Venezuela: pesquisas apontavam a MUD como favorita em até 18 estados (Ricardo Moraes/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de outubro de 2017 às 11h22.
Última atualização em 16 de outubro de 2017 às 11h22.
A vitória do governo nas eleições regionais da Venezuela - não reconhecida pela oposição - afastou as chances de uma saída rápida da profunda crise política e econômica do país - opinaram nesta segunda-feira (16) analistas ouvidos pela AFP.
O presidente Nicolás Maduro proclamou a "vitória clara" de seu partido no pleito de domingo, com 17 estados, contra os cinco atribuídos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) à oposição, do total de 23. Um deles ainda está em disputa.
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), que acusa o CNE de servir ao governo, não reconheceu os resultados e pediu uma "auditoria total" do processo.
O governo estava à frente de 20 estados. Embora tenha perdido três, considera o resultado bem-sucedido. Todas as pesquisas apontavam a MUD como favorita em até 18 estados, em caso de participação eleitoral como a de domingo, que chegou a 61%.
"Os resultados são absolutamente inconsistentes com todas as pesquisas que mostravam um chavismo em franca minoria", disse à AFP o cientista político Edgard Gutiérrez, diretor da empresa Venebarómetro.
Realizada com um ano de atraso, a eleição aconteceu depois de dois meses de trégua após as marchas convocadas pela MUD para exigir a saída de Maduro. Esses eventos deixaram mais de 125 mortos entre abril e julho.
A eleição também era vista como uma oportunidade para a MUD mostrar sua força, nesse momento de incipientes aproximações para um diálogo com mediação internacional.
"Agora, a via de negociação política entre governo e oposição para resgatar equilíbrios se rompe desastrosamente", opinou o analista Luis Vicente León.
"Diálogo não acredito. Entramos em uma situação muito delicada, o que se prevê é mais confrontação", disse à AFP o cientista político Luis Salamanca.
León antecipa uma maior radicalização política do governo "para se proteger", mas também podem se fortalecer os mais radicais da oposição - aqueles que se recusaram a ir votar, preferindo continuar nas ruas.
"O chavismo está vivo, está na rua e está triunfante", festejou Maduro, já pensando na eleição presidencial do fim de 2018.
A frustração e as divisões dificultam a consolidação da oposição, avalia o analista Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit (Londres).
"É fundamental acompanhar como ficarão os seguidores da MUD, e se seus dirigentes conseguirão ficar unidos, ou se será cada um no seu quadrado", completou.
"A opção de diálogo e a saída eleitoral estão cada vez mais distantes e, de novo, o protesto de rua e a comunidade internacional vão marcar a pauta", comentou.
Maduro foi acusado por seus adversários e por alguns países de ter instaurado uma "ditadura" na Venezuela, agora com o apoio de uma Assembleia Nacional Constituinte, totalmente oficialista, eleita em 30 de julho passado.
Buscando legitimidade nacional e internacional, ele transformou essas eleições em uma validação de sua Constituinte, desconhecida pela MUD e por países da América e da Europa por considerá-la "fraudulenta" e "ilegal".
Com a instalação desse órgão em agosto, previsto para permanecer em vigor até 2019, os Estados Unidos impuseram sanções econômicas à Venezuela, após sancionarem vários funcionários do governo, incluindo Maduro.
"Sem sombra de dúvida, isso vai levar a mais sanções no curto prazo por parte da União Europeia e, sem dúvida, a um maior isolamento. Claramente, vai depender mais de China e Rússia", disse Moya-Ocampos.
Hoje, a China destacou que o processo eleitoral foi "muito tranquilo" e afirmou que Pequim não interfere nos assuntos internos da Venezuela.
"Acreditamos que o governo desse país seja capaz de administrar adequadamente seus assuntos internos no âmbito da lei e manter a estabilidade e a prosperidade", declarou à imprensa o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Lu Kang.
Recentemente, Maduro se reuniu em Moscou com o presidente Vladimir Putin para tentar renegociar a dívida venezuelana.
Para diferentes analistas ouvidos pela AFP, a solução para a crise está não apenas mais distante, como o país tende a entrar em "um beco sem saída", resumiu Salamanca.
"Os riscos de conflito e de sanções transformam a Venezuela em um país desfavorável para os investidores", comentou León, economista e presidente da Datanálisis.
"A desconfiança em relação ao resgate de equilíbrios econômicos e ao isolamento nos leva a esperar um cenário de maior primitivização", acrescentou.