Mundo

"Se eu estivesse lá, mataria James Holmes"

Os defendores do porte de arma acham que o dano seria menor se houvesse alguém armado no cinema

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2012 às 20h28.

Aurora - "Se eu estivesse lá, o teria matado". Essa é a frase recorrente dos defensores do porte de armas, que defendem a tese de que, se houvesse alguém armado no cinema de Aurora, o número de mortos no massacre desencadeado por James Holmes teria sido menor.

"Não acho que o direito de portar armas tenha criado o problema. De fato, se tivesse alguém com uma arma lá, isso poderia ter reduzido o dano. Se eu estivesse lá, teria detido parte do dano", declarou John Oberly, um treinador de rúgbi de 51 anos, que pratica tiro ao alvo.

O pensamento de Oberly é compartilhado por muitos comentaristas que defendem a "Segunda Emenda da Constituição", que garante o direito de portar armas.

Oberly falou com a AFP enquanto comprava munição em uma das muitas lojas de armas de Aurora, um subúrbio de Denver. Localizada entre uma cafeteria e um restaurante mexicano, o lugar tem a aparência de uma loja de departamentos.

Dedicada principalmente aos aficionados da caça, com uma decoração marcada por animais empalhados, a loja oferece fuzis, pistolas, munições, trajes e artigos de acampamento.

Uma menina de 5 ou 6 anos experimenta um rifle. "Querida, esse é muito grande para você. Vamos procurar outro", diz a mãe.

"Os defensores das armas estão dizendo que, se tivesse alguém (no cinema) portando armas, o massacre não teria ocorrido", afirmou à AFP Eileen McCarron, do Colorado Ceasefire Capitol Fund, que defende um maior controle de armas.

"O cinema estava no escuro, havia cerca de 200 pessoas dentro e o atacante usou gases. Não havia como outra pessoa armada fazer nada, a não ser matar mais inocentes", argumentou.

O debate é um tema constante nos Estados Unidos, que já viveu muitas tragédias parecidas com a de Aurora no passado.


Os casos mais conhecidos são o massacre de 1999 em uma escola de Columbine (a 35 km de Aurora), quando dois estudantes mataram 13 pessoas; o da Universidade de Virginia Tech em 2007, quando um homem matou 32; o de uma base militar no Texas, em 2009, onde morreram 13 e o tiroteio de Tucson, em 2011, que feriu a congressista Gabrielle Giffords e matou seis pessoas.

A polêmica levantada virou tema do documentário de 2002 "Tiros em Columbine", onde o diretor Michael Moore conclui que uma das causas deste tipo de violência é a facilidade com que armas são compradas no país.

Na madrugada de sexta-feira, durante a estreia do novo filme do Batman, um homem - supostamente James Holmes, de 24 anos - matou 12 pessoas e feriu 58. Carregava um rifle e disparou 60 tiros por minuto.

Em apenas oito semanas, havia comprado 6.300 cargas de munição.

Comprar armamento "é muito fácil se você não é um criminoso", disse Oberly na loja de armas. "Checam seu nome e você sai da loja com a arma, ou pode comprar pela internet e a recebe pelo correio", contou.

Efetivamente, uma jornalista da AFP comprovou que é necessária apenas a cadeira de motorista. Com ela, o vendedor analisa o registro criminal do comprador e, se não aparecem crimes, a venda é fechada em um minuto.

Foi assim que Holmes obteve sua munição: quando este controle foi realizado, a única coisa que figurava em seu histórico era uma multa por excesso de velocidade.

Tom Mauser é pai de um estudante de 16 anos que morreu em Columbine e, desde então, se converteu em defensor do controle de armas.


"Nós nos ocupamos basicamente dos direitos e do castigo, mas não da prevenção", disse à AFP. "O que precisamos nos Estados Unidos é prevenção, porque quando você perde alguém o castigo não significa nada".

Em 2003, o Colorado aprovou uma lei que requer que as pessoas obtenham uma permissão para portar consigo armas ocultas. Naquele momento, calculava-se que 60 mil pessoas pediriam esta permissão.

Mas atualmente, disse McCarron, "mais de 143 mil a possuem e, após o tiroteio, este número aumentará drasticamente".

Um dos perigos citados pelos opositores das armas é que quem as porta pode exercer a lei por conta própria, como ocorreu na Flórida em fevereiro, quando o vigia comunitário George Zimmerman matou Trayvon Martin.

Mas o contra-argumento dos defensores da Segunda Emenda é que um assassino não será detido porque é mais difícil arranjar uma arma.

Assim considera o diretor da escola de Columbine, Frank De Angelis, que já ocupava este posto quando ocorreu o massacre.

Proibir a venda de armas "não evitará que os criminosos as obtenham (...) Poderemos ter leis contra elas, mas os assassinos seguirão encontrando maneiras de adquiri-las", disse à AFP.

"Os cidadãos que respeitosos das leis nos Estados Unidos compram armas legalmente e não queremos tirá-los este direito, que está em nossa Constituição", sustentou.

Acompanhe tudo sobre:ArmasBatmanMassacresMortes

Mais de Mundo

Manifestação reúne milhares em Valencia contra gestão de inundações

Biden receberá Trump na Casa Branca para iniciar transição histórica

Incêndio devastador ameaça mais de 11 mil construções na Califórnia

Justiça dos EUA acusa Irã de conspirar assassinato de Trump; Teerã rebate: 'totalmente infundado'