Agência de notícias
Publicado em 24 de maio de 2025 às 09h30.
Rússia e Ucrânia protagonizaram trocas de ataques aéreos em larga escala na madrugada deste sábado, com o lançamento de centenas de drones em ofensivas que duraram horas. Os ataques ocorreram enquanto ambos os lados realizavam a maior troca de prisioneiros desde o início da guerra — um lembrete de que, apesar dos esforços em curso para reduzir as tensões, uma solução ainda parece distante.
Pelo menos 13 ucranianos foram mortos na ofensiva. Horas depois, a segunda fase da troca de prisioneiros foi realizada, com mais 307 detidos de cada lado sendo entregues.
O ataque russo à Ucrânia foi particularmente significativo, com 250 drones Shahed de longo alcance e 14 mísseis balísticos tendo Kiev como principal alvo. A Força Aérea Ucraniana disse ter interceptado seis mísseis e quase todos os drones, mas pelo menos 18 pessoas ficaram feridas na capital, com destroços caindo sobre prédios residenciais e provocando incêndios após uma ofensiva que durou cerca de sete horas.
O chefe da administração militar de Kiev classificou o ataque aéreo como o “mais massivo” que a capital enfrentou até agora na guerra. Moradores da região foram despertados com o barulho das baterias antiaéreas tentando abater os mísseis e drones. O céu noturno foi iluminado por rastros brilhantes dos mísseis defensivos e traçantes vermelhos de metralhadoras pesadas. As explosões dispararam alarmes de carros, somando-se à cacofonia de tiros e ao zumbido dos drones de ataque.
“Foi uma noite difícil para toda a Ucrânia. A cada ataque como este, o mundo se convence mais de que a responsabilidade pela continuação da guerra está em Moscou”, disse o presidente Volodymyr Zelensky na manhã deste sábado, 24, acrescentando que a Rússia tem “ignorado repetidamente as ofertas da Ucrânia por um cessar-fogo temporário”.
O Ministério da Defesa russo afirmou que suas forças miraram uma empresa ucraniana produtora de mísseis e drones, um centro de reconhecimento militar e a posição de um sistema antimísseis Patriot, de fabricação norte-americana.
A Rússia ainda alegou ter tomado o controle da vila de Loknya, na região de Sumy, próxima à fronteira entre os dois países. As regiões de Odessa, Vinnytsia, Sumy, Kharkiv, Donetsk e Dnipro também foram atacadas.
Os ataques aéreos ocorreram horas depois de Rússia e Ucrânia iniciarem a troca de soldados e civis na primeira fase do acordo firmado na semana passada, em encontro realizado em Istambul.
Na sexta, 390 pessoas foram trocadas de cada lado, e a expectativa é que o total chegue mil prisioneiros de cada país, marcando a maior troca desde fevereiro de 2022. Os militares russos estão recebendo assistência inicial em Belarus e serão encaminhados para a Rússia para tratamento e reabilitação.
A reunião da semana passada em Istambul marcou o primeiro diálogo direto entre as partes em guerra em mais de três anos, e a troca de prisioneiros é, até agora, o principal resultado tangível do encontro.
Zelensky se ofereceu para viajar à Turquia para as conversas e desafiou o presidente russo, Vladimir Putin, a encontrá-lo ali para discutir um cessar-fogo. Putin, que nunca deu sinais de que participaria pessoalmente das negociações, enviou uma delegação de baixo escalão, liderada pelo assessor presidencial Vladimir Medinsky.
“Já se passou uma semana desde o encontro de Istambul, e a Rússia ainda não enviou seu ‘memorando de paz’. Em vez disso, envia drones e mísseis letais contra civis”, criticou o vice-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, em publicação no X.
Separadamente, neste sábado, a Rússia disse ter repelido 94 drones ucranianos durante a noite, em várias regiões do centro do país. A cidade de Yelets, na região de Lipetsk (próxima à fronteira com a Ucrânia), foi alvo pelo segundo dia consecutivo, inclusive em uma zona industrial, segundo o governador local. Na sexta-feira, a Ucrânia afirmou ter atingido instalações de uma empresa em Yelets que fabrica baterias usadas para alimentar mísseis russos.
Os ataques indicam um ciclo crescente de ofensivas aéreas. Ambos os lados aumentaram significativamente a produção de drones e agora são capazes de lançar centenas deles em uma única noite — algo impensável no primeiro ano da guerra. Eles também seguem aprimorando suas capacidades, ampliando alcance e carga explosiva. Ataques com enxames de drones geralmente são planejados para sobrecarregar as defesas aéreas do inimigo, abrindo caminho para ofensivas bem-sucedidas.
Poucos em Kiev acreditam que a Rússia esteja disposta a encerrar a guerra. As forças russas retomaram operações ofensivas no leste da Ucrânia, avançando por uma importante rodovia que conecta cidades ucranianas sob controle e que sustentam as defesas da região.
E, durante as negociações da semana passada na Turquia, insistiu que qualquer cessar-fogo só poderia começar com a retirada das forças ucranianas dos territórios que ainda controlam — algo inaceitável para os ucranianos.
Embora não seja possível afirmar com precisão todos os armamentos utilizados por Kiev, analistas já identificaram veículos de infantaria blindados Bradley, dos Estados Unidos, e Marder, da Alemanha; países apoiaram incursão ucraniana no território russo.
Após uma ligação telefônica com Putin, Trump afirmou no início da semana que Moscou e Kiev começariam “imediatamente” a negociar um cessar-fogo e o fim da guerra. Desde então, Zelensky acusou seu homólogo russo de “tentar ganhar tempo” para continuar a guerra. O Kremlin tem resistido a uma paralisação temporária das hostilidades, e Putin afirmou que qualquer trégua deveria vir acompanhada da suspensão do envio de armas ocidentais à Ucrânia.
Putin há muito exige, como condição-chave para um acordo de paz, que a Ucrânia retire suas tropas das quatro regiões que a Rússia anexou em setembro de 2022, mas que nunca controlou totalmente.
Zelensky, por outro lado, alertou que, se a Rússia continuar rejeitando um cessar-fogo e apresentando o que chamou de “exigências irreais”, isso sinalizará uma tentativa deliberada de prolongar a guerra — algo que, segundo ele, deveria levar a sanções internacionais mais severas.