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Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2012 às 16h13.
Qousseir - "Quando os ferimentos são muito graves, não podemos fazer muito, exceto tentar tornar a morte a menos dolorosa possível". Em um hospital improvisado em Qousseir, na Síria, os médicos tentam salvar as vítimas dos bombardeios.
"Nós não temos o equipamento necessário para tratar pacientes mais gravemente afetados", explica o Dr. Mahmoud Saleh Sadir.
"Sentimos falta de um neurocirurgião, e para aqueles que são feridos na cabeça não há alternativa senão ir para o Líbano. Aqui, podemos rezar por eles, e isso é tudo".
Este médico, que viu o filho morrer em seus braços após ser atingido por uma bomba, continua a trabalhar diariamente neste hospital improvisado.
"Meu dever (...) é continuar a trabalhar até a queda do regime. Eu me tornei médico para salvar vidas. Nós estamos do lado certo, do lado da população civil", afirma.
Criado há nove meses por médicos e enfermeiros que fugiram do hospital de Qousseir, controlado pelo governo, o hospital improvisado foi montado em uma antiga casa no centro da cidade. Recebe a cada mês centenas de vítimas dos bombardeios das forças do governo nesta cidade rebelde localizada no centro do país.
"Recebemos apenas este mês, 570 pacientes com ferimentos causados pelas bombas que caem constantemente sobre a cidade, e mais uma centena de feridos a bala, atingidos principalmente por franco-atiradores escondidos em edifícios", conta o Dr. Kassem Al-Zein, fundador do hospital.
"Tenho chorado muito nestes últimos nove meses, principalmente quando não posso fazer nada por alguns pacientes. Eu permaneço ao lado deles até que morram", conta.
"Eu choro, mais ainda quando é uma criança que morre em meus braços", continua Al-Zein, pai de três filhos.
Ele lembra de cinco crianças gravemente feridas há dois meses por estilhaços de um morteiro. "Eu fiz tudo que podia, mas, no fim das contas, todas elas morreram".
Enquanto ele fala, ressoam, como todos os dias, os disparos de artilharia. Na frente do hospital, um buraco é testemunha da violência.
"Somos um alvo prioritário do regime, por essa razão eles nos bombardeiam constantemente", indica o médico.
"Todos estão com medo, porque o regime nos procura, e se nos detiverem, seremos mortos como traidores".
Hassim Kouliani, um dos enfermeiros, confirma, mas diz: "Não podemos abandonar a população civil, porque significaria morte certa para eles".
Um assobio alto, empurrões nos corredores: um bombardeio matinal aconteceu, as primeiras vítimas começam a chegar. Uma menina de 11 anos de idade chega com a cabeça atingida por estilhaços. Já não há nada a ser feito, ela está morta.
Os enfermeiros carregam duas crianças de três e quatro anos, que chegaram em um carro. Elas têm o rosto ensanguentado, mas nenhum ferimento sério.
A mais nova grita, olhando para sua irmã imóvel em uma maca, enquanto que uma enfermeira limpa o sangue e sutura os ferimentos.
Não só a equipe médica não recebe salário, como também põe a mão no bolso para comprar alguns medicamentos.
"Agora você entende porque é que devemos permanecer aqui? Precisamos ficar por eles", diz Dr. Sadir.
Momentos depois, uma enorme explosão: um míssil atingiu o edifício, semeando o caos no hospital que recebe novos feridos.
"Neste caso, damos prioridade às pessoas que acreditamos que podem sobreviver a uma cirurgia. Não podemos perder tempo, e nem dar oportunidades iguais a todos", explica Ismail Rabia, a enfermeira-chefe que regula as entradas.
Quando os ferimentos são muito graves, os médicos são obrigados a amputar, ou simplesmente acompanhar a morte.
"Temos de escolher quem vai viver e quem vai morrer... Mas no final, dizemos que não somos nós que matamos, foram as bombas de Assad", suspira a enfermeira.