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Suíça tem mais vagas em bunkers do que habitantes; entenda o motivo

País europeu aposta em planejamento estratégico e investe em abrigos contra ameaças modernas

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 21 de julho de 2025 às 10h14.

A Suíça é reconhecida mundialmente por possuir, proporcionalmente, a maior e mais abrangente rede de bunkers nucleares e abrigos civis do planeta.

Com uma população estimada em cerca de 8,8 milhões de habitantes, de acordo com a estimativa de 2023 do Escritório Federal de Estatística da Suíça, o país conta com aproximadamente 300 mil a 400 mil abrigos nucleares e civis distribuídos por todo o seu território, número suficiente para abrigar toda a população e ainda oferecer vagas excedentes — alguns relatórios indicam que há mais vagas potencialmente disponíveis em bunkers do que habitantes no país.

Esse sistema extraordinário é resultado de políticas públicas e leis específicas que nasceram durante o auge da Guerra Fria, quando a ameaça de um ataque nuclear em escala global parecia iminente.

Em 1963, foi promulgada pelo Departamento Federal de Defesa, Suporte e Proteção Civil da Suíça (DDPS), uma legislação que tornou obrigatório que todas as residências, prédios comerciais e públicos tivessem abrigos contra ataques nucleares e químicos.

Segundo esta lei, todo cidadão residente — sem distinção entre suíços, estrangeiros ou refugiados — tem direito a um lugar seguro, ou seja, uma “cama de beliche” garantida em caso de emergência.

Sistema único no mundo

A regulamentação exige que os abrigos estejam localizados a uma distância máxima de 30 minutos a pé do local de residência nas planícies, e até 60 minutos em regiões montanhosas – um ponto crucial para garantir acesso rápido e eficaz em situações de crise.

Além disso, os proprietários de imóveis são legalmente obrigados a construir, manter e equipar esses bunkers, o que explica a ampla dispersão e a capacidade do sistema.

Estima-se que cerca de 40% das residências suíças possuam abrigos internos, enquanto o restante é atendido por abrigos comunitários e públicos.

Bunkers: entre nostalgia e renovação

Durante décadas de neutralidade e paz relativa, muitos desses abrigos foram deixados em segundo plano. Suas estruturas passaram a ser utilizadas para usos alternativos, como, por exemplo, adegas de vinho, armazéns, galerias de arte e até espaços para armazenamento seguro de criptomoedas. A manutenção impermeável e a atualização tecnológica desses locais, no entanto, foram sendo parcialmente negligenciadas.

A deterioração física é obviamente preocupante: muitos desses abrigos têm mais de meio século de existência e vêm demonstrando sinais claros de desgaste, o que pode comprometer sua funcionalidade em uma real situação de emergência..

Por que modernizar os bunkers agora?

Nas últimas décadas, o contexto geopolítico e tecnológico mudou substancialmente, reacendendo o interesse do governo e da sociedade suíça na modernização dessa rede:

  • Aumento das tensões internacionais: conflitos recentes, como a invasão da Ucrânia pela Rússia e crescentes rivalidades globais, demonstram que a estabilidade mundial é cada vez menos garantida.

  • Evolução das ameaças militares: o avanço em armamentos, desde mísseis hipersônicos até ataques cibernéticos, evidencia que os bunkers antigos podem não estar preparados para resistir às ameaças modernas.

  • Importância estratégica nacional: além de proteger vidas, esses abrigos são vistos como peça-chave para a segurança e resiliência do país diante de cenários imprevisíveis.

Atendendo a essa realidade, o governo suíço anunciou em 2023 um investimento de aproximadamente 220 milhões de francos suíços (cerca de US$250 milhões) para a reforma e modernização dos bunkers civis.

Esse plano inclui a remoção de exceções legais antigas, inspeções rigorosas, reforço das estruturas, aprimoramento dos sistemas de filtragem de ar e proteção contra radiação, além da revitalização dos equipamentos essenciais para o funcionamento pleno dos abrigos.

Autoridades enfatizam que essa medida não é uma preparação para uma guerra iminente, mas um esforço para fortalecer a resiliência do país — entendida como a capacidade de enfrentar e se recuperar de crises graves, sejam elas militares, naturais ou tecnológicas.

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