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Seca devolve povoado venezuelano após 30 anos debaixo d'água

O pequeno povoado foi desalojado em 1984 para ceder espaço para a Usina Hidroelétrica Uribante-Caparo


	Potosí: o pequeno povoado foi desalojado em 1984 para ceder espaço para a Usina Hidroelétrica Uribante-Caparo
 (Wikimedia Commons)

Potosí: o pequeno povoado foi desalojado em 1984 para ceder espaço para a Usina Hidroelétrica Uribante-Caparo (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2016 às 14h10.

A seca causada pelo fenômeno El Niño revelou as ruínas de Potosí, um povoado encravado nos Andes venezuelanos que desapareceu nos anos 1980, submerso pela construção de um complexo hidrelétrico no norte do estado de Táchira, fronteira com a Colômbia.

Cerca de 1.185 metros acima do nível do mar, no descampado onde em algum momento existiu Potosí, se pode ver hoje a fachada de uma igreja, os vestígios do cemitério e alguns blocos de concreto do que um dia foram casas, constataram jornalistas da AFP.

O pequeno povoado foi desalojado em 1984 para ceder espaço para a Usina Hidroelétrica Uribante-Caparo, que fornece energia para os estados andinos da Venezuela.

Mas, pouco a pouco, ante a severa seca dos últimos anos, principalmente a de 2016, a represa foi secando.

Os visitantes chegam por terra até a entrada da represa La Honda, a mais antiga do complexo. Depois, tomam embarcações com capacidade para cerca de sete pessoas, que navegam pelas águas do açude durante dez minutos, até chegar à Potosí.

Durante os meses de seca, os habitantes do norte tachirense visitam Potosí para acampar nos finais de semana, e inclusive para comemorar festas de casamento e batizados, enquanto algumas cabeças de gado pastam nos terrenos.

Uma nova vida

Potosí fica a quase 300 km de San Cristóbal, capital de Táchira, no caminho para Pregonero, o povoado onde foram reinstalados muitos dos habitantes desalojados pelas obras da hidroelétrica.

Nascida em Potosí, Mireya Pérez era adolescente quando o governo do então presidente Carlos Andrés Pérez ordenou que o povoado fosse desalojado.

Atualmente visita as ruínas com frequência para "recordar onde moravam os vizinhos e onde brincávamos quando éramos crianças", disse à AFP.

Embora o pai de Pérez, que cuidava de sítios, não fosse proprietário de nenhum terreno, as autoridades o indenizaram com um capital que lhe permitiu comprar uma casa nova em Pregonero e "começar uma nova vida".

"Quando vimos que a água chegava a uma distância de quase cinco metros da nossa casa, entendemos que tínhamos que sair de Potosí. A companhia elétrica nos convenceu e levamos o pouco que nos restava em uma lancha e um helicóptero", lembra.

Após a evacuação, demorou vários anos para que a represa enchesse e as obras do complexo fossem concluídas.

"Depois da primeira inundação do açude, nos anos noventa, decidimos elevar em dois metros a cruz que estava sobre o campanário para que pudéssemos apreciá-la quando o açude estivesse na sua capacidade máxima", contou à AFP Genaro Rojas, um camponês de 60 anos que nasceu no povoado e hoje mora em San Cristóbal.

Funcionários da companhia estatal Corpoelec, que pediram que sua identidade fosse preservada, estimam que para recuperar hoje o nível máximo do açude La Honda seria necessário que chovesse durante 24 meses consecutivos na zona.

A crise energética que afeta a Venezuela levou o governo do presidente Nicolás Maduro a implementar um racionamento do serviço elétrico nos estados mais populosos e industrializados do país, incluindo Táchira.

Maduro afirmou que a seca dos últimos dois anos é a pior em quatro décadas, e que causou estragos no sistema hidroelétrico venezuelano, levando a represa de Guri, a mais importante do país, "aos níveis mais baixos de toda a história".

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