Mundo

Setor espacial privado: o novo campo de batalha entre China e Estados Unidos

O espaço se tornou um campo de batalha entre China e Estados Unidos, que se acusam mutuamente de ocultar os objetivos militares de seus respectivos programa

A sonda lunar chinesa Chang'e-6 logo após pousar no lado oculto da Lua, em 3 de junho de 2024 (AFP)

A sonda lunar chinesa Chang'e-6 logo após pousar no lado oculto da Lua, em 3 de junho de 2024 (AFP)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 9 de junho de 2024 às 15h47.

Última atualização em 9 de junho de 2024 às 18h24.

A primeira decolagem da história saindo do lado oculto da Lua com amostras de lá, nesta semana, demonstrou os grandes avanços da China no espaço. O país espera que seu setor privado rivalize com empresas como a SpaceX, fundada por Elon Musk.

As companhias espaciais chinesas estão ficando para trás em relação às americanas, especialmente a SpaceX, que conseguiu que seu foguete Starship, destinado a viagens à Lua e a Marte, pousasse no mar com sucesso pela primeira vez na quinta-feira, 6.

Mas a diferença entre os concorrentes está diminuindo, já que o governo chinês começou a apoiar o setor privado, o que permite fortalecer as capacidades da potência asiática, afirmaram especialistas à AFP.

"Em cinco anos, é provável que a SpaceX sinta a pressão", afirma Chen Lan, especialista no programa espacial chinês.

O que aconteceu no mercado de veículos elétricos "pode se reproduzir" no espaço, acrescenta, referindo-se às vendas do grupo chinês BYD, que no último trimestre de 2023 superaram as da montadora de automóveis Tesla, também fundada por Musk.

A China abriu seu setor espacial ao capital privado no final de 2014 e, desde então, centenas de empresas surgiram.

O lançador "Ceres-1", projetado pela empresa chinesa Galactic Energy, colocou três satélites em órbita na quinta-feira, e Pequim tem dezenas de lançamentos programados para este ano.

"O setor espacial privado chinês é de uma dimensão impressionante", diz Blaine Curcio, fundador da consultoria Orbital Gateaway Consulting.

A SpaceX continua "na liderança" do setor, mas "as empresas chinesas estão à frente se comparadas à quinta ou décima" do setor em qualquer um dos dois países, acrescenta.

13.000 satélites

Os programas espaciais estatais chineses realizaram voos tripulados, construíram uma estação espacial e levaram rovers à Lua e a Marte, onde planejam enviar missões tripuladas por volta de 2030 e 2033, respectivamente.

A sonda chinesa Chang'e-6 iniciou na terça-feira o retorno à Terra com amostras coletadas do lado oculto da Lua, estabelecendo um marco na exploração espacial.

O setor privado chinês, por sua vez, se especializa atualmente no lançamento de satélites e veículos espaciais como parte de programas de menor custo.

No entanto, suas capacidades de lançamento serão de grande importância para cumprir o objetivo governamental de estabelecer megaconstelações de satélites, destacou em abril a rede de televisão estatal CCTV.

Duas redes desse tipo estão atualmente em desenvolvimento: Guowang, que será composta por 13.000 satélites, e G60, com 12.000.

No entanto, atualmente há apenas algumas centenas de satélites chineses em órbita.

Segundo a CCTV, a rapidez do desenvolvimento é crucial, já que os projetos espaciais chineses enfrentam a intensa competição de outros países e as limitações do número de artefatos espaciais em órbita e das frequências disponíveis.

A cadeia de televisão nacional mencionou várias vezes a SpaceX como exemplo. Seus foguetes Falcon 9 são usados pela Nasa e sua constelação de satélites Starlink cobre dezenas de países.

O espaço se tornou um campo de batalha entre China e Estados Unidos, que se acusam mutuamente de ocultar os objetivos militares de seus respectivos programas.

Um ex-responsável pelo comando militar espacial dos EUA declarou recentemente que a próxima década será "a mais crucial" em termos de competição espacial com a China.

"Não podemos nos dar ao luxo de ser derrotados", acrescentou.

"Indústria estratégica emergente"

Na China, o Estado e as empresas privadas mantêm "laços estreitos", já que muitas delas foram fundadas por ex-funcionários de empresas estatais ou de instituições governamentais, explica Curcio.

As relações nem sempre foram fáceis, "pois o governo reluta em abandonar qualquer monopólio" e "as empresas têm menos capacidade de manobra", acrescenta.

Mas em dezembro, altos funcionários do governo chinês descreveram o setor espacial privado como uma "indústria estratégica emergente" que deve ser "fomentada".

Empresas privadas chinesas realizaram 26 lançamentos em 2023, segundo meios de comunicação oficiais.

Entre eles, o lançamento do foguete Zhuque-2, projetado pela empresa privada LandSpace, o primeiro foguete movido a metano, uma técnica que permite reduzir custos.

"A próxima grande etapa será projetar um foguete semelhante ao Falcon 9 da SpaceX e dominar a técnica de reutilização do primeiro módulo" do lançador, afirma Chen, que vê como provável que várias companhias chinesas alcancem esses objetivos em 2024.

Além disso, espera-se que o setor privado realize 30 dos 100 lançamentos planejados por Pequim neste ano.

Para efeitos de comparação, a SpaceX realizou 98 dos 109 lançamentos americanos no ano passado, segundo o astrofísico Jonathan McDowell.

Mas, segundo Chen, a situação poderia ser "totalmente diferente" daqui a cinco anos.

Acompanhe tudo sobre:ChinaEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Brasil está confiante de que Trump respeitará acordos firmados na cúpula do G20

Controle do Congresso dos EUA continua no ar três dias depois das eleições

China reforça internacionalização de eletrodomésticos para crescimento global do setor

Xiaomi SU7 atinge recorde de vendas em outubro e lidera mercado de carros elétricos