TBG: o maior túnel do mundo tem 57,1 quilômetros de extensão / Divulgação
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2016 às 10h55.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h45.
Há nações que tentam construir pontes para o futuro; outras, no entanto, preferem os túneis. Esse é o caso da Suíça, que inaugura nesta quarta-feira o Túnel da Base do Gotardo (TBG), o maior e mais profundo túnel do mundo com 57,1 quilômetros de extensão escavados sob 2.300 metros das rochas dos Alpes. Essa complexa obra de engenharia, que consumiu 11 bilhões de euros e demorou 21 anos para ficar pronta, irá conectar mais rapidamente o norte e o sul da Suíça e se transformará em um importante corredor de transporte de cargas entre o porto de Roterdã, na Holanda, e o de Gênova, na Itália.
O TBG fornece uma infraestrutura ferroviária poderosa. Até hoje, a travessia dos Alpes era demorada e longa. Os atuais túneis rodoviários e ferroviários ziguezagueiam por cerca de 80 quilômetros pelo Passo de São Gotardo, um espaço mais baixo entre duas montanhas alpinas de um maciço rochoso de mesmo nome, sendo preciso até uma hora e quinze minutos para percorrer todo o trajeto. Sem serpentear pelas montanhas, o TBG agora é o caminho mais curto e rápido, levando apenas 20 minutos para percorrer o caminho que vai da cidade de Erstfeld, no cantão de Uri, até Biasca, no cantão do Ticino.
O túnel será usado na maior parte do tempo por trens de carga. Vão passar por ele até cinco trens de carga por hora em comparação com dois trens de passageiros. Em 2015, 27 milhões de toneladas de carga passaram pelos alpes suíços por meio de trilhos. Um crescimento para 36 milhões está previsto até 2030 puxado pelo TBG. A capacidade total estimada é de 45 milhões de toneladas — quase seis vezes a movimentação anual do porto do Rio de Janeiro. Em passageiros, os números são mais modestos. O operador ferroviário suíço SBB estima que em 2025 o número de pessoas que utilizarão o túnel será de 15 mil.
O Túnel da Base do Gotardo já era imaginado desde os anos 1940. Mas essa obra só começou a ser realizada no final do século 20 quando três fatores —opinião pública, dinheiro e tecnologia — convergiram para seu ponto ideal. Os suíços votaram em um referendo em 1992 para transferir o tráfego transalpino das rodovias para uma nova ferrovia. Tudo em nome da proteção do meio-ambiente e das pessoas que vivem no eixo norte-sul do país. A partir daí, um fundo público foi criado a partir do dinheiro recolhido dos pedágios das estradas suíças, financiando integralmente os 11 bilhões gastos na construção.
Do ponto de vista de engenharia, somente com as técnicas modernas — incluindo o equipamento de perfuração conhecido como “tatuzão” — foi possível construir o TBG. São, na verdade, dois túneis paralelos de 57 quilômetros (um de ida e outro de volta), além de 39 quilômetros de galerias transversais e de ligação para paradas de emergência e para a circulação de dois trens de resgate que estarão prontos para qualquer emergência.
Com tamanha magnitude, a festa de inauguração acontece nas duas pontas do TBG e conta com a presença de Angela Merkel, chanceler da Alemanha, François Hollande, presidente da França e Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália. Não poderia ser mais significativo. Trata-se de um passo importante para destravar as negociações da Suíça com o resto da Europa. Desde 2014, após um referendo vencido pela extrema-direita, o país precisa criar um limite para imigrantes europeus. O túnel sozinho não será responsável pela reversão dessa política. Mas poderá ser um impulso importante para a mudança.
(Rafael Kato)