Nelson Mandela: a última aparição pública de Mandela ocorreu na cerimônia de encerramento da Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul. (Leon Neal/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2013 às 17h06.
Johanesburgo - O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela segue hospitalizado em estado crítico, enquanto a África do Sul teme mais que nunca por sua vida, após evaporar-se nesta segunda-feira o otimismo provocado pelos últimos comunicados positivos da família.
O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, informou ontem à noite pela primeira vez que Mandela, de 94 anos, tinha entrado em estado "crítico".
O comunicado da presidência foi divulgado depois que Zuma visitou Madiba - como Mandela é carinhosamente chamado em seu país - no hospital de Pretória no qual está internado e após se reunir com os médicos.
Em um encontro com jornalistas em Johanesburgo que levantou grande expectativa, o chefe do Estado confirmou hoje que "essa continua sendo a situação por enquanto".
"Os médicos me disseram que o estado de Madiba tinha mudado nas últimas 24 horas e que agora era crítico", lembrou Zuma em referência à situação do ex-presidente, que tinha sido qualificada até então de "grave, mas estável".
"Quando uma pessoa está em estado crítico, está em estado crítico. Não sou um médico para dizer quão crítico", acrescentou o líder.
Após uma semana de silêncio oficial, as más notícias divulgadas ontem à noite pela presidência enterraram os bons sinais sobre a evolução de Mandela transmitidos pela família durante a última semana.
Perguntado se Madiba está consciente, Zuma se limitou hoje a dizer que o ex-ativista contra o regime racista do apartheid estava "dormindo" no momento de sua visita.
Durante seu discurso, Zuma pediu mais realismo, o que contrasta com o tom esperançoso de outros comunicados oficiais desde a internação de Mandela pela recaída de uma infecção pulmonar no último dia 8 de junho.
"Todos nós devemos aceitar como país que Madiba é agora mais velho, que tem 94 anos", comentou Zuma durante um encontro com a imprensa local e internacional organizado pelo partido Congresso Nacional Africano (CNA), que um dia já foi liderado por Mandela.
As filhas de Madiba e sua ex-esposa Winnie Madikizela-Mandela voltaram a visitar hoje o herói sul-africano no hospital.
Mandela está acompanhado desde o momento da internação por sua atual esposa, a moçambicana Graça Machel, com quem Zuma também conversou ontem à noite após ver o ex-presidente.
Além disso, Madiba recebeu hoje a visita da titular da Defesa do governo sul-africano, Nosiviwe Mapisa-Nqalula, cujo departamento se encarrega da segurança e do protocolo dos ex-presidentes sul-africanos.
Enquanto isso e após vários dias de relativa calma, a presença de jornalistas voltou a aumentar na frente do hospital, onde a segurança foi reforçada após a divulgação da piora da saúde de Mandela.
O modo como as autoridades administraram a situação causou polêmica, depois que o canal americano "CBS News" publicou no sábado as primeiras notícias relevantes do caso.
Segundo a emissora, a ambulância, que no dia 8 de junho transferiu Mandela ao hospital, sofreu uma avaria durante o trajeto e o paciente teve que esperar 40 minutos até que chegasse um novo veículo.
O porta-voz da presidência sul-africana, Mac Maharaj, reconheceu o problema, mas negou que - como tinha sido especulado - a saúde de Mandela tenha ficado em risco.
Maharaj, presente no ato com a imprensa no qual participou Zuma, disse que Madiba não esperou 40 minutos, mas não informou o tempo que passou até a chegada da nova ambulância.
O porta-voz oficial desmentiu também que o ex-ativista tenha sofrido um ataque de coração durante seu transporte ao hospital, como havia informado a "CBS".
Maharaj acusou os jornalistas que divulgaram esta e outras informações sobre o estado de saúde de Mandela de pôr em perigo a cláusula de confidencialidade entre os médicos e seus pacientes e pediu "respeito" à privacidade da família.
Nelson Mandela se tornou em 1994 - um ano após ganhar o Prêmio Nobel da Paz - o primeiro presidente negro da África do Sul, após quase sete décadas de luta contra o racismo institucionalizado do apartheid.
Sua liderança da transição à democracia e seu papel para garantir a paz racial na África do Sul lhe garantiram o reconhecimento quase unânime de seus concidadãos e a admiração de todo o mundo.
A última aparição pública de Mandela ocorreu na cerimônia de encerramento da Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul.