EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2013 às 20h02.
O falecido presidente venezuelano, Hugo Chávez, levantou a bandeira do socialismo e ampliou o papel do Estado na economia, com nacionalizações, parcerias público-privadas e controles que debilitaram o empresariado privado e formaram novas alianças estrangeiras com potências emergentes, como China, Rússia e Brasil.
Crítico ferrenho do capitalismo, que ele acusou de "expropriar o povo" e de ser "a condenação da raça humana", Chávez procurou, principalmente durante a segunda metade do seu mandato, transformar a Venezuela em um Estado socialista.
"Assumimos o compromisso de dirigir a Revolução Bolivariana até o socialismo do século XXI, baseada na solidariedade, fraternidade, amor, liberdade e igualdade", disse o presidente ao ser reeleito em 2006.
Depois de ganhar um terceiro mandato em 2012, o estado socialista se tornou um rumo "irreversível" de seu governo.
Contudo, seu intervencionismo econômico começou em 2003, após uma greve de petroleiros de dois meses que atingiu duramente a economia do país, cujas maiores divisas vêm do petróleo.
Um rígido controle de mudanças permanece até hoje, assim como a fixação dos preços dos alimentos básicos, como arroz, farinha e leite, que abriram caminho para o crescente papel do Estado na economia.
Paralelamente à elevação dos preços do petróleo, Chávez pediu em 2004 uma série de reformas legais que permitiram o aumento das receitas petrolíferas através de impostos e do controle acionário dos projetos de energia que haviam sido concedidos na década de 1990 às petroleiras privadas nacionais e estrangeiras, na chamada "abertura do petróleo" para as multinacionais.
"A remoção da abertura do petróleo permitiu a criação de um novo cenário fiscal com mais renda disponível para o investimento sócio-produtivo", disse à AFP Rodrigo Cabezas, ex-ministro de Chávez.
Com o lema "O petróleo é agora de todos", o carismático líder armou uma estrutura de fundos que permitiu o uso de enormes recursos para reforçar suas políticas sociais, mas também para financiar uma onda de nacionalizações que caracterizariam sua política econômica.
Chávez ordenou a recuperação de mais de 2,5 milhões de hectares de terras de propriedade privada e a nacionalização de setores estratégicos, como cimento, aço, telecomunicações, alimentos, elétrica ou bancário.
A siderúrgica argentina Sidor, a empresa mexicana de cimento Cemex, o banco espanhol Santander ou os supermercados Êxito - com participação acionária francesa -, são alguns dos principais nomes nesta série de expropriações.
Enquanto isso, também com recursos do Estado, Chávez promoveu a criação de cooperativas, empresas cogeridas e de produção social como novas formas de "propriedade solidária".
"Trata-se do desmantelamento de monopólios, oligopólios e latifúndios, para não destruir a propriedade privada", defende Cabezas.
No entanto, o setor privado ficou com cada vez menos espaço de manobra por causa do controle do Estado e da inflação galopante. Em 2009, o Estado atingiu mais de 30% do PIB, uma ameaça à sua própria sobrevivência.
"O socialismo significa apoderar-se dos meios de produção e no caso da Venezuela não foi diferente. O governo nunca se dispôs a criar, mas sim a tomar o que foi criado", disse o economista José Guerra à AFP.
A nova dinâmica nacional também foi estendida aos seus parceiros externos.
Confrontando politicamente os EUA - seu principal parceiro comercial -, o governo de Chávez começou a buscar novos mercados, mais de acordo com a sua linha ideológica, como China, Rússia e Brasil.
A China, que até recentemente não estava no mapa econômico da Venezuela, é agora o segundo destino do petróleo nacional (500,00 b/d) e também um de seus principais financiadores, graças a uma série de acordos pelos quais o governo de Chávez conseguiu empréstimos de mais de 30 bilhões de dólares em troca de petróleo.
O PIB da Venezuela, que em 1998 foi de 91 bilhões de dólares, foi para 328 bilhões em 2011, impulsionado principalmente pelo aumento dos gastos governamentais.
O governo de Chávez, no entanto, não conseguiu controlar a alta inflação e evitar a escassez de commodities cíclicas e os efeitos disso sempre são sentidos nas massas, que seu governo sempre alegou tanto proteger.
Ao mesmo tempo, o país, com uma moeda supervalorizada para efeito de controle de câmbio, se tornou muito dependente das importações de produtos agrícolas, em particular.
"A economia cresceu de fato, mas não tanto quanto poderia, considerando-se a quantidade extraordinária de recursos recebidos pelo país devido ao petróleo", afirma Guerra.
Para o economista Pedro Palma, políticas "intervencionista e controladoras" enfraqueceram o país, tornando-o menos atraente para o investimento, mas deixaram uma consciência social que no futuro não deixará de ter peso sobre a economia.