Cuba: O governo aponta as sanções dos Estados Unidos como o principal fator para crise no Turismo
Agência de Notícias
Publicado em 27 de abril de 2025 às 12h08.
O fim da alta temporada confirmou que o turismo em Cuba ainda não conseguiu se recuperar. Durante décadas, o setor foi o principal motor da economia e a maior fonte de divisas da ilha.
Especialistas, hoteleiros e operadores de turismo vão discutir os desafios e oportunidades da indústria durante a Feira Internacional de Turismo (FITCuba), que acontece em Havana de 30 de abril a 3 de maio.
Cuba ainda sente os impactos da pandemia, mas o declínio no número de visitantes começou antes. Depois do recorde de 2017 — com 4,7 milhões de turistas —, o país viu quedas em 2018 e 2019, com 4,2 e 4,6 milhões de visitantes, respectivamente.
Em 2020, devido às restrições da Covid-19, Cuba recebeu pouco mais de um milhão de turistas; em 2021, apenas meio milhão. Houve uma leve recuperação em 2022 e 2023, com 1,6 milhão e 2,4 milhões, respectivamente.
No entanto, 2024 trouxe novo revés: o número caiu para 2,2 milhões, e este ano já começou com uma queda de 30% em relação ao ano anterior, segundo a Oficina Nacional de Estatística e Informação (ONEI).
O primeiro-ministro, Manuel Marrero, reconheceu que o setor enfrenta um "cenário muito complexo", mas reforçou que o governo continua apostando no turismo como motor econômico e fonte essencial de receitas em moeda estrangeira.
O governo aponta as sanções dos Estados Unidos como o principal fator. No entanto, especialistas independentes destacam outros problemas: preços pouco competitivos em comparação a outros destinos do Caribe, como Cancún (México) e República Dominicana, alta volatilidade cambial e falta de infraestrutura fora dos resorts.
Além disso, a grave crise econômica da ilha afeta diretamente o setor: a escassez de combustível dificulta o transporte, os apagões constantes prejudicam as hospedagens alternativas e até os grandes hotéis têm enfrentado problemas para manter a qualidade dos serviços.
Em janeiro, o ministro do Turismo, Juan Carlos García Granda, acrescentou à EFE outros agravantes, como “o aumento no preço dos combustíveis” e o cancelamento de voos de importantes companhias aéreas que operavam em Cuba.
A reaproximação entre Cuba e Estados Unidos no governo Barack Obama (2014-2017) impulsionou um ambicioso plano estatal de construção de grandes hotéis.
Esses empreendimentos pertencem ao conglomerado militar Gaesa, mas são gerenciados por multinacionais como as espanholas Meliá e Iberostar, e a canadense Blue Diamond, entre outras.
Isso gerou um investimento estatal sem precedentes no setor de turismo, enquanto áreas essenciais como Saúde, Educação e Agricultura acabaram ficando em segundo plano. Em 2024, segundo dados da ONEI, 37,4% dos investimentos públicos foram destinados ao turismo e hotelaria.
Apesar do alto investimento, o fluxo de turistas não acompanhou o crescimento da infraestrutura: a taxa de ocupação dos hotéis permaneceu nos últimos anos em torno de 30%.
Em entrevista à EFE em março, o economista José Luis Perelló — uma das vozes mais respeitadas do setor — afirmou que Cuba “não tem um plano de desenvolvimento turístico”, apenas “um plano de investimento imobiliário para hotéis”.
Segundo ele, para voltar a alcançar números expressivos, Cuba precisa apostar em ser um destino multifacetado, e não apenas buscar turistas em mercados emissores tradicionais.
O governo estabeleceu como meta receber 2,6 milhões de visitantes em 2025, mas os dados dos primeiros meses do ano mostram que será difícil atingir esse objetivo.
Na visão de Perelló, Cuba só deve recuperar os níveis pré-pandemia por volta de 2030. EFE