As forças do governo avançam rapidamente nas zonas controladas pelos insurgentes em Ghouta (Bassam Khabieh/Reuters)
AFP
Publicado em 13 de março de 2018 às 16h09.
Última atualização em 13 de março de 2018 às 18h29.
Em um centro de acolhimento perto de Ghuta Oriental, os civis evacuados pelo exército sírio do último reduto rebelde às portas de Damasco estão preocupados com seus familiares sitiados pelo regime.
As forças do presidente sírio, Bashar al Assad, avançam rapidamente nas zonas controladas pelos insurgentes em Ghouta, graças à ofensiva lançada há cerca de três semanas para reconquistar este bolsão de resistência.
Rima Cheij, de 40 anos, fugiu dos combates e se refugiou no setor de Al Dueir, no poder do regime. Mas sem sua filha, que continua no enclave rebelde.
"Estou há um mês sem ver minha filha", afirma com tristeza Rima, evacuada com seu marido e seus outros quatro filhos. Antes de fugir, "fomos buscá-la em um porão em que tinha se refugiado, mas ela e seu marido já tinham ido embora. Não pude trazê-la comigo nem dizer adeus", conta, sentada em um tapete.
A família de Rima é uma das 17 que chegaram no sábado ao centro de Al Dueir, administrado pelas autoridades sírias. O exército sírio reconquistou sua cidade, Misraba.
Antes do início da guerra na Síria, há sete anos, o centro de acolhimento era um acampamento de escoteiros, com várias salas esportivas.
Cada família conta com um quarto e colchões, mantas, comida, utensílios de cozinha e produtos de limpeza com o emblema da Meia-Lua Vermelha. O centro está equipado com banheiros coletivos. Os residentes amarraram uma corda a duas árvores para pendurar roupa.
Rueida Abdel Rahim, de 45 anos, se sente aliviada de ter fugido dos combates, mas está triste porque não pode ver sua filha que deu à luz em Douma, a principal cidade de Ghouta, no dia em que começaram os bombardeios.
"Estou feliz de ter saído, mas triste de não poder entrar em contato com minha filha que deu à luz", diz chorando, junto com seus outros filhos.
O regime sírio e a Rússia, sua aliada, lançaram uma ofensiva em 18 de fevereiro contra o enclave rebelde de Ghuta oriental, bombardeando a zona diariamente. Desde então, reconquistaram 60% do bastião dissidente.
Em outro quarto, Maysa Uyun, de 32 anos, reza por sua mãe e irmãos que ainda se encontram em zonas sob controle dos rebeldes. "Não quero nada além de sua segurança", diz.
Perante o avanço do exército, muitos habitantes abandonaram suas casas.
Arafat Farhat, de um povoado de Ghouta, foi para Misraba, antes de se ver obrigado a fugir outra vez.
"Sofremos muito (...). Meus filhos vinham e me diziam 'papai, não queremos morrer aqui'. (...) Não posso acreditar que continuamos vivos!", conta o homem, com a voz cortada pelo choro.
Arafat trabalhava na construção, e acredita que conseguirá encontrar um emprego para comprar para seus filhos "tudo que queiram". "Um deles sequer conhece o sabor de uma banana ou de uma maçã". As zonas rebeldes de Ghuta sofrem um assédio desde 2013, e uma consequente escassez de comida.
Do lado de fora do centro, crianças brincam com outros deslocados de sua idade.
Hasan Yehya, de 72 anos, tem o coração apertado por ter deixado sua família em Douma. "Espero voltar para vê-los", afirma este pastor. "Por acaso posso viver sem meus filhos em minha idade? Tudo que quero é vê-los. Não peço nada mais".