Russia: série de ataques aéreos russos se intensifica pouco depois de seu presidente reeleito, Vladimir Putin, prometer retaliação às ofensivas ucranianas (Sergey Bobok/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 22 de março de 2024 às 09h36.
A Rússia lançou cerca de 150 mísseis e drones contra a Ucrânia, nesta sexta-feira, no segundo dia consecutivo de ataques aéreos em larga escala contra o território inimigo.
A ação, que deixou ao menos dois mortos e mais de uma dezena de feridos, ocorre no momento em que Kiev pressiona seus aliados por mais equipamentos de defesa antiaérea, e no mesmo dia em que a Moscou denunciou a participação do Ocidente como responsável por tornar o que era um conflito limitado em uma guerra.
De acordo com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, mais de 60 drones Shahed, de fabricação iraniana, e quase 90 mísseis de diversos tipos foram disparados durante a noite pela Rússia, contra uma série de cidades ucranianas. O balanço do Ministério do Interior ucraniano aponta que ao menos duas pessoas morreram e 14 ficaram feridas. Há três desaparecidos.
Os bombardeios atingiram a região de Kharkiv, incluindo a capital da província do nordeste, Zaporijia, no sul, Sumy, na região norte, Poltava e Dnipro, no centro, Odessa, no sul, Khmelnytsky, Vinnytsia e a região de Frankivsk, no oeste. Ontem, um ataque também massivo, mas de menor dimensão, mirou Kiev e suas imediações.
De acordo com as Forças Armadas da Ucrânia, a defesa antiaérea derrubou 55 drones Shahed, dos 63 lançados, e 37 mísseis dos 88. A taxa de interceptações é menor do que a do dia anterior, quando os militares disseram ter impedido a detonação de 31 mísseis.
O impacto dos projéteis também causou danos às linhas de energia elétrica que abastecem a central nuclear ucraniana de Zaporíjia, ocupada por Moscou, segundo o ministro ucraniano da Energia, Guerman Galushchenko. Ele classificou o bombardeio como "o maior ataque contra a indústria energética ucraniana dos últimos tempos".
A série de ataques aéreos russos se intensifica pouco depois de seu presidente reeleito, Vladimir Putin, prometer retaliação às ofensivas ucranianas contra territórios fronteiriços, principalmente Belgorod, onde forças russas pró-Ucrânia realizam ataques e ações de sabotagem.
Uma dessas ações, nesta sexta, provocou a morte de uma mulher e deixou vários feridos na região, segundo o governador de Belgorod, Vyacheslav Gladkov. O Ministério da Defesa afirmou que destruiu oito foguetes que sobrevoavam a área, disparados a partir da Ucrânia.
Em meio às disputas no campo de batalha, as autoridades russas também voltam a atenção para a frente política do conflito. Enquanto membros da União Europeia decidem como utilizar ativos russos congelados em contas no exterior para financiar a Ucrânia, o Kremlin voltou a acusar os ocidentais de escalarem a situação no Leste Europeu.
— Estamos em estado de guerra. Sim, isto começou como uma operação militar especial, mas quando se formou este bando, quando o Ocidente participou em tudo isto ao lado da Ucrânia, para nós, tornou-se uma guerra — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em entrevista a um canal de mídia pró-governo. — Estou convencido disso e cada um deve compreender isto para uma mobilização pessoal.
O uso do termo guerra não é inédito. Ainda em 2022, Putin referiu-se ao conflito, publicamente, usando a terminologia, assim como vários funcionários de alto escalão — mas a maioria em referência ao que consideram a guerra que o Ocidente trava contra a Rússia ao apoiar a Ucrânia.
"Isto não é novo: a ideia de que a operação militar especial é apenas uma frente, embora a mais sangrenta, em uma guerra político-econômico-cultural mais ampla com o Ocidente, foi estabelecida há muito tempo, inclusive por Putin no seu discurso sobre o estado da federação no mês passado, em que usou o termo guerra mundial", escreveu o analista de política russa Mark Galeotti. "A 'mobilização pessoal' é na verdade o elemento chave: a exigência do Kremlin de que todos os russos adotem uma mentalidade de tempo de guerra e percebam que agora não existe meio termo entre ser um patriota e um traidor (como Putin os define).
Nos últimos dois anos, o Kremlin reprimiu o uso da palavra "guerra", impondo multa e pena de prisão. O governo russo impôs o eufemismo oficial "operação militar especial", utilizado na maioria dos comunicados e pronunciamentos públicos. Questionado sobre o destino das pessoas condenadas pelo uso da palavra "guerra", Peskov deu a entender que o uso do termo com a intenção de criticar a Rússia continuará proibido.
— A palavra guerra é utilizada em diferentes contextos. Comparem o meu contexto com os casos citados destas pessoas — disse o porta-voz