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Sob estado de exceção, polícia venezuelana bloqueia protesto

É o primeiro protesto sob o estado de exceção, declarado na sexta-feira pelo presidente para enfrentar a severa crise econômica


	Protestos: "Colocaram mil impedimentos, não querem revisar as assinaturas e agora com estado de exceção nos reprimem"
 (Carlos Garcia Rawlins / Reuters)

Protestos: "Colocaram mil impedimentos, não querem revisar as assinaturas e agora com estado de exceção nos reprimem" (Carlos Garcia Rawlins / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2016 às 15h10.

A polícia venezuelana, armada com escudos, coletes à prova de balas e capacetes, impediu nesta quarta-feira mil opositores de chegar à sede central do órgão eleitoral, em um protesto no qual exigiam um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Em meio à multidão, algumas pessoas foram atingidas por gases lançados pelos efetivos das forças de segurança na avenida estratégica Libertador. Pequenos grupos também lançaram pedras contra os agentes, embora sem incidentes graves até o momento.

A concentração, convocada pela coalizão Mesa de Unidade Democrática (MUD) em vinte cidades, é o primeiro protesto sob o estado de exceção, declarado na sexta-feira pelo presidente para enfrentar a severa crise econômica e bloquear as tentativas de tirá-lo do poder.

"Revogatório, revogatório! Fora Maduro!", gritavam os manifestantes, que seguravam cartazes contra o governo e bandeiras da Venezuela. Alguns tentavam burlar o cordão policial por caminhos adjacentes para tentar chegar à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Contingentes de policiais estavam em diferentes pontos da avenida e da Praça Venezuela para impedir a passassem, enquanto em outras cidades do país, também com uma forte mobilização de segurança, grupos de manifestantes conseguiram marchar.

"Colocaram mil impedimentos, não querem revisar as assinaturas e agora com estado de exceção nos reprimem", disse à AFP Mary Olivares, uma universitária de 28 anos, na avenida Libertador.

Os opositores exigem que o CNE, acusado por eles de ser um aliado do governo, acelere a revisão de um mínimo de 200.000 assinaturas - exigidas por lei - das 1,8 milhão que entregaram no dia 2 de maio como requisito para ativar o referendo.

O líder opositor Henrique Capriles e o presidente do Parlamento - de maioria opositora -, Henry Ramos Allup, lideravam a concentração em Caracas, mas diante do cordão de segurança precisaram se retirar em meio a empurrões.

"O referendo pode ser feito neste ano e vocês sabem disso. Vamos evitar uma explosão social e um golpe de Estado", afirmou Capriles, principal promotor do referendo.

Por sua vez, Ramos Allup disse esperar "uma solução pacífica" à crise política. "Não queremos sangue ou um golpe de Estado", disse.

Um dia similar foi realizado há uma semana, mas militares e policiais impediram que os manifestantes chegassem ao escritório do CNE, incluindo sua sede central em Caracas, gerando pequenos confrontos.

Para esta quarta-feira, 14 estações do metrô de Caracas permaneceram fechadas, tornando difícil para muitos cidadãos se deslocar.

Sobe a temperatura social

A oposição quer realizar o referendo este ano, já que, se ele for realizado depois de 10 de janeiro de 2017 - quando serão completados quatro anos do atual mandato - e Maduro perder, os dois anos restantes ficariam a cargo do vice-presidente, designado pelo presidente. Se a consulta for feita antes, são convocadas eleições.

No entanto, Maduro disse que o referendo não tem "viabilidade" porque houve uma tentativa de "fraude nas assinaturas apresentadas", e denunciou que "há planos para converter as marchas em Caracas em eventos de insurreição e violentos, razão pela qual as autoridades são obrigadas a garantir a paz".

Reagindo a este impasse, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, acusou nesta quarta-feira o presidente venezuelano de ser um "traidor" e alertou que ele se transformará em um "ditadorzinho" se impedir o referendo.

"Negar a consulta ao povo, negar a ele a possibilidade de decidir, te transforma em mais um ditadorzinho, como os tantos que o continente teve", escreveu Almagro em uma severa carta aberta.

"Presidente, você trai seu povo e sua suposta ideologia com suas diatribes sem conteúdo, é traidor da ética da política com suas mentiras e trai o princípio mais sagrado da política, que é se submeter ao escrutínio de seu povo", acrescentou Almagro.

Enquanto a tensão política cresce, nas ruas o mal-estar social também aumenta, diante da dramática escassez de alimentos básicos e remédios essenciais, e da inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015 e projetada em 700% para 2016).

"As pessoas estão cansadas. A situação está muito ruim, isso a qualquer momento arrebenta", declarou à AFP Lilimar Carrillo, uma enfermeira de 39 anos, que fazia fila para comprar comida na cidade de Guarenas, a 45 km de Caracas, onde na terça-feira foi registrado um protesto devido à escassez de alimentos.

Segundo uma pesquisa da empresa Datanálisis, 70% dos venezuelanos apoiam uma mudança do governo.

Rejeitado na terça-feira pelo Congresso de maioria opositora, o estado de exceção contém medidas para enfrentar a profunda crise econômica e autoriza "operações especiais de segurança" contra o que Maduro denuncia como uma ameaça de intervenção estrangeira, instigada pela oposição e pelos Estados Unidos.

Maduro sustenta que entre as estratégias para precipitar uma intervenção estão propagar a ideia de que a Venezuela enfrenta uma "crise humanitária", junto com atos de violência.

O CNE disse que no dia 2 de junho finalizará a auditoria das assinaturas. Se forem aceitas, 200.000 pessoas precisarão revalidar sua assinatura com a impressão digital. Em uma segunda etapa, a MUD deve reunir quatro milhões de assinaturas em três dias.

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