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Sobrevivente do ebola vira símbolo de esperança

Vítima que se curou do ebola em Serra Leoa representa a esperança do país de vencer o vírus

Membro da Médicos sem Fronteiras alimenta criança com ebola, em Serra Leoa (Carl de Souza/AFP)

Membro da Médicos sem Fronteiras alimenta criança com ebola, em Serra Leoa (Carl de Souza/AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de agosto de 2014 às 13h20.

Kailahun - Hawa Idrisa cuidava do sogro em um centro para vítimas do ebola em Serra Leoa quando a sonda se soltou e espirrou sangue nos olhos e na boca da jovem.

Hoje, ela está curada e representa a esperança do país de vencer o vírus.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) considera a mulher um exemplo para a população, tão desconfiada e cética que chegou a atacar os centros de isolamento, como aconteceu no fim de semana na vizinha Libéria.

"Estava coberta de sangue, as pessoas fugiam. Peguei um balde de cloro e joguei sobre mim", conta a mulher de 19 anos e mãe de um bebê.

Uma gota de sangue pode espalhar 100 milhões de partículas do vírus do ebola. Apenas uma bastaria para matar alguém.

Após uma semana, Idrisa começou a ter febre e sentir dores de cabeça, os primeiros sintomas da doença.

Sua filha Helen, de apenas um ano, apresentou resultado negativo nos exames. Mas ela e o marido, Nallo, foram infectados e internados no centro de tratamento da MSF em Kailahun, uma cidade do leste do país, no extremo de Guiné e Libéria, epicentro da epidemia.

Hawa Idrisa permaneceu quatro semanas internada, entre a vida e a morte.

"Não sabia o que estava acontecendo. Nem sequer onde estava. Não lembro de nada no período", conta.

O vírus ebola mata mais da metade das pessoas infectadas. Mas quando os pacientes recebem o tratamento rapidamente, com paracetamol contra a febre, hidratação e alimentação contínua, as possibilidades de sobrevivência aumentam consideravelmente.

Hawa Idrisa exibe com orgulho o certificado de cura e pretende retornar para casa.

"Sei que eu e minha filha estamos fora de perigo, mas minha mente e meu coração ficam no centro com meu marido enfermo", afirma.

Agora ela iniciará uma nova missão: atuar, ao lado de outros sobreviventes, como embaixadora ante as famílias e vizinhos nos vilarejos para os quais retornaram com a ajuda da ONG Médicos Sem Fronteiras.

Estabelecer a confiança

Os médicos e enfermeiros locais não se limitam a combater a epidemia, pois precisam lutar contra a desconfiança da população a respeito da medicina moderna e dos funcionários de saúde ocidentais.

Os familiares retiravam à força os parentes infectados com o ebola dos centros de saúde. Eles faleciam em seus vilarejos, o que ajudava a propagar a doença. Em Serra Leoa, 1.500 policiais e soldados foram mobilizados para impedir as retiradas.

"Esperamos o aumento do número de sobreviventes do ebola, o que nos ajudaria muito na campanha contra o vírus", declarou na segunda-feira em Freetown a ministra da Saúde, Miatta Kargbo.

Ella Watson-Stryker, de 34 anos, diretora da MSF em Kailahun, acredita que a participação das pessoas curadas "é muito benéfica para a luta contra a epidemia em seu conjunto, porque quando os sobreviventes retornam para casa podem contar sobre a estadia no centro médico".

Com frequência, as pessoas ficam surpresas ao tomar conhecimento de que os enfermos recebem comida, bebida e medicamentos, além de ter acesso aos chuveiros e banheiros, afirma Ella Watson-Stryker.

"Circulam muitos boatos de que quando alguém entra no centro médico é deixado para morrer", completa.

No centro médico, Nallo, o marido de Hawa, sonha em pegar novamente a filha no colo, mas ainda é considerado um paciente de alto risco.

"Quando voltar para casa, se as pessoas contraírem o ebola, vou aconselhar que venham para cá", conclui.

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