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Rússia reconhece que fim de Maduro pode estar próximo na Venezuela

Kremlin ficou alerta após países europeus reconhecerem Juan Guaidó como presidente após Maduro se recusar a convocar novas eleições

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (E), se encontra com o presidente russo, Vladimir Putin (Pavel Golovkin/Reuters)

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (E), se encontra com o presidente russo, Vladimir Putin (Pavel Golovkin/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 10 de fevereiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2019 às 06h00.

Depois de prometer total apoio ao regime de Nicolás Maduro, a Rússia dá sinais de duvidar da capacidade do presidente venezuelano de sobreviver à oposição.

Mesmo que não tenha desistido da defesa explícita de Maduro, Moscou reconhece que o estado desastroso da economia está acabando com o que lhe resta de apoio popular, segundo duas pessoas próximas ao Kremlin. Além disso, o fato de o exército relutar em atacar seus próprios cidadãos limita a capacidade de Maduro de usar força para que a oposição pare de desafiá-lo, informaram as fontes, que pediram anonimato porque o tema é delicado.

“Infelizmente, o tempo não está ao lado de Maduro’’, disse Vladimir Dzhabarov, vice-presidente do comitê de assuntos internacionais da câmara superior do parlamento russo. “Em uma situação de agravamento da crise econômica, o sentimento da sociedade pode rapidamente se virar contra ele.’’

Autoridades russas continuam desconfiadas dos opositores de Maduro que têm retaguarda dos EUA, mas estão cientes que há poucas opções para salvar um aliado com problemas financeiro graves demais para resgate pelo Kremlin e longe demais para receber ajuda de suas forças militares.

Junto com a China, a Rússia tem sido grande defensora de Maduro. Os laços se firmaram em 1999, quando Hugo Chávez chegou ao poder. A Rússia ofereceu bilhões de dólares em empréstimos e investimentos, sendo a maior parte pela petrolífera estatal Rosneft PJSC.

O país agora tenta proteger seus interesses enquanto o presidente americano, Donald Trump, intensifica esforços para derrubar o líder venezuelano, impondo sanções econômicas. Apesar do apoio histórico, Moscou descartou a possibilidade de injetar mais dinheiro em um aliado que já precisou reestruturar dívidas passadas.

O Kremlin ficou mais alerta após países europeus reconhecerem o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como presidente após Maduro se recusar a convocar novas eleições. Além disso, um general da Aeronáutica declarou apoio à oposição e Maduro fracassou na tentativa de retirar 20 toneladas de ouro do país para levantar recursos.

Silêncio de Putin

Embora representantes menos graduados do governo russo tenham expressado apoio a Maduro, desde que a crise foi deflagrada, o presidente Vladimir Putin não fez declaração púbica de apoio a ele a não ser um telefonema, em 24 de janeiro.

A Venezuela tem importância estratégica limitada para a Rússia, mas carrega importância simbólica por demonstrar o alcance de Putin em uma região considerada quintal de Washington. A Rússia não tem capacidade de enviar forças, como fez na Síria para apoiar Bashar al-Assad, e se limita a cenas de propaganda, como a visita em dezembro de dois jatos capazes de transportar armamentos nucleares.

A única saída para a crise é a negociação entre governo e oposição na Venezuela “ou simplesmente haverá o tipo de mudança de regime na qual o Ocidente se engajou diversas vezes”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, na terça-feira.

Publicamente, autoridades russas descartaram negociar com a oposição, mas analistas acham que estão ocorrendo conversas nos bastidores.“Hoje Maduro está no controle do país, mas a cada dia que passa ele tem menos vantagens e sua legitimidade está sendo contestada’’, disse Dmitry Rozental, especialista em Venezuela do Instituto de Estudos Latino-Americanos em Moscou, que é bancado pelo governo. “Suas chances de manter o poder estão diminuindo.”

Guaidó abordou China e, em entrevista à Bloomberg News, prometeu cumprir acordos assinados sob leis aprovadas pela Assembleia Nacional, que teve seus poderes retirados por Maduro em 2017. Ele disse na semana passada que um governo democrático seria melhor para proteger investimentos russos e chineses na Venezuela.

Integrantes de uma missão enviada pela Rússia a Caracas antes da crise política, em novembro, ficaram chocados com a pobreza da população, de acordo com um deles.

A exportação de petróleo pela Venezuela já está no menor nível em 28 anos e deve recuar ainda mais com as sanções dos EUA às vendas de petróleo pela PDVSA. Na opinião do professor Andres Landabaso Angulo, da Universidade de Economia Plekhanov, em Moscou, a Rússia sabe que a culpa é da má gestão da produção petrolífera da Venezuela — país que tem a maior reserva comprovada de petróleo do mundo.

Os EUA e aliados estão determinados a derrubar Maduro, mas a Rússia não pode correr risco de se envolver em confronto no quintal de Washington, avalia Ivan Konovalov, diretor do Centro de Estudos de Tendências Estratégicas, em Moscou. “No fim das contas, Guaidó não será uma tragédia para a Rússia.”

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