Cessar-fogo: os combates fizeram estragos na segunda cidade do país até que uma nova trégua de 48 horas entrou em vigor na madrugada desta quinta-feira (Hosam Katan / Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2016 às 13h53.
Vestindo uniformes de cor clara, dez soldados russos consultam sem cessar seus telefones e computadores para comprovar que a trégua acertada pelos Estados Unidos e a Rússia na Síria não foi violada.
Estes militares instalaram um centro de atendimento na base aérea de Hmeimim (oeste), um dos locais importantes da mobilização russa na Síria.
"É nossa linha direta com Amã", explica o chefe do centro, o general Sergei Kuralenko, mostrando um telefone que serve para coordenar as ações com o centro americano, sediado na capital jordaniana.
E "estes dois outros telefones são utilizados para receber as chamadas de qualquer habitante da Síria ou do mundo', explica, apresentando os equipamentos aos jornalistas presentes em uma viagem de imprensa organizada pelo ministério da Defesa russo.
Rússia e Estados Unidos encorajaram o cessar-fogo em vigor desde 27 de fevereiro, que foi violado em massa em Aleppo, pelo regime e pelos rebeldes, onde 285 civis morreram desde 22 de abril.
Os combates fizeram estragos na segunda cidade do país até que uma nova trégua de 48 horas entrou em vigor na madrugada desta quinta-feira.
O porta-voz do ministério russo da Defesa, Igor Konashenkov, apontou a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda, como responsável pelo fracasso de um primeiro anúncio de suspensão dos combates em Aleppo, em 30 de abril.
"Hoje, o início de um 'regime do silêncio' (em Aleppo) foi impedido pelos terroristas do grupo Al-Nosra", insistiu na quarta-feira o general Kuralenko.
A campanha aérea das forças russas, que começou em setembro de 2015, permitiu ao exército do presidente Bashar al-Assad assumir uma posição de força em relação à oposição e aos rebeldes.
Papel "pacificador"
Desde a decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de retirar parcialmente suas tropas em meados de março, Moscou se apresenta como o principal pacificador em terra.
Segundo o general Konashenkov, mais de 90 localidades e povoados, e 52 grupos rebeldes assinaram tréguas locais com as forças governamentais, apoiadas por Moscou. Afirma que após estes acordos mais de 7.000 combatentes entregaram suas armas. "É muito", comemorou.
Na localidade de Kawkab, na província central de Hama, soldados russos acompanharam um idoso, com um kufiya (lenço) na cabeça, para assinar um acordo local. Isto permitirá o retorno dos moradores a sua localidade, retomada há um ano dos jihadistas da Al-Nosra.
Os habitantes dançam ao lado dos soldados sírios, segurando suas kalashnikovs, enquanto as crianças mostram bandeiras sírias e fotografias do presidente Bashar al-Assad. Em uma esquina, os militares russos descarregam caminhões repletos de ajuda humanitária.
"Cerca de 10.000 habitantes viviam aqui. Não sei quantos voltaram, mas estou certo de que, em quatro dias, todos estarão aqui", afirma o responsável local, o xeque Ahmad Mubakar. Até agora, os vizinhos não se atreviam a voltar porque tinham medo, segundo ele.
"A Rússia teve um papel significativo no processo de paz e, de todos os países, é o que mais forneceu ajuda", afirma Mubarak.
Embora a Rússia seja uma peça chave nas negociações de paz entre o regime e a oposição em Genebra, sempre rejeitou qualquer proposta que inclua a saída do presidente Assad.
Insiste que o Ocidente, que apoia a oposição, teria que concentrar seus esforços em deter a guerra, que deixou mais de 270.000 mortos em cinco anos.