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Suíça inicia julgamento do delator do HSBC

Hervé Falciani revelou mais de 100 mil nomes de correntistas do HSBC de Genebra, entre eles centenas de brasileiros


	HSBC: Ministério Público Suíço jamais abriu um processo contra o banco, apesar das denúncias internacionais. Para as autoridades, o crime havia sido cometido por Falciani
 (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

HSBC: Ministério Público Suíço jamais abriu um processo contra o banco, apesar das denúncias internacionais. Para as autoridades, o crime havia sido cometido por Falciani (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2015 às 11h49.

Genebra - Ele colocou dezenas de governos em situação constrangedora. Seus dados abriram processos criminais nos quatro cantos do mundo e empresas tiveram de pagar multas milionárias.

Mas, hoje, é ele quem estará no banco dos réus. Hervé Falciani, que revelou mais de 100 mil nomes de correntistas do HSBC de Genebra, entre eles centenas de brasileiros, será julgado a partir de hoje na Suíça.

Seus supostos crimes: espionagem econômica, roubo de dados e violação de segredo bancário. Vivendo sob proteção policial na França, Falciani já indicou que não irá ao tribunal suíço e será representado apenas por seu advogado.

O Ministério Público Suíço jamais abriu um processo contra o HSBC, apesar das denúncias internacionais. Para as autoridades, o crime havia sido cometido por Falciani e, portanto, não se poderia usar os dados roubados para um eventual processo.

Já o Ministério Público de Genebra decidiu abrir um caso e, poucos meses depois, fechou um acordo com o banco, permitindo o pagamento de uma multa de US$ 40 milhões. Ninguém foi preso.

Falciani, porém, corre esse risco. Nascido em Mônaco em 1972, ele sempre viveu perto dos bancos. Trabalhar no setor financeiro, segundo ele, foi uma "opção óbvia". Mas tudo começaria a mudar quando, em 2006, foi transferido do escritório do HSBC no principado para o banco em Genebra.

Segundo seu depoimento à Justiça francesa, obtido pelo Estado, Falciani começou a coletar os dados sobre as contas secretas ainda em 2006 e, até 2007, havia copiado as mais de 100 mil informações. Sua estratégia era sofisticada. Ele não possuía qualquer tipo de pen drive ou de discos. Tudo era enviado a servidores de aliados em diversos países do mundo.

No início de 2008, sua história começou a ganhar contornos de uma aventura. Numa manhã gelada em Genebra, sua caminhada até o trabalho foi interrompida por uma van que parou ao seu lado. Homens saíram do veículo e exigiram que Falciani os acompanhasse até o subsolo de um prédio abandonado.

Eles se apresentaram como supostos representantes do Mossad, o serviço secreto israelense, e sugeriram que fizesse uma viagem até o Líbano para consultar bancos locais e oferecer a venda de dados de grandes clientes.

Aquela seria a porta para ter acesso às contas dos bancos libaneses e, portanto, saber de que forma organizações terroristas lavavam dinheiro.

Meses depois, Falciani faria a viagem com uma de suas colegas, Georgina Mikhael. Eles criaram uma empresa de fachada, abriram um site e ainda ofereciam serviços personalizados. Em quatro reuniões com banqueiros libaneses, Georgina se apresentaria com seu próprio nome, enquanto Falciani optou por um nome falso.

A viagem de Georgina chamou a atenção dos serviços de inteligência da Suíça e, ao retornar para Genebra, a colaboradora foi interrogada. Em seu depoimento, indicou que era a amante de Falciani (casado e com uma filha) e o entregou.

Questionada pela polícia, ela também revelaria que Falciani teve sempre a intenção de roubar os dados do HSBC desde que entrou para o banco e sua meta era vendê-los para enriquecer. Para a Justiça suíça, a venda do arquivo era também seu objetivo.

Em 22 de dezembro de 2008, entregue por sua companheira, ele seria algemado e levado pela polícia de Genebra para um interrogatório diante da suspeita de que teria roubado os dados bancários do HSBC.

Com 36 anos, Falciani respondeu por horas sobre como e o que teria feito com os dados bancários. Ao final de um longo dia, a polícia de Genebra o autorizou a voltar para sua casa. Mas exigiu que, pela manhã do dia seguinte, Falciani estivesse de volta à delegacia para mais perguntas e, eventualmente, um indiciamento.

Assim que deixou a polícia, porém, Falciani alugou um carro, buscou a mulher e a filha e atravessou a fronteira da Suíça com a França.

Prisão

Na França, ele começou a fazer um vasto download das informações que tinha roubado e que estavam espalhadas em servidores pelo mundo. Um total de cinco CDs foram produzidos e entregues a autoridades francesas e americanas.

Elas sugeriram que Falciani saísse da França e fosse viver na Espanha, já que Madri não extraditaria ninguém por conta de um crime de violação do segredo bancário.

Mesmo assim, em 2012, a polícia espanhola cumpriu uma ordem de prisão internacional emitida pela Suíça e Falciani passou cinco meses na cadeia. Mas também acabou sendo liberado.

Em suas explicações, Falciani sempre faz questão de justificar que queria revelar "a verdade sobre os bancos". Garantindo que jamais vendeu a lista, ele mesmo se compara a Edward Snowden, ex-funcionário da CIA que, ironicamente, também em Genebra, roubou os dados da diplomacia americana e, em 2013, revelou ao mundo como funcionava a maior potência do planeta.

"É fundamental que existam pessoas que contem a verdade e que mostrem os problemas sistêmicos que enfrentamos", disse em entrevista ao Le Monde. Para ele, bancos como o HSBC "criaram um sistema para enriquecer às custas da sociedade, ajudando a promover a evasão fiscal e a lavagem de dinheiro". (As informações são do jornal O Estado de S.Paulo)

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