Ministro de Defesa venezuelano Vladimir Padrino López (Centro) acopanha soldados em treinamento no dia 11 de novembro, perante pressão americana (Ministério de Defesa da Venezuela/Divulgação/AFP Photo)
Repórter
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 12h10.
À medida que as pressões dos Estados Unidos nos mares perto da Venezuela aumentam, o presidente do país, Nicolás Maduro, ordenou a mobilização em massa de suas forças armadas e a condução de exercícios e treinamentos do exército, aeronáutica e marinha do país.
Desde o final de agosto, a marinha dos EUA mantém presença no Caribe para supostamente combater o narcotráfico proveniente da Colômbia e da Venezuela. A operação resultou em 20 embarcações bombardeadas em águas internacionais do Caribe e do Pacífico e 76 mortes.
A Venezuela considera que a operação americana busca derrubar Nicolás Maduro, que se diz preparado para se defender e demonstra constantemente atividades militares no país.
O Ministro da Defesa venezuelano Vladimir Padrino López disse que a ordem de mobilização veio diretamente de Maduro e que a organização das tropas vem como resistência a “ameaça imperialista” americana com exercícios que visam “otimizar comando, controle e comunicações” para assegurar a defesa do país.
Além disso, Maduro também mobilizou as forças paramilitares da Milícia Bolivariana – uma força reserva composta por civis voluntários criada pelo ex-presidente Hugo Chávez, e nomeada em homenagem a Simon Bolivar, um revolucionário que ajudou a assegurar a independência de muitos países da América Latina dos espanhóis, durante o século XIX.
Ao todo, de acordo com apuração da CNN, as forças armadas da Venezuela têm um total de aproximadamente 123.000 membros. Além disso, Maduro diz que suas milícias voluntárias já passam dos 8 milhões de reservistas, afirmações questionadas por especialistas, que também questionam a qualidade do treinamento dessas tropas, de acordo com a CNN.
Enquanto isso, as tropas americanas nos mares da região já somam os 15.000.
Fontes anônimas com conhecimento dos esforços e documentos de planejamento da Venezuela contaram à Reuters que o plano de resistência principal considerado no momento é o de guerrilha em caso de invasão. Também alegam que o governo pode vir a semear caos e desordem nas ruas.
A admissão vem como um reconhecimento do equipamento obsoleto e da falta de soldados no exército venezuelano, de acordo com apuração da Reuters. Além disso, seis fontes anônimas também disseram ao veículo que as forças armadas do país são debilitadas devido a uma falta de treinamento, pagamento baixo e equipamento deteriorado.
Duas fontes também reportaram que alguns comandantes de certas unidades foram forçados a negociar com produtores de alimentos locais para alimentar suas tropas, devido a poucos suprimentos do governo.
Soldados comuns no país ganham um total de US$ 100 dólares por mês na moeda local, sendo que uma cesta básica com suprimentos tende a custar US$ 500, de acordo com dados do Centro de Documentação e Análise Social da Federação de Professores Venezuelanos. Além disso, a única experiência do exército recentemente foi controlar protestos e lidar com manifestantes. Essas condições podem levar a deserções no caso de um conflito, alertou uma das fontes.
Foi essa realidade que fez o governo de Maduro considerar táticas de guerrilha, estratégia anunciada publicamente em transmissões de televisão nacionais como “resistência prolongada”, como um de dois planos de defesa principais, juntamente com o caos nas ruas.
As fontes dizem que a resistência envolveria a separação do exército em pequenas unidades militares que operariam em mais de 280 locais, conduzindo sabotagem e outras táticas de guerrilha, como armadilhas e emboscadas.
A segunda estratégia, chamada de “anarquização”, visa usar serviços de inteligência e apoiadores armados de Maduro para gerar caos e desordem generalizado nas ruas da capital Caracas, a fim de tornar a cidade ingovernável para forças americanas, disse uma fonte anônima.
"Não duraríamos duas horas em uma guerra convencional", disse uma fonte próxima ao governo.
"Não estamos preparados para enfrentar um dos exércitos mais poderosos e bem treinados do mundo", disse outra fonte anônima à Reuters, contrastando com a frente confiante de Maduro.
O maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, foi incorporado nessa terça-feira dia 11 à operação dos Estados Unidos contra o tráfico de drogas proveniente da América Latina, que, segundo a Venezuela, tem como objetivo a derrubada do presidente Nicolás Maduro.
A chegada da embarcação e do grupo de ataque que lidera – que inclui dezenas de aeronaves e de navios de guerra, e 4.000 marinheiros - coincidiu com a mobilização militar da Venezuela e com a condenação da Rússia aos bombardeios de embarcações que supostamente transportam drogas.
Os Estados Unidos ainda não apresentaram provas de que as embarcações eram utilizadas para o tráfico de drogas.
O canal CNN informou que o Reino Unido não compartilhará informações de inteligência com os Estados Unidos sobre embarcações suspeitas de narcotráfico para não se tornar cúmplice desses bombardeios que, segundo as fontes consultadas pela emissora, são ilegais. Isso gera tensão nas relações entre dois importantes aliados.
Em um confronto com o presidente Donald Trump pela campanha americana no Caribe e no Pacífico, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também ordenou "suspender" a troca de informações de inteligência com as agências de segurança de Washington.
"Todos os níveis de inteligência da força pública receberam ordens para suspender o envio de comunicações e outras interações com agências de segurança americanas", anunciou Petro na rede social X. O presidente colombiano classifica os ataques como "execuções extrajudiciais".
"É assim que, em geral, agem os países sem lei, aqueles que se consideram acima da lei", disse na televisão o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, que classificou como "pretexto" a luta contra as drogas alegada pelos Estados Unidos para justificar esses ataques.
Por outro lado, o USS Gerald Ford "reforçará a capacidade dos Estados Unidos para detectar, vigiar e desarticular os atores e atividades ilícitas que comprometem a segurança e a prosperidade do território americano e nossa segurança no hemisfério ocidental", afirmou o porta-voz-chefe do Pentágono, Sean Parnell.
A concentração de forças militares americanas na região é a mais intensa em décadas, considerada a maior desde a invasão do Panamá em 1989.
Com informações da AFP