Soldados israelenses caminham na região da linha de cessar-fogo entre Israel e Síria: a União Europeia pediu para que "a estabilidade da região, que já é precária, não seja colocada em perigo". (Baz Ratner/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2013 às 14h15.
Damasco - O regime sírio, envolvido em uma guerra com a rebelião, que busca a sua queda, afirmou nesta segunda-feira que escolherá o momento certo para responder aos ataques israelenses contra seu território, que deixaram 42 mortos e provocaram o temor de um conflito regional.
A ONU e a Rússia, um dos poucos aliados do presidente sírio Bashar al-Assad, advertiram para o perigo de uma escalada regional após os ataques aéreos israelenses contra posições militares sírias na sexta-feira e no domingo perto de Damasco, e as ameaças do Irã e do Hezbollah libanês, os outros dois grandes apoios do regime sírio.
Outra fonte de preocupação é o suposto uso de armas químicas.
No entanto, a comissão de investigação internacional independente sobre a Síria, patrocinada pela ONU, afirmou nesta segunda-feira, em um comunicado, que "não alcançou os resultados que lhe permitam concluir que foram utilizadas armas químicas pelas partes em conflito".
"Consequentemente e até o momento, a Comissão não está na posição de comentar estas alegações", acrescenta este comunicado, que aparentemente refuta as declarações à imprensa de um de seus membros, a promotora suíça Carla del Ponte, que falou sobre a utilização de gás sarin pelos rebeldes.
Carla del Ponte - que em seus mandatos anteriores, sobretudo quando era promotora do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII), se destacou por suas declarações radicais à imprensa - havia afirmado no domingo à noite, em italiano diante das câmeras da televisão pública suíça do Tesino, que havia visto um relatório "sobre testemunhos obtidos relativos à utilização de armas químicas, em particular gás sarin, pelos opositores, e não pelo governo".
Falou de "fortes suspeitas, de suspeitas concretas" e considerou que não era surpreendente que os rebeldes tenham utilizado gás sarin, "já que há combatentes estrangeiros que se infiltraram entre os opositores".
Em um primeiro balanço do ataque de domingo, uma ONG informou sobre ao menos 42 soldados sírios mortos e uma centena de desaparecidos.
"A Síria responderá à agressão israelense, mas escolherá o momento de fazê-lo. Isto talvez não ocorra imediatamente, já que Israel está em estado de alerta", disse à AFP nesta segunda-feira um líder político sírio próximo ao poder, contactado por telefone, que disse que "vamos esperar, mas responderemos".
Para Damasco, estas agressões abrem a porta a todas as opções e fazem com que a situação na região seja mais perigosa. A televisão síria advertiu que "os mísseis sírios estão preparados para atacar alvos precisos em caso de violação".
Diante do temor de eventuais represálias, Israel anunciou a mobilização de duas baterias antimísseis no norte do país, ordenou o fechamento do espaço aéreo nesta zona até a noite desta segunda-feira e reforçou as medidas de segurança em suas embaixadas em todo o mundo.
Um funcionário israelense afirmou que os ataques estiveram dirigidos contra um depósito de munições iranianas destinadas ao Hezbollah, o poderoso movimento xiita libanês, protegido do Irã e aliado do regime de Bashar al-Assad.
No entanto, Teerã desmentiu que existam armas iranianas nos alvos bombardeados por Israel, e ameaçou Israel com "acontecimentos graves na região dos quais nem os Estados Unidos nem Israel sairão vencedores".
No dia 30 de abril, o chefe do Hezbollah, Hasan Nasrala, cujos homens combatem do lado do exército do regime sírio, afirmou que seu movimento e o Irã não permitirão a queda de Assad.
Ataques, ameaças e eventuais represálias podem dar uma guinada ao conflito sírio, que já expulsou dezenas de milhares de sírios em direção aos países vizinhos.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "muito preocupado", pediu que "todas as partes demonstrem o máximo de calma e contenção, assim como ajam de maneira responsável para evitar uma escalada do que já é um conflito devastador e muito perigoso".
Além disso, a Rússia considera que os ataques israelenses podem provocar uma escalada, com o risco de que surjam focos de tensão nos países vizinhos, em particular no Líbano.
A China, aliada do regime de Damasco, se juntou às críticas.
A porta-voz da chancelaria, Hua Chunying, disse que seu governo não apenas se opõe ao uso da força, mas "considera que é preciso respeitar a soberania de todos os países" por ocasião da visita do presidente palestino, Mahmud Abbas, e do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
A União Europeia, diante do temor de que o conflito se propague, pediu para que "a estabilidade da região, que já é precária, não seja colocada em perigo".
Desde o início do conflito, em março de 2011, com a repressão do regime da revolta pacífica da rebelião, Israel realizou três ataques contra alvos perto de Damasco, no dia 30 de janeiro e nos dias 3 e 5 de maio.
Mais de 70.000 pessoas morreram na Síria desde o início da revolta, em março de 2011, que se degenerou em uma guerra civil pela brutal repressão do regime de Assad.
O alvo do ataque de 5 de maio era um centro de pesquisas científicas em Jamraya (nos arredores de Damasco) que já havia sido atacado em janeiro por Israel, um depósito de munições e uma unidade de defesa antiaérea -, segundo uma fonte diplomática em Beirute.
Após estes ataques, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, presidiu uma reunião de emergência com seu gabinete de segurança sobre o tema sírio, antes de viajar à China.
No sábado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, considerou que se justifica que Israel tente se proteger da "transferência de armas sofisticadas a organizações terroristas como o Hezbollah".