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Sem favoritos, cardeais se dirigem para o conclave

Cardeais entraram na basílica de São Pedro enquanto um coro cantava, na missa solene que antecede ao conclave

Cardeais vão à missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano (Stefano Rellandini/Reuters)

Cardeais vão à missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano (Stefano Rellandini/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 12 de março de 2013 às 10h20.

Cidade do Vaticano - Cardeais católicos rezaram na terça-feira pedindo ajuda divina, horas antes de iniciarem o conclave que elegerá um papa responsável por enfrentar uma das maiores crises na história da Igreja Católica Apostólica Romana.

Os cardeais, inclusive os 115 com menos de 80 anos que participarão da escolha, entraram na basílica de São Pedro enquanto um coro cantava, na missa solene que antecede ao conclave.

Eles pediram a Deus que os inspire para escolherem o homem certo para o lugar de Bento 16, que renunciou repentinamente no mês passado, dizendo não ter mais forças para confrontar os problemas da Igreja, cujo 1,2 bilhão de membros segue a liderança de Roma.

A missa foi o último evento coletivo dos cardeais antes de entrarem na tarde desta terça-feira na Capela Sistina, onde farão a eleição sob o famoso afresco do Juízo Final, de Michelangelo.

Na sua homilia, o italiano Angelo Sodano, decano dos cardeais, disse que eles rezariam para que "o Senhor nos conceda um pontífice que abrace esta nobre missão com um coração generoso".

Ele pregou mais unidade dentro da Igreja e pediu a todos que colaborem com o futuro papa.

O conclave é um processo secreto, cheio de rituais e orações, que pode levar vários dias. O eleito será o 266º pontífice.

Não há um favorito claro, mas vaticanistas dizem que o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer estão despontando. O primeiro devolveria o pontificado aos italianos após um hiato de 35 anos, ao passo que o segundo se tornaria o primeiro papa não-europeu em 1.300 anos.

Mas vários outros candidatos também têm sido citados, como os norte-americanos Timothy Dolan e Sean O'Malley, o canadense Marc Ouellet e o argentino Leonardo Sandri.


Os cardeais --conhecidos como "príncipes da Igreja"-- só deixarão seu recolhimento quando tiverem escolhido o novo líder da Igreja, que enfrenta escândalos sexuais, disputas internas, dificuldades financeiras e o crescimento do secularismo.

Muitos católicos observam o conclave à espera de mudanças positivas.

"Não é um momento ansioso, mas um momento de grande esperança. A primeira coisa que a Igreja deveria fazer é voltar às vidas das pessoas, em vez de se perder na teologia", disse o italiano Andrea Michieli, de 22 anos, que foi à missa.

"O novo papa deve dar uma imagem jovem para a Igreja, para que todos vejam que Cristo não é só a Cúria (a burocracia do Vaticano)." O cardeal mexicano Norberto Rivera Carrera disse ao jornal italiano La Stampa que há muitas opiniões divergentes sobre o perfil adequado do futuro papa. Segundo ele, alguns querem um acadêmico, outros buscam alguém popular, e há quem prefira um bom gestor.

Questionado sobre a chance de isso resultar em um conclave prolongado, ele negou. "Chegaremos a um acordo muito rapidamente", afirmou.

A duração média dos últimos nove conclaves foi ligeiramente superior a três dias, e nenhum durou mais do que cinco.

Sinalizando a divisão entre os cardeais, jornais italianos noticiaram na terça-feira que houve um confronto aberto entre prelados em uma reunião preliminar da segunda-feira.

Os jornais disseram que o cardeal italiano Tarcisio Bertone, número 2 na hierarquia vaticana durante o pontificado de Bento 16, acusou o brasileiro João Braz de Aviz de vazar comentários críticos à mídia. Aviz teria respondido que os vazamentos estavam partindo da própria Cúria, e foi muito aplaudido.

Apostas

Vaticanistas dizem que Scola, que comandou duas grandes dioceses italianas, poderia estar mais bem posicionado para compreender a política bizantina do Vaticano --da qual ele nunca participou--, podendo assim introduzir reformas rápidas.


Mas os cardeais que trabalham na Cúria estariam, segundo essas fontes, se agrupando em torno de Scherer, que trabalhou durante sete anos na Congregação dos Vaticano para os Bispos, antes de assumir a arquidiocese de São Paulo --a maior do Brasil, país com o maior número de católicos no mundo.

Apenas 24 por cento dos católicos vivem na Europa, e cresce dentro da Igreja a pressão para que o novo papa seja de outra região, trazendo uma diferente perspectiva.

Os cardeais latino-americanos podem se preocupar mais com a pobreza e a ascensão das religiões evangélicas do que com questões como o materialismo e os abusos sexuais, que dominam as preocupações nos países desenvolvidos. Para os prelados da África e Ásia, a expansão do islamismo seria a questão mais relevante.

Os cardeais devem realizar sua primeira votação no fim da tarde de terça-feira, e provavelmente nenhum dos participantes obterá os 77 votos necessários (maioria de dois terças).

Eles então passarão a noite em um hotel do Vaticano, voltando na quarta-feira à Capela Sistina. A partir daí, serão quatro votações por dia. Quando o novo papa for eleito, uma fumaça branca sairá do teto da capela, os sinos do Vaticano vão soar, e um cardeal aparecerá na sacada para anunciar que "habemus papam" (temos papa).

Como na época medieval, os cardeais ficam proibidos de se comunicar com o resto do mundo. O Vaticano recorreu à tecnologia para adaptar esse sigilo ao século 21, o que incluiu a instalação de mecanismos que embaralham sinais eletrônicos.

Na manhã de terça-feira, os cardeais começaram a se deslocar para o hotel Santa Martha, onde se alojarão durante o conclave.

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