Mundo

Vázquez, o médico paciente, é o novo presidente do Uruguai

O médico socialista venceu as últimas eleições gerais amparado pela lembrança de seus sucessos passados

Tabaré Vázquez comemora vitória no Uruguai (REUTERS/Carlos Pazos)

Tabaré Vázquez comemora vitória no Uruguai (REUTERS/Carlos Pazos)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de fevereiro de 2015 às 20h11.

Montevidéu - O oncologista Tabaré Vázquez, que em 2005 se tornou o primeiro presidente de esquerda do Uruguai, inicia amanhã, domingo, seu segundo mandato em que examinará o estado de saúde do país ao mesmo tempo em que se submeterá à revisão de seus cidadãos, que esperam dele políticas continuístas e leves reformas.

Vázquez assume amanhã o consultório da presidência, responsável por prescrever as receitas que o país precisa, mas também como paciente em permanente acompanhamento da saúde de suas políticas e de sua aceitação popular.

Paciente também na personalidade, por seu humor diligente e contido, que projeta a figura de um homem organizado e controlador, mas não sem carisma, que é capaz de provocar paixões entre o público mesmo sem ter a eloquência e a presença midiática de seu antecessor, José Mujica.

O médico socialista venceu as últimas eleições gerais amparado pela lembrança de seus sucessos passados, com os quais acumulou 80% de popularidade no fim de seu primeiro mandato (2005-2010), e pelas promessas de continuidade, crescimento e suaves mudanças em saúde, educação e segurança.

A alta simpatia popular tem a ver com a capacidade de cativar os cidadãos apesar de sua personalidade tímida e reservada, como a do médico de família acostumado a orientar seus pacientes para os bons hábitos, a curar e também a dar más notícias com gestos suaves e fala pausada.

'Vázquez tem um carisma calmo e a capacidade de manter um discurso que gera reação na sociedade. Maneja bem isso de brilhar por sua ausência. Cria expectativas', explicou à Agência Efe o semiólogo e professor da Universidade de Ottawa, no Canadá, Fernando Andracht, nas últimas eleições presidenciais.

Já os jornalistas, acostumados à constante presença pública de Mujica e a seus frequentes discursos pelo rádio, sabem que com Vázquez muda o terço, cuja apatia com a imprensa beira a aspereza.

Diferente pensam também seus opositores, que o acusam de ser cabeça-dura, intransigente, personalista e autocrata.

E também contraditório, por sua recusa em legalizar o aborto, indo contra a maioria de sua coalizão política, a Frente Ampla; e por sua incansável luta contra o tabaco, que tornou bandeira em seu primeiro mandato, o que não o impediu de aceitar a lei do governo de Mujica que autoriza a produção e a venda de maconha.

Quarto filho de um operário da empresa estatal de petróleo ANCAP e de uma dona de casa, Vázquez é um homem acostumado a fazer história.

Foi o primeiro médico saído do humilde bairro de Teja, onde anos depois fundou uma policlínica e um refeitório social que funcionam até hoje.

Fez história também no futebol uruguaio, onde assumiu em 1979 as rédeas do Clube Atlético Progresso, então na terceira divisão e o levou até seu primeiro e único título da liga, em 1989.

Do campo passou à prefeitura de Montevidéu, se tornando o primeiro prefeito de esquerda da capital, cargo que ocupou de 1989 a 1995.

Outro marco histórico na trajetória de Vászquez, que após governar mais da metade dos 3,2 milhões de uruguaios que residem na capital, foi o início de sua corrida presidencial, ao ser o mais votado nas eleições de 1994 e 1999, mas sem poder assumir devido à aliança dos partidos Nacional e Colorado.

Em 2005 levou à esquerda pela primeira vez ao poder e com o mandato que agora começa se transforma em uma das três únicas pessoas na história do Uruguai que foi escolhida presidente duas vezes.

Mas antes de tudo Vázquez foi e é um médico.

'Se algum dia a política me afastar do povo, deixo de fazer política, e uma forma de estar com as pessoas é estar na profissão médica', afirmou antes de seu primeiro mandato.

Vázquez obteve o título de especialista em Oncologia e Radioterapia em 1972, e desde 1987 é professor na Faculdade de Medicina da Universidade da República, a mais importante do Uruguai.

Em sua longa carreira como especialista em oncologia, prestou serviços em quatro centros assistenciais do país, pertenceu a dez sociedades científicas, foi beneficiado com sete bolsas de estudos para pesquisa no exterior e manteve atividades curriculares em EUA, Israel, Japão e França.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaMédicosUruguai

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado