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Sonho holandês vira pesadelo para refugiados homossexuais

Embora a Holanda tenha sido o primeiro país a legalizar o casamento gay, em centros para solicitantes de asilo a aceitação da diversidade sexual não é a norma

Omar, um homossexual de 20 anos: "chegar à Holanda, o país da liberdade de expressão, e ser perseguido por ser gay é uma loucura" (EMMANUEL DUNAND/AFP)

Omar, um homossexual de 20 anos: "chegar à Holanda, o país da liberdade de expressão, e ser perseguido por ser gay é uma loucura" (EMMANUEL DUNAND/AFP)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 17h35.

Amsterdã - O sírio Omar, um homossexual de 20 anos, solicitou asilo na Holanda depois de ver imagens de sua famosa Parada do Orgulho Gay, mas, quando chegou ao país, viu seus sonhos desmoronarem ante o assédio de seus companheiros de refúgio.

Embora a Holanda tenha sido o primeiro país do mundo a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2001, em seus centros para solicitantes de asilo a aceitação da diversidade sexual não é a norma, denunciam ONGs de defesa aos direitos dos homossexuais.

"Chegar à Holanda, o país da liberdade de expressão, e ser perseguido por ser gay é uma loucura", lamenta Omar.

"É surpreendente que estas pessoas, após passar pelo que passaram, tenham sido capazes de me assediar por isso", disse este sírio, que chegou à Grécia em um barco, antes de pisar em solo holandês, graças a um falso passaporte espanhol.

Este jovem de cabelos impecavelmente penteados decidiu se mudar para a Holanda depois de uma busca na internet. "Li artigos dizendo que o país era muito tolerante com os homossexuais e que Amsterdã era a capital da comunidade LGBT", conta.

Mas a situação é diferente nos acampamentos de solicitantes de asilo, afirma Omar, que fugiu da guerra e da intolerância.

"Fui ameaçado de morte, disseram-me que eu era a vergonha dos refugiados, empurravam-me para o fim das filas", descreve este jovem, nascido no seio de uma família rica de Damasco.

Graças aos fones de ouvido para escutar música e saindo o menos possível de seu quarto, ele evitava a companhia de outros aspirantes ao asilo. "Tive a sorte de não sofrer agressões físicas", confessa o jovem, que finalmente encontrou refúgio na casa de Lianda, uma holandesa lésbica de 25 anos.

Refúgios

Segundo a associação de defesa aos direitos dos homossexuais (COC, na sigla em holandês), a violência contra alguns imigrantes gays chegou a casos de agressões sexuais. Alguns deles, aterrorizados, não se atreviam a sair de seus quartos.

O jornal holandês AD reportou também a ocorrência de roupas queimadas e camas manchadas com excremento e comida. Um imigrante homossexual dormiu, por uma semana, em uma floresta com medo de voltar ao seu quarto, segundo o jornal. Assim como aconteceu com Omar, um holandês acabou abrigando este último.

A associação Secret Garden assegura que dois imigrantes homossexuais tentaram, inclusive, o suicídio.

A COC relatou ter reunido 14 denúncias desde meados de outubro até final de dezembro, enquanto a associação recebia, anteriormente, cerca de uma ou duas a "cada vários meses".

"Tememos que seja apenas a ponta do iceberg", explica à AFP o diretor da organização Koen van Dijk, destacando que a maioria dos imigrantes homossexuais não denunciam por medo de represálias ou por não saberem a quem pedir ajuda.

Diante destes problemas, a prefeitura de Amsterdã pôs à disposição, entre os meses de outubro a dezembro, duas casas de refúgio para uma dezena de imigrantes homossexuais, uma medida de urgência e excepcional para uma situação que "assim o exigia", segundo uma porta-voz.

A cidade está disposta a executar outras "soluções à medida", caso seja necessário. A associação COC pede pela abertura de casas deste tipo, ainda que não constituam uma solução permanente.

Vulneráveis

Os homossexuais que haviam sido acolhidos nestes refúgios temporários já estão em centros para solicitantes de asilo melhor adaptados. Cinco deles estão, por exemplo, em uma ala separada de um centro menor, com aproximadamente 350 lugares ante as 6.700 precedentes, o que permite detectar mais facilmente eventuais abusos.

A organização que gerencia a acolhida aos refugiados na Holanda, a COA, tenta sensibilizá-los com noções de tolerância e assegura que toma medidas em casos de assédio.

Nas situações mais graves, a polícia é acionada, indica a organização, destacando a existência de outros grupos "vulneráveis" nestes centros, como crianças, mulheres maltratadas e vítimas de tráfico de pessoas.

Omar estima que só uma permissão de residência lhe permitirá começar sua desejada vida nova e retomar seus estudos de direito. Enquanto isto, já encontrou, em seus novos amigos, uma parte do que buscava.

"Queria encontrar pessoas que me aceitassem como eu sou e finalmente pude encontrá-las", diz este jovem, que considera fantástico "saber que é possível passear de mãos dadas na rua com seu namorado sem temer a reação das pessoas".

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