Taiwan: pouco depois de chegar ao campo de treinamento, os recrutas têm seus cabelos raspados (Sean Chang e Sam Yeh/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 15h33.
Última atualização em 26 de janeiro de 2024 às 15h39.
Carregando pesadas bolsas de lona, os novos recrutas taiwaneses descem do ônibus e se dirigem a uma fileira de cabeleireiras para que elas raspem o cabelo deles e assim possam iniciar o serviço militar obrigatório, que a partir de agora voltará a ser de um ano.
Esse prolongamento foi anunciado em 2022 como parte dos planos da presidente sainte Tsai Ing-wen de reforçar as capacidades defensivas dessa ilha de governo autônomo ante a crescente agressividade da China.
Apesar de Taiwan dispor de governo, moeda e Exército próprios, Pequim reivindica a ilha como parte de seu território e, em anos recentes, aumentou a retórica de que a "unificação" é "inevitável".
A China nunca renunciou ao uso da força para tentar tomar o controle de Taiwan e mantém uma presença quase diária ao redor da ilha.
Ao receber os novos recrutas, Hong Hsin-chi, comandante do campo de treinamento básico, prometeu ser "rigoroso, mas não severo". Também contou que foram acrescentados "mais cursos profissionais" ao serviço como combate, treinamento de fogo rápido e primeiros socorros em combate.
Depois de oito semanas de treinamento, serão enviados aos diferentes ramos do Exército.
"Quando se graduarem, serão soldados qualificados", disse Hong.
A primeira turma de 670 recrutas (todos homens entre 18 e 19 anos) devem se apresentar em três centros de treinamento por todo Taiwan.
A idade de recrutamento nessa ilha é de 18 anos, com prorrogações para quem está cursando o ensino superior. Quando completam 36 anos, todos os homens devem ter servido no Exército.
O serviço obrigatório costumava ser muito impopular em Taiwan e seu governo anterior o havia reduzido de um ano para quatro meses com o propósito de criar uma força principalmente voluntária.
Mas as pesquisas em anos recentes mostraram um apoio cada vez maior a um serviço mais prolongado, ao mesmo tempo que a China era mais explícita em suas reivindicações sobre Taiwan.
Quando Tsai restabeleceu o ano completo de serviço obrigatório em dezembro de 2022, explicou que afetaria apenas os homens nascidos a partir de 1º de janeiro de 2005. Assegurou que era "uma decisão extremamente difícil (...) para garantir o estilo de vida democrático de nossas futuras gerações".
O anúncio ocorreu meses depois de Pequim realizar suas maiores manobras militares em torno de Taiwan em resposta à visita da então presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos Nancy Pelosi a Taipé.
Desde então, a China mobiliza aviões e navios de guerra ao redor da ilha quase diariamente, em táticas "cinzentas" que os especialistas asseguram que estão à beira de um ato aberto de guerra.
No campo de Taichung, os jovens, primeiramente, foram enviados a uma fileira de soldados com jaquetas brancas que tomavam notas das provas físicas: se agachar, estender e levantar os braços.
Depois se sentaram em fila, com o olhar fixo para frente enquanto mulheres cortavam seus cabelos.
"Aceito de bom grado a mudança de política de nosso país para estender (o serviço) para um ano", disse o novo recruta Yia Hsin-shi, já usando o uniforme. "Como cidadão da República da China, Taiwan, esse é meu dever".
Embora admita ter ficado "um pouco nervoso" quando recebeu a notificação de recrutamento, Yin assegura estar tranquilo uma vez no campo. "Meus superiores e instrutores não são tão ruins como dizem", assegurou.