Cartazes sobre o referendo, em Zurique, Suíça: no domingo, 50,3% dos eleitores suíços votaram a favor do texto "Contra a imigração em massa" (Michael Buholzer/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2014 às 13h37.
Genebra - O governo e empresários suíços tentavam encontrar, nesta segunda-feira, uma estratégia para lidar com a decisão votada neste domingo, favorável a uma limitação da entrada de europeus em seu mercado de trabalho, e que prejudica as relações do país com a União Europeia.
No domingo, 50,3% dos eleitores suíços votaram a favor do texto "Contra a imigração em massa", de iniciativa do partido UDC (direita populista), e que concretamente significa o fim do acordo de livre circulação de pessoas assinado com a UE em 2002.
O texto determina que o país deve gerir de forma autônoma a imigração de estrangeiros e estabelecer quotas anuais para os trabalhadores, em função "dos interesses econômicos globais da Suíça, e respeitando a preferência nacional".
Apesar dos temores por parte dos opositores ao texto das consequências junto à UE, as autoridades suíças reagiram com pragmatismo, anunciando que o governo apresentará até o final do ano no Parlamento um projeto de lei que retomará as principais disposições do texto aprovado.
O governo suíço deverá implementar "rapidamente e de forma consistente" o texto referendado, declarou no domingo a ministra suíça da Justiça, Simonetta Sommaruga.
Os analistas recordaram a votação de 9 de novembro de 1992, quando os suíços rejeitaram a adesão do país ao Espaço Econômico Europeu, uma afronta às autoridades que militavam a favor da adesão na época. No entanto, o governo se recusa a ser tão categórico como então.
Na votação há mais de dez anos, um ministro suíço disse: "É um domingo negro", uma fórmula que se tornou famosa e que se manifestou em uma década difícil para a economia suíça.
Didier Burkhalter, ministro das Relações Exteriores e presidente da Confederação, disse no domingo que é preciso "ter cuidado com esses comentários", e prometeu abordar essas questões com "pragmatismo" nas capitais europeias.
"O sistema suíço se baseia no fato de que a população deve decidir o que quer, e o governo tem que implementar a decisão popular da melhor maneira possível para o país, mesmo que seja a favor de uma outra solução", ressaltou.
Nesta segunda-feira, a companhia bancária e financeira UBS publicou suas previsões para a Suíça em 2014. Essas projeções não levam em conta o resultado do referendo da véspera.
A UBS prevê uma taxa de crescimento de 2,1%, quase o dobro do previsto para a zona euro (+1,1%).
Em 2013, a Suíça teve um crescimento de aproximadamente 1,9%, enquanto que na zona do euro os números foram negativos, com -0,4%.
"Nada mudará a curto prazo na Suíça, os acordos de livre circulação seguem vigentes, há um prazo de três anos para instaurar as quotas", declarou à AFP Daniel Kalt, chefe dos economistas da UBS para a Suíça.
Segundo ele, a curto prazo esta votação não terá consequências diretas na economia do país. "Contudo, existe um risco indireto relacionado ao clima de incerteza política", acrescentou.
Na Suíça, a taxa de desemprego para o mês de janeiro publicada nesta segunda-feira se manteve no mesmo patamar, a 3,5%. Na Eurozona, o desemprego é de 12,1%.
As autoridades suíças devem se reunir com a Comissão Europeia "para explicar o que o povo decidiu e o que quer", declarou à AFP Valentin Vogt, diretor da Federação de Empregadores Suíços (patronato).
"Também devemos começar a negociar com a UE sobre a livre circulação de pessoas (...) e encontrar juntos uma solução", acrescentou.
A principal consequência do referendo de domingo é o início de um "longo período de incerteza sobre o que acontecerá", considerou.