Nova premiê do Japão, Sanae Takaichi (Jia Haocheng/AFP)
Repórter
Publicado em 21 de outubro de 2025 às 18h12.
Última atualização em 21 de outubro de 2025 às 18h13.
Sanae Takaichi, de 64 anos, que acaba de ser eleita premiê do Japão, e é a primeira mulher a ocupar o cargo, pelo Partido Liberal Democrata japonês LDP.
Conservadora e de direita, sua vitória histórica pode significar uma guinada para o conservadorismo no Japão.
Sua campanha girou em torno de pautas conservadoras, como o aumento no investimento em defesa, aproximação com Donald Trump e medidas mais severas para a imigração.
Todavia, enfrentou grandes dificuldades para se eleger, principalmente após a ruptura da aliança com o partido Komeito, o que resultou no enfraquecimento de um LDP já fragmentado.
Ela foi capaz de salvar sua candidatura por meio de uma aliança de última hora com o Partido da Inovação do Japão Nippon Ishin, de centro-direita.
Ainda assim, a baterista e fã de Heavy Metal terá muitos desafios pela frente, como conciliar os problemas demográficos do Japão com políticas severas de imigração e sua relação com Donald Trump e com a China.
Ex-baterista de uma banda de heavy metal, Sanae Takaichi foi designada em 4 de outubro a líder do LDP, que governa o Japão de maneira quase ininterrupta há décadas, mas que registra uma queda constante de popularidade.
Seis dias depois, o LDP perdeu seu aliado na coalizão de governo, o partido minoritário Komeito, que discorda das posições conservadoras de Takaichi e critica um escândalo de financiamento do LDP.
O Komeito, há muito, servia de freio às políticas mais conservadoras do partido, mas as diferenças ideológicas entre o partido e Takaichi, ilustradas por suas constantes visitas ao controverso santuário de Yasukuni, se revelaram insustentáveis para o partido minoritário.
Uma aliança de última hora com o Nippon Ishin, que ofereceu apoio em troca de maior representatividade de suas pautas, salvou sua nomeação.
Com extensa carreira política e tendo sido discípula de Abe Shinzo, Takaichi fez seu nome em um parlamento patriarcal ao apoiar causas conservadoras.
Em sua campanha, um tema central foi o controle de imigração, para o qual propôs a criação de um “centro de comando” para o tema.
Raramente sob os holofotes, a pauta da imigração surge conforme o LDP perde grande parte de sua base conservadora para o novo partido de extrema-direita Sanseito, sob o slogan “Japan First” (Japão em primeiro lugar, em alusão ao de Donald Trump “America First”).
Além disso, foca em investimentos pesados no Japão para estimular a economia. A líder assumiu o compromisso de "fortalecer a economia japonesa e reorganizar o Japão como um país capaz de ser responsável com as gerações futuras".
Todavia, essas pautas terão como desafios os problemas demográficos no Japão, que tem uma população envelhecida e, portanto, uma força de trabalho reduzida, frequentemente suplementada por imigrantes.
Durante sua campanha, ela também prometeu “níveis nórdicos” de mulheres no parlamento, mas nomeou apenas duas ministras entre 19 possíveis, assim como o seu antecessor.
As ministras são a ultraconservadora Satsuki Katayama, que assume a pasta das Finanças, e Kimi Onoda, titular da Segurança Econômica.
O Japão ocupou a posição 118 entre 148 países no Relatório Global de Disparidade de Gênero de 2025 do Fórum Econômico Mundial.
Entre os outros desafios que aguardam Takaichi, estão os detalhes do acordo comercial entre Washington e Tóquio. Em meio à guerra tarifária, Trump deseja que o Japão pare de importar energia da Rússia e aumente os gastos com defesa.
Por mais que deseje se aproximar de Trump, e que os dois líderes se entendam em certas pautas, como um distanciamento da China e aumento nos gastos em defesa, a relação comercial com Washington pode ser complexa.
No centro dessa dinâmica está um acordo de investimento bilionário, no qual o Japão prometeu investir US$ 500 bilhões nos EUA, em setores como semicondutores, energia e farmacêuticos. Em troca, as tarifas de Trump sobre automóveis japoneses permanecerão em 15%.
Takaichi poderá se encontrar com Trump nos primeiros dias de seu mandato, pois ele irá para a Cúpula da Asean, que começa no domingo, dia 26.
Sobre a China, ela já declarou que Pequim "menospreza completamente o Japão" e que Tóquio deve "abordar a ameaça à segurança" representada pelos chineses.
Ela chegou a dizer que imigrantes chineses no Japão “têm o dever de espionar para a China”.
Todavia, analistas esperam que passe a adotar uma posição mais suave. Na semana passada, por exemplo, não compareceu a uma cerimônia no santuário de Yasukuni — que visitava regularmente — em homenagem às pessoas mortas nas guerras do Japão, um símbolo para os países vizinhos do passado imperialista japonês.
Com AFP.