualização de que a junta extremista está dificultando a campanha de vacinação no país, é difícil esperar que o Afeganistão tenha capacidade de acelerar sua campanha de imunização.
Desde o início da pandemia, o Afeganistão já contabilizou cerca de 150 mil casos de covid-19 e aproximadamente 7 mil mortes.
Em movimento já esperado, o Talibã chegou neste domingo, 15, à capital do Afeganistão, Cabul, após dias conquistando cidades no entorno diante da retirada das tropas dos Estados Unidos.
Na tarde deste domingo, já noite no Afeganistão, os homens do Talibã adentraram o palácio presidencial, como mostram imagens da rede de TV Al Jazeera.
Horas antes, foi confirmado que o presidente Ashraf Ghani deixou o país após ficar claro que o Talibã havia tomado o controle da capital. Ghani diz ter fugido para evitar derramamento de sangue.
Um porta-voz do Talibã declarou mais cedo que o grupo buscava “uma rendição pacífica" do governo afegão e que que “todos os que serviram ao governo e aos militares serão perdoados”.
Mas uma das principais preocupações da comunidade internacional é que afegãos que interagiram com as forças dos EUA nos 20 anos de ocupação americana sejam punidos pelo Talibã. Países como o Canadá já passaram a oferecer programa de asilo aos afegãos.
Em comunicado, o Talibã afirmou também que não pretende tomar a cidade “à força”, com a ressalva de que essa não é uma declaração de cessar-fogo. “Não queremos que nenhum afegão civil e inocente seja ferido ou morto enquanto tomamos o controle.”
A expectativa era de que o governo do Afeganistão caísse rapidamente após o cerco a Cabul, com o exército oficial do país sem condições de deter o Talibã.
O Talibã controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001, quando seguiu uma versão radical do islamismo nos costumes, vetando o consumo de álcool e a livre circulação de mulheres.
A rápida ofensiva militar do grupo, que em duas semanas tomou 26 das 34 capitais de províncias, acontece no vácuo da saída das tropas americanas.