(Michael M. Santiago/Getty Images)
AFP
Publicado em 27 de julho de 2022 às 08h01.
Steven Lopez, o sexto réu do caso conhecido nos EUA como "Os Cinco do Central Park", teve sua sentença anulada 33 anos após sua condenação. Ele foi preso juntamente com outros cinco jovens negros e latinos, condenados por agredir e estuprar Trisha Meili que corria no parque na noite de 19 de abril de 1989.
A jovem de 28 anos ficou em coma por 12 dias. O crime chocou Nova York, ganhou destaque na mídia e agravou a divisão racial da cidade. Seis adolescentes negros e hispânicos, entre 14 e 16 anos, foram presos naquela noite. Cinco deles por envolvimento direto - Korey Wise, Kevin Richardson, Raymond Santana, Antron McCray e Yusef Salaam. Um sexto - Lopez - não assumiu a culpa e fechou um acordo com promotoria para ter uma sentença reduzida.
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"Falamos sobre os 'Cinco do Central Park', mas havia seis pessoas na acusação", disse Alvin Bragg, promotor de Manhattan, no pedido de anulação da sentença. "Os outros cinco tiveram suas acusações anuladas. Agora é hora de retirar a acusação de Lopez."
Na noite do crime, a polícia de Nova York identificou um grupo de 30 a 40 adolescentes assaltando e assediando frequentadores em várias partes do parque. No fim, acabou prendendo seis jovens que seriam encaminhados para um tribunal juvenil - não fosse a descoberta macabra, por volta de 2 horas da manhã, do corpo de Meili jogado quase sem vida em uma ravina.
Imediatamente, os seis passaram a ser tudo o que a polícia tinha nas mãos. Todos foram condenados. Os cinco cumpriram 45 anos somados. Lopez, que tinha 15 na época, passou 3 anos na cadeia. Mas, em 2001, uma reviravolta hollywoodiana mudou o rumo do caso.
Matias Reyes, um estuprador em série, confessou o crime - em 1989, ele havia estuprado quatro mulheres, matado uma e foi preso após assaltar uma quinta vítima. No relato, ele deu detalhes que só os detetives poderiam saber. Além disso, seu DNA bateu com o encontrado na cena do crime.
A partir daí, era uma questão de tempo até que as autoridades anulassem as condenações e libertassem os cinco que ainda estavam na cadeia. Um inquérito revelou que a polícia usou declarações falsas, coerção e forjou provas para obter as confissões.
Em 2014, os cinco condenados fizeram um acordo para receber US$ 41 milhões em indenização da cidade de Nova York e se tornaram tema de filmes, livros e viraram ícones do ativismo social. Lopez, porém, foi esquecido. Ele não apareceu no documentário de 2012, de Ken Burns, e ficou de fora do seriado Olhos que Condenam, da Netflix, de 2019.
Sua história foi ignorada em parte porque ele nunca recorreu da condenação. Em vez disso, apareceu discretamente no gabinete do promotor de Manhattan, em fevereiro de 2021, pedindo que sua condenação fosse revogada.
Bragg concordou. Ele disse a um juiz que Lopez havia se declarado culpado involuntariamente "em face de declarações falsas" e sob "imensa pressão". Casos como o de Lopez, segundo o promotor, ajudam a restaurar a fé no sistema legal.