Eleições americanas: dívida estudantil tem obrigado os democratas, e mesmo Trump, a pensar em soluções (Jonathan Ernst/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de março de 2020 às 09h53.
Barry Dixon tem 30 anos, graduação e especialização em marketing. Como um a cada três jovens americanos nessa faixa etária, ele possui uma dívida estudantil que não sabe quando pagará. "Eles nos ensinam que, se tirarmos boas notas, teremos trabalho. Mas não dizem que você se forma com US$ 120 mil de dívida e precisa começar a ganhar dinheiro imediatamente", disse.
Dixon vive em Charlotte, na Carolina do Norte, e carrega a dívida desde 2013. Começar a carreira como iniciante não era suficiente para pagar as contas - e o empréstimo estudantil, o que o levou a adotar uma alternativa: é motorista de Uber nas horas vagas com dois pequenos caminhões de entregas. Não era isso o que imaginava como profissional quando entrou na faculdade. Agora, ele é um dos jovens que vê no senador Bernie Sanders a solução.
No duelo com Joe Biden para ser o candidato presidencial do Partido Democrata, o senador é adorado pelo eleitorado jovem, enquanto o ex-vice-presidente carrega os votos de eleitores acima de 55 anos. A diferença notada nas pesquisas é visualmente perceptível nos comícios de cada um.
Sanders não foi o primeiro a sugerir o cancelamento da dívida estudantil. A senadora Elizabeth Warren, que fez carreira como professora de direito antes de chegar ao Senado, propôs no ano passado uma fórmula para anistiar até US$ 50 mil da dívida de estudantes, dependendo da renda. A ideia beneficiaria 95% dos endividados na faculdade. Sanders apresentou uma proposta sobre o tema depois, mas foi além: quer cancelar toda a dívida de todos os estudantes.
Na manhã da Superterça, ontem, 3, J. Nicole Potts foi ao porão da igreja batista da Hoskins Avenue, em Charlotte, para votar em Sanders. Nicole vestia um moletom da Belmont Abbey College, mas o orgulho da faculdade que cursou acaba aí. "Foi o pior erro da minha vida", diz. Ela tem 48 anos e uma filha de 31, a qual criou sozinha. As duas foram contemporâneas na universidade e hoje ela tem uma dívida de US$ 80 mil para quitar.
"Eu não consigo um trabalho que pague o que preciso para quitar esse empréstimo estudantil", afirma. Nem ela nem a filha seguiram carreira no setor escolhido na faculdade. "Pagam US$ 90 a hora para uma função que exige mestrado. Como fazer? Ter diploma não basta." Nicole dá a Warren o crédito pela ideia de acabar com a dívida dos estudantes, mas acha que é Sanders que será o candidato mais competitivo contra Donald Trump.
O crescente problema da dívida estudantil tem obrigado os democratas, e mesmo Trump, a pensar em formas de resolver o problema. Cerca de 45 milhões de americanos têm dívida estudantil, que chega a US$ 1,6 trilhão (R$ 7,2 trilhões). A maioria (70%) dos estudantes recorre a empréstimos para bancar os estudos universitários, mas não consegue pagar depois com o acúmulo dos juros.
"Estou cansado de votar apenas porque tenho direito de votar. Eu quero saber o que vou conseguir com o meu voto e, por isso, votaria no Bernie, porque ele é o candidato que promete resolver as dívidas estudantis", afirma Dixon.
Se o candidato democrata for qualquer outro, que não o senador, Dixon não pretende votar em novembro. No entanto, o apoio dos estudantes não poupa Sanders de ser alvo de críticas pelo plano, o mais custoso de todos os candidatos.
A taxa para estudar em universidades americanas varia de acordo com a instituição de ensino e com o curso. Na Belmont Abbey College, faculdade católica da Carolina do Norte, a graduação custa US$ 32 mil por ano. Um mestrado em instituições de ensino de elite, como Harvard, passa de US$ 50 mil por ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.