Os militantes jihadistas, que aderem a uma visão radical do islamismo e vêm ganhando poder, representam uma nova ameaça à herança cultural da Síria (Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2015 às 14h32.
Damasco - A Síria declarou ter recuperado mais de 120 antiguidades saqueadas de cemitérios de Palmira, cidade milenar localizada em um oásis, depois de anos de destruição e pilhagens de guerra, disse o diretor de museus do país nesta quinta-feira.
Os saqueadores invadiram tumbas e danificaram templos romanos em Palmira, outrora um ponto de parada vital para viajantes de caravanas que cruzavam o deserto sírio levando especiarias, sedas e perfumes, explicou Ahmad Deeb à Reuters em seu escritório de Damasco.
Os confrontos entre o Exército e os rebeldes danificaram sítios e edifícios históricos em toda a Síria durante os quatro anos da guerra civil ainda em andamento, que já matou 200 mil pessoas.
“As autoridades especiais em Palmira fizeram um ótimo trabalho durante o ano passado, quando devolveram mais de 120 antiguidades, as mais importantes das quais são lápides que foram excavadas em segredo”, disse Deeb.
Infelizmente, alguns dos artefatos saqueados foram levados para fora da Síria, acrescentou.
A Síria é uma arca do tesouro cultural e abriga seis sítios do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês). Quatro destas localidades, incluindo Palmira e Crac des Chevaliers, um castelo dos Cruzados, foram usadas para fins militares, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU).
Quase duas dúzias de bustos tumulares e a lápide de uma criança da necrópole de Palmira foram saqueados em novembro, de acordo com a Unesco.
Entre o primeiro e o segundo séculos d.C., a arte e a arquitetura de Palmira incorporaram técnicas greco-romanas às tradições locais e às influências persas, ainda segundo a Unesco.
Imagens de satélite mostram que 290 sítios da herança cultural da Síria, cuja história remonta ao nascimento da civilização, foram danificados durante o atual conflito, afirmou a unidade de treinamento e pesquisa da ONU em dezembro.
Para preservar sua história, Deeb disse que todos os museus sírios foram esvaziados dois anos atrás, e os artefatos foram postos em armazéns. Antiguidades contrabandeadas de sítios arqueológicos foram documentadas em uma “lista vermelha” entregue à Interpol, a polícia internacional, declarou.
Deeb estima que mais de 1.500 itens podem ter sido roubados de museus de Raqqa, cidade do nordeste sírio atualmente controlada por militantes do Estado Islâmico, e de Deir Atiyah, no norte de Damasco. Alguns ainda estão na Síria, disse.
Os militantes jihadistas, que aderem a uma visão radical do islamismo e vêm ganhando poder, representam uma nova ameaça à herança cultural da Síria. Santuários e tumbas em áreas sob seu domínio foram destruídos por serem vistos como exemplos de idolatria.
Mais de 750 sítios arqueológicos foram atacados, afirmou Deeb. No mês passado, o Conselho de Segurança da ONU proibiu todo o comércio de antiguidades provenientes do país assolado pela guerra.