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Sem dados nas ruas, carteiros de Cabul são quase detetives

Muitas ruas de Cabul não têm nome ou número, o que obriga os carteiros a se tornarem detetives para entregar as correspondências


	Cabul, no Afeganistão: calvário dos carteiros pode chegar ao fim com acordo para implementação de sistema de endereçamento
 (Getty Images)

Cabul, no Afeganistão: calvário dos carteiros pode chegar ao fim com acordo para implementação de sistema de endereçamento (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 22 de agosto de 2013 às 14h53.

Cabul - Depois de três décadas de guerra e organização urbana anárquica, muitas ruas de Cabul não têm nome ou número, obrigando os carteiros a se tornarem detetives para entregar as correspondências.

Em uma bicicleta velha, Mohamad Rahim percorre seu caminho através das ruas íngremes da capital afegã. Com dez anos de experiência, nem os endereços mais misteriosos são capazes de assustá-lo.

"Esta é uma carta para um homem que vive perto da casa de um tal doutor Hashmat", conta Rahim, de 46 anos. "Eu não conheço este endereço e vou ter que encontrar uma maneira de descobrir onde é".

Rahim tem algumas pistas: o nome do destinatário, o fato de ele viver perto de um médico e as instruções do verso do envelope, que dizem: "Colina Kart-e-Sakhi, atrás do Ministério da Agricultura".

São boas pistas, mas não suficientes. Por isso, Mohamad "Sherlock" Rahim iniciou sua investigação conversando com os vizinhos.

"Irmão, você sabe onde é a casa do dr. Hashmat?", pergunta a um comerciante. "Suba o morro e vire à direita", responde o homem.

Rahim, então, sobe em sua bicicleta e segue as orientações. A pista é quente. "Vire à direita, é a terceira casa à esquerda".

O carteiro entra em uma estrada de terra, coberta por pedras e lixo. A subida íngreme o obriga a sair da bicicleta. Poucos metros à frente, consegue encontrar a casa.

A esposa do destinatário, uma mulher de cerca de 40 anos, recebe a carta na porta. Missão cumprida.

A capital afegã está, há alguns anos, em plena metamorfose: sua população cresceu acentuadamente devido à migração de muitas pessoas que vêm à procura de trabalho ou fugindo da violência, e já atingiu a marca de cinco milhões de habitantes.


Este processo fez com que vários edifícios tenham surgido em muitos lugares da cidade, até mesmo sem permissão, em alguns casos.

Mas o calvário dos carteiros pode chegar ao fim porque, há algumas semanas, o ministério das Comunicações assinou um acordo com o governo municipal para implementar um novo sistema de endereçamento.

As ruas e as casas deverão ser registradas, numeradas e identificadas em um mapa, graças a um dispositivo de localização por satélite. O projeto levará dois anos para ser finalizado e o governo pretende estendê-lo para outras cidades.

Khan Agha, outro carteiro, de 42 anos, aguarda ansiosamente a melhoria, já que a atual disposição caótica das ruas faz com que o trabalho do correio seja "o mais difícil do mundo". "Quando o projeto for implementado, poderemos fazer o nosso trabalho com mais facilidade", garante.

Com 900 carteiros no país, 100 na capital, o avanço tecnológico pode fazer com que novos afegãos escolham a profissão, apesar dos baixos salários. Agha ganha cerca de 90 dólares por mês, o que mal dá para alimentar sua família de oito pessoas.

Antes de começar seu dia de trabalho, este ex-soldado, que sofre com um ferimento causado por uma bala que atingiu a parte de trás da sua cabeça e "saiu pela órbita do olho direito", precisa encontrar as cartas que correspondem ao seu setor em uma enorme pilha no chão.

Às vezes, um "número de telefone na parte de trás do envelope pode ajudar". "Nós ligamos para o destinatário, que nos diz onde podemos encontrá-lo", conta Agha, que é carteiro há 22 anos.

"Devemos entregar esta carta para a Sra. Barbara, que veio da Alemanha", conta. E, como é comum acontecer, o envelope indica apenas o bairro, sem nome da rua ou número da casa. É o começo de uma nova investigação.

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