Rachel Levine: médica liderou o combate ao coronavírus na Pensilvânia (AFP/AFP)
Carolina Riveira
Publicado em 24 de março de 2021 às 20h36.
Última atualização em 24 de março de 2021 às 21h33.
O Senado dos Estados Unidos votou para aprovar na noite desta quarta-feira, 24, Rachel Levine para a Secretaria de Saúde do país. A confirmação faz da pediatra a primeira mulher transexual a ser confirmada pelo Senado para um posto no governo.
Levine será subsecretária de Saúde, um dos principais cargos executivos da pasta (similar ao Ministério da Saúde no Brasil). A especialista foi indicada pelo presidente democrata Joe Biden.
Sua aprovação no Senado teve forte oposição do Partido Republicano, mas ela terminou sendo confirmada por 52 votos a 48, com somente dois dos 50 republicanos votando a favor de sua nomeação.
Votaram a favor de Levine entre os republicanos somente as senadoras Lisa Murkowski, do Alasca, e Susan Collins, do Maine. No Senado, que tem 50 senadores para cada lado, todos os democratas votaram pela indicação.
Como assistente na Secretaria de Saúde, Levine terá papel crucial nos esforços da nova gestão americana no combate à covid-19. A pandemia já matou nos EUA 545.000 americanos, mas o número de mortes caiu mais de 20% em meio à vacinação no país.
Antes de chegar à Washington D.C, Levine foi secretária de Saúde da Pensilvânia desde 2017, liderando a resposta do estado ao coronavírus. A médica tem 63 anos e também atuou como professora de pediatria e psiquiatria na Penn State University, no mesmo estado.
Ao anunciar a escolha de Levine, Biden chamou a indicação de "histórica" e disse que a médica é "profundamente qualificada".
"A Dra. Rachel Levine trará a liderança estável e expertise essencial que nós precisamos para que as pessoas atravessem esta pandemia - independentemente de seus CEPs, raça, religião, orientação sexual, identidade de gênero ou doenças - e para atender às necessidades de saúde pública de nosso país neste momento crítico e além", disse Biden em uma declaração ao anunciar Levine como sua indicada.
Um dos motivos citados por Biden para escolha de Levine, além do trabalho elogiado no combate ao coronavírus na Pensilvânia, foi o fato de a médica ter conseguido repetidas aprovações no Senado estadual do estado, mesmo este sendo controlado pelos republicanos.
Apesar da expectativa de consenso em torno do nome, a oposição foi intensa durante a sabatina de confirmação da nomeação.
Um dos momentos mais tensos da sessão foi quando o senador republicano Paul Randy, do Kentucky, focou as perguntas à médica sobre tratamentos para mudança de gênero durante a adolescência.
"Você acredita que os menores são capazes de fazer decisões tão impactantes quanto mudar de sexo", perguntou. Levine respondeu que os medicamentos para pessoas transexuais "são um campo muito complexo e feito de nuances, com pesquisa robusta e procedimentos padrões de cuidado", e disse estar aberta a discutir posteriormente o assunto.
Senadores também criticaram medidas de quarentena tomadas por Levine para controlar a pandemia na Pensilvânia. Durante a pandemia, Levine recebeu uma série de ataques e ameaças de morte nas redes sociais, casos que ganharam repercussão nacional nos EUA.
A médica é formada pela Universidade Harvard, e já publicou artigos sobre a crise dos opioides, distúrbios alimentares e saúde da população LGBTQ.
Além de Levine, o gabinete do presidente Joe Biden tem sido descrito como o mais diverso da história. Um dos principais nomes entre mulheres e minorias raciais é a secretária do Tesouro, Janet Yellen. Também no gabinete de Biden está o primeiro secretário abertamente gay da história, o ex-prefeito no estado de Indiana e ex-candidato nas prévias presidenciais democratas, Pete Buttigieg. Entre os destaques estão ainda nomes como Miguel Cardona, secretário de Educação e cuja família é de Porto Rico.
Dos principais nomes do gabinete inicial, 55% não é branco e 45% é mulher. São as maiores participações de minorias até hoje em altos cargos do gabinete. O governo Trump teve no primeiro grupo escalado 18% de mulheres e 18% de pessoas não brancas, enquanto Barack Obama teve 36% e 45%, respectivamente.
Conheça o podcast Exame Política, no ar todas as sextas-feiras