Sarkozy pode seguir os mesmos passos de seu antecessor Jacques Chirac, que foi condenado por um caso de corrupção após deixar o Eliseu (Pablo Blazquez/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2012 às 15h46.
Paris - Um mês após sua saída do Palácio do Eliseu, o ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, perde a imunidade ligada ao seu antigo cargo nesta sexta-feira e, por isso, a Justiça francesa deverá retomar quatro investigações judiciais que envolvem seu nome.
Duas delas estão relacionadas com o financiamento de sua campanha eleitoral em 2007 e outra com a de Edouard Balladur em 1995, quando Sarkozy era ministro de Orçamento e porta-voz.
Já o último caso é atribuído a alguns contratos de pesquisas eleitorais no início de seu governo.
Diante desta situação, Sarkozy pode seguir os mesmos passos de seu antecessor Jacques Chirac, primeiro chefe de Estado francês que foi levado à Justiça e, posteriormente, condenado por um caso de corrupção após deixar o Eliseu.
Assim como Chirac, Sarkozy também se beneficiou da imunidade do posto de chefe de Estado, o que atrasou o desenvolvimento de algumas investigações. Por conta deste fato, o atual inquilino do Palácio do Eliseu, François Hollande, se comprometeu a revisar a lei para que o presidente seja tratado como um cidadão normal, situação que Sarkozy vivenciará a partir desta noite.
A investigação judicial mais avançada envolvendo o nome de Sarkozy é a relacionada ao suposto financiamento ilegal da campanha eleitoral em 2007, que teria sido paga pela multimilionária Liliane Bettencourt, herdeira da empresa de cosméticos L'Oréal.
Um juiz instrutor de Bordeaux investiga se Liliane, a segunda pessoa mais rica da França, repassou grandes quantias de dinheiro a Sarkozy, seja diretamente ou através do então tesoureiro de sua campanha, o ex-ministro Éric Woerth.
O caso, revelado por acaso após uma investigação paralela, levou o juiz a processar Woerth e Patrice de Maistre, o ex-conselheiro financeiro de Liliane e suposto receptor de 500 mil euros, aparentemente destinada ao ex-tesoureiro de Sarkozy, segundo Maistre.
Sarkozy pode ser convocado por essas suspeitas e também para explicar suas visitas ao domicílio de Liliane na cidade de Neuilly-sul-Seine, onde o ex-presidente foi prefeito.
A campanha eleitoral que derrotou a socialista Ségolène Royal também pode entrar na mira da justiça, já que o ex-ditador líbio Muammar Kadafi, pouco antes de sua queda, assegurou ter financiado Sarkozy em 2007.
Posteriormente, a imprensa divulgou documentos supostamente oficiais que demonstram que Kadafi autorizou o pagamento de 50 milhões de euros à campanha de Sarkozy. No entanto, até agora, a Justiça não abriu nenhuma investigação oficial sobre o caso.
Outro assunto que pode comprometer o ex-presidente se refere ao financiamento da campanha de Balladur em 1995. Na ocasião, Sarkozy era ministro de Orçamento e, portanto, responsável por uma série de contratos de venda de armas ao Paquistão e à Arábia Saudita.
Segundo os investigadores, esses contratos geraram o pagamento de uma série de comissões que foram usadas para financiar a campanha presidencial do então primeiro-ministro Balladur, que, por sua vez, não chegou nem ao segundo turno.
A Justiça francesa também pretende abrir uma investigação contra Sarkozy para apurar a atribuição de contratos para elaborar pesquisas eleitorais. Entre junho de 2007 e julho de 2009, a Presidência francesa encomendou 264 pesquisas, por um valor de 6,35 milhões de euros, à empresa de um conselheiro político de Sarkozy, Patrick Buisson - o que chama atenção neste caso é a falta de licitação pública.
Em um relatório, o Tribunal de Contas denunciou que o valor deste contrato era excessivo, mas os magistrados se viram obrigados a interromper as pesquisas pela então imunidade presidencial de Sarkozy. No entanto, esse caso deverá voltar à tona a partir de amanhã.