Repórter
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 15h42.
A Suprema Corte dos Estados Unidos agendou para 5 de novembro a data em que ouvirá os argumentos sobre a legalidade das tarifas globais implementadas pelo presidente Donald Trump. As informações foram divulgadas pela agência Reuters.
Em 9 de setembro, os juízes da Suprema Corte anunciaram que assumiriam o caso após uma decisão de uma instância inferior, que concluiu que Trump havia ultrapassado seus limites ao impor a maioria de suas tarifas com base em uma lei federal destinada a situações de emergência.
Essa decisão resultou de contestações feitas por pequenas empresas e por 12 estados americanos — Arizona, Colorado, Connecticut, Delaware, Illinois, Maine, Minnesota, Nevada, Novo México, Nova York, Oregon e Vermont — sendo que a maioria desses estados tem governadores democratas.
A Suprema Corte também decidiu, simultaneamente, examinar outra contestação contra as tarifas de Trump, apresentada por uma empresa familiar de brinquedos chamada Learning Resources, segundo informações da Reuters.
As tarifas fazem parte de uma guerra comercial que Trump iniciou após seu retorno à Presidência em janeiro. Essas medidas afetaram as relações com parceiros comerciais, aumentaram a volatilidade nos mercados financeiros e criaram um cenário de incerteza econômica global.
Trump também transformou as tarifas em uma estratégia central de sua política externa, utilizando-as para renegociar acordos comerciais, obter concessões e aplicar pressão política sobre outras nações, incluindo o Brasil.
Em 29 de agosto, o Tribunal de Apelações dos EUA para o Circuito Federal, com sede em Washington, determinou que Trump extrapolou seus poderes ao recorrer à Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, de 1977 (IEEPA, na sigla em inglês), para justificar as tarifas. No entanto, as tarifas continuam em vigor enquanto o caso é analisado pela Suprema Corte.
Em abril, Trump invocou a IEEPA para estabelecer tarifas sobre produtos importados de países específicos, visando equilibrar déficits comerciais, além de tarifas separadas, anunciadas em fevereiro, como forma de pressão econômica sobre China, Canadá e México, com o objetivo de combater o tráfico de fentanil e outras drogas ilícitas nos Estados Unidos.
A legislação concede ao presidente americano a autoridade para agir diante de "uma ameaça incomum e extraordinária" durante uma emergência nacional. Historicamente, ela foi empregada para impor sanções a países inimigos ou para congelar seus bens, mas nunca antes havia sido usada para estabelecer tarifas.
Em julho, Donald Trump assinou uma ordem executiva que oficializou a tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros. A medida, no entanto, isenta uma série de produtos que o Brasil exporta aos EUA, incluindo suco de laranja, minérios, aeronaves e petróleo. A lista completa soma cerca de 700 itens.
Ao mesmo tempo, a taxa é aplicada a outros itens importantes da pauta de exportações brasileiras, como a carne e o café, o que poderá inviabilizar empresas nacionais desses setores.
A ordem coloca 40% adicionais de tarifas sobre a taxa de 10% anunciada em abril, adotada para todos os países, somando 50%. Assim, os itens isentos agora ficarão com tarifa de 10%.
Como justificativa, o governo americano disse que a medida é uma "resposta a políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos", disse a Casa Branca em comunicado.
"O presidente Trump está defendendo empresas americanas contra extorsão, protegendo cidadãos americanos da perseguição política, salvaguardando a liberdade de expressão nos EUA contra a censura e salvando a economia americana de estar sujeita aos decretos arbitrários de um juiz estrangeiro tirânico", disse a nota emitida pelo governo americano.
Em 9 de julho, Trump havia enviado uma carta pública em que anunciava a medida contra o Brasil. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e ao que chamou de "censura" às redes sociais americanas.
"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta", disse Trump.
Além da tarifa, o presidente americano determinou uma investigação contra o Brasil por práticas comerciais desleais, com base na seção 301. O processo está andamento e deverá ser concluído nos próximos meses. Por meio dele o Brasil poderá sofrer punições comerciais adicionais.
O governo brasileiro buscou negociar a nova tarifa com os Estados Unidos, mas não teve sucesso. Apesar disso, membros do governo Lula avaliam que o espaço para negociações permanece aberto.