Trump anunciará em 12 de maio se os EUA deixarão o acordo e se vão restaurar o regime de sanções contra a República Islâmica (Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 14 de março de 2018 às 13h22.
Última atualização em 14 de março de 2018 às 13h26.
A demissão de Rex Tillerson, nesta terça-feira (13), pode significar a sentença de morte do acordo nuclear do Irã e até tensionar ainda mais as já difíceis relações entre os Estados Unidos e seus aliados europeus, partidários de salvar o histórico pacto.
Para justificar a mudança na diplomacia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recorreu a uma divergência com seu secretário de Estado: "Eu achava que o acordo com o Irã era terrível, ele achava que estava bem".
"Trabalhamos com nossos aliados e sócios para bloquear o caminho do Irã para as armas atômicas e lutamos contra seu apoio ao terrorismo", disse Trump mais tarde.
"Onde quer que a gente vá no Oriente Médio, nos dizem Irã, Irã, Irã", completou.
Trump anunciará em 12 de maio se - como insinuou repetidas vezes - os Estados Unidos deixarão o acordo e se vão restaurar o regime de sanções contra a República Islâmica.
O acordo foi firmado em julho de 2015 entre o Irã e as grandes potências (P5+1): Estados Unidos, China, França, Rússia e Reino Unido, além de Alemanha. O texto estipula a paralisação do programa nuclear de Teerã e inspeções internacionais em várias instalações em troca da suspensão das sanções econômicas que asfixiavam o país.
Os demais signatários veem o texto como uma vitória histórica para a não-proliferação de armas nucleares, após uma década de tensão. O Irã garante que nunca tentou se dotar desse tipo de armamento, mas adverte que o país pode retomar rapidamente o enriquecimento de urânio, se o acordo cair por terra.
O presidente dos Estados Unidos lançou um ultimato a seus aliados europeus para que cheguem a um acordo com o Irã que "remedie as terríveis lacunas" do texto. Entre elas, Trump pede mais inspeções.
Apoiado pelo secretário da Defesa, Jim Mattis, Tillerson e sua equipe pediram a Trump que ouvisse os europeus, que tentam preservar o acordo, enquanto o reforçam.
Depois do anúncio de que o diretor da CIA, Mike Pompeo, foi o escolhido para assumir o Departamento de Estado, um falcão no tema iraniano, fica claro qual caminho o presidente Trump pretende seguir daqui por diante.
Esse caminho pode ter consequências "catastróficas" para a segurança nacional, adverte o centro Diplomacy Works, fundado por assessores de John Kerry, ex-secretário de Estado no governo Barack Obama, que negociou e firmou o acordo de 2015.
"Ainda que Tillerson não fosse um aberto partidário do acordo nuclear", seu sucessor "certamente aconselha o presidente a retirar os Estados Unidos de suas obrigações (...) o que pode mergulhar nosso país em uma nova guerra na região", adverte o Diplomacy Works.
Mark Dubowitz, da conservadora Foundation for Defense of Democracies (FDD), que raramente converge com os diplomatas da era Obama, concorda desta vez: a chegada de Pompeo é um mau presságio para a sobrevivência do acordo.
"Para os europeus (e para os americanos) que pensam que Trump realmente não está falando sério sobre abandonar (o acordo) em 12 de maio, caso não se alcance um acordo para melhorá-lo, aqui está a primeira prova: o próximo secretário de Estado, Mike Pompeo", tuitou.
Antes da cerimônia de confirmação de Pompeo no cargo no Senado, que será em abril, a diplomacia continuará funcionando.
O diretor de Estratégia de Tillerson, Brian Hook, reúne-se amanhã com funcionários franceses, britânicos e alemães em Berlim para analisar as mudanças do texto original, disseram fontes do Departamento de Estado à AFP.
Podem-se incluir restrições ao programa balístico iraniano, assim como o fim das restrições temporárias. Os representantes europeus preferem esses "suplementos" ao texto, desde que a alma do acordo permaneça intacta. Ainda assim, Teerã e Washington teriam de aceitar as novas cláusulas.
O presidente americano rejeita "mudanças cosméticas" e quer uma redação nova do texto, relatam fontes do governo. Isso significaria, de fato, o fim do acordo.