Eric Woerth, ministro do Trabalho da França, figura chave no governo do presidente Sarkozy (.)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2010 às 15h22.
Paris - O presidente da França, Nicolas Sarkozy, sacrificou dois ministros de segundo plano para tentar preservar seu ministro do Trabalho e tesoureiro do partido no poder, Eric Woerth, vinculado à terceira maior fortuna da França e suspeito de ter acobertado fraude fiscal.
Os dois homens, suspeitos de utilização abusiva de dinheiro público, estão envolvidos numa série de assuntos que fragilizaram o presidente. Num período de crise econômica, eles chocaram os franceses, com 64% estimando que os "dirigentes políticos são os mais corrompidos", segundo pesquisa Viavoice.
A mudança de gabinete havia sido anunciada, antes, para outubro, mas, sob pressão das críticas crescentes por gastos exorbitantes em tempos de crise, os secretários de Estado para a Cooperação, Alain Joyandet, e para o Desenvolvimento da Grande Paris, Christian Blanc, deixaram suas funções.
Joyandet chegou a pagar 116.500 euros (157 mil dólares) em março pelo aluguel de um avião particular para assistir a uma conferência sobre o Haiti e também é suspeito de ter conseguido uma permissão ilegal para realizar reformas de ampliação de sua casa nas proximidades de Saint Tropez.
Christian Blanc gastou 12 mil euros (14.700 dólares) do tesouro público em charutos cubanos.
Salário duplicado para uma ex-ministra e parlamentar, moradias ocupadas por familiares ou gastos com hotéis fora do normal, foram algumas outras acusações relacionadas a ministros de Sarkozy.
A gota d'água foi a suspeita de evasão fiscal realizada pela herdeira da gigante de cosméticos L'Oréal, Liliane Bettencourt, terceira maior fortuna da França, levantada através de gravações clandestinas feitas pelo mordomo da milionária.
Nessas conversas registradas entre Bettencourt e seus assessores, falava-se de operações para sonegar impostos e dos vínculos entre a multimilionária, o ministro do Trabalho, Eric Woerth, e sua esposa Florence.
Woerth, tesoureiro do partido governante, União para um Movimento Popular (UMP, direita), e ministro do Orçamento de maio de 2007 até maio de 2010, está sendo acusado de "conflito de interesses" entre suas diversas funções. Para complicar a situação, sua esposa até alguns dias atrás administrava parte da fortuna de Bettencourt, estimada em 16 milhões de euros.
Woerth é um ministro importante de Sarkozy pois está encarregado da reforma do sistema previdenciário, uma das mais polêmicas propostas do governo. No final de junho, dois milhões de pessoas manifestaram-se contra o projeto na França convocados pelos principais sindicatos.
A reforma que aumentará de 60 a 62 anos a idade mínima legal para a aposentaria, será apresentada ao conselho de ministros no dia 13 de julho e, em setembro, deve ser aprovada pelo Parlamento.
Segundo o chefe da UMP, Xavier Bertrand, Woerth é "vítima de um esquema político" dos socialistas para "prejudicar a reforma" previdenciária que o governo está decidido a levar até o fim para salvar um sistema cujo déficit foi triplicado pela crise financeira de 2008 (a 32 milhões de euros ou 39 milhões dólares).